DEVOCIONAL - T1 | E2

VENHA, VAMOS CONVERSAR!

Venha, vamos conversar…! (Is. 1:18) Esse é, na minha opinião, um dos convites mais interessantes da bíblia, e o que o torna especial é justamente quem está falando, e isso não apenas do ponto de vista de ser o próprio Deus quem fala, mas das circunstâncias em que o convite é feito e quem é o seu destinatário.

Como vimos ontem, o povo de Israel, no exercício de seu comportamento hipócrita, estava se afastando cada vez mais do Eterno. Ainda que estivessem cumprindo a agenda religiosa, com sacrifícios, ajuntamentos solenes e festas de gratidão, não tinham o coração voltado para o Senhor. Suas decisões e atitudes estavam muito distantes do que havia sido planejado por Deus, e se a intenção era aplacar a ira do Criador, os primeiros versos do capítulo 1 deixam claro que a estratégia estava muito longe de alcançar tal objetivo.

Outro dia ouvi alguém falando sobre responsabilidade, e como já era de se esperar, disse que todas as decisões da nossa vida terão suas consequências apresentadas no tempo certo – para todos nós. Falava de respeito, altruísmo e cuidado. Deixou claro, para os pais presentes, que cada ato praticado, cada movimento executado, cada palavra proferida, diante dos filhos, poderia estar sendo registrada e que mais tarde também interfeririam nas decisões dos filhos. Usou, como ilustração, uma expressão que me acompanha desde então: “Decidir é como comprar no cartão de crédito. Pode parecer fácil, mas precisa ser responsável, porque um dia a fatura chega!”

A “fatura” parece ter chegado à caixa postal de Israel. Isaías é convidado a abrir o envelope que contém a descrição dos gastos durante período em questão. O profeta vai logo para o valor indicado no total da fatura: “ Criei filhos e os fiz crescer, mas eles se revoltaram contra mim. (…) São descendência  de malfeitores, filhos que praticam o mal” (Is. 1:2 e 4). Israel parece não entender o que está acontecendo. A conta não bate com suas melhores lembranças. Deve haver algum engano. Não se lembra de ter um débito tão alto. Isaías vai então para a descrição do que está sendo cobrado e o povo descobre que Deus desmascarara sua hipocrisia. “Suas festas me aborrecem”, diz o Senhor, e “me nego a ouvir as suas orações, porque as suas mãos estão sujas de sangue”.

Agora, espera-se que Israel esteja plenamente consciente de seus atos dissimulados e da farsa de seu comportamento. A esperança é que se dê conta de que não há como pagar, por seus próprios meios, a “fatura” que acaba de chegar. A expectativa do Céu é que Seus filhos reconheçam a necessidade de realinhar o plano e buscar seguir o caminho que os levará de volta ao Criador. “Embora seus pecados sejam como escarlate, eu os tornarei brancos como a neve”, diz o Senhor, “embora sejam vermelhos como o carmesim, eu os tornarei brancos como a lã”! (Is. 1:18) Mas como isso poderia ser possível? Ninguém faria nada parecido com isso. Então a Graça se apresenta, outra vez e como sempre: surpreendente!

O Criador toma a iniciativa e propõe um diálogo aberto, honesto e sincero. Permite-se sentar numa mesa para uma “reunião conciliadora”. Ainda que não esteja disposto a negociar com o pecado, coisa que nunca fez e nunca fará,  decide continuar  tratando o pecador com o carinho de sempre. “Venham, vamos resolver esse assunto!” (Is 1:18). Vamos arrazoar e ver a que conclusão podemos chegar. Sentem-se aqui. Vamos analisar a descrição da “fatura” para que não haja dúvidas do que está sendo cobrado. Depois, vamos finalmente encontrar um caminho para liquidá-la. Vocês sabiam dos riscos que decidiram correr, sabiam das consequências associadas às decisões que tomaram, e mesmo assim preferiram o comportamento inadequado, fingindo ser o que a verdade revelou que não eram.

Assim é, e sempre será com a Graça. Ela se manifesta não para simplesmente anular as consequências do mal que cometemos, mas para nos fazer enxergar a necessidade da mudança de comportamento. Quando colocada à nossa disposição, pela misericórdia do Senhor, não nos autoriza simplesmente a continuar agindo de maneira irresponsável e imatura. A Graça chama a nossa atenção para a necessidade de amadurecer, de deixar de agir como crianças inconsequentes e birrentas, que manifestam os sintomas de um coração egoísta e orgulhoso. A Graça manifesta-se para mostrar que a mudança que Deus deseja ver em seus filhos requer a participação do elemento humano no diagnóstico  de sua verdadeira condição, e o convite para discutir a questão é também, e principalmente, oferecido ao pior dos pecadores.

Até onde Deus estaria disposto a ir para salvar os pecadores? Não temos a menor condição de medir. Quanto espaço ocupamos em seu coração? Nunca saberemos ao certo! No entanto, o que sabemos, e o que já foi revelado, é mais  que suficiente para entendermos que Ele está com saudades de nós. É suficiente para nos tornar conscientes de seu amor e seu desejo de nos ver felizes. É suficiente para nos fazer entender que o convite para assentarmos à mesa nunca será para nos fazer sentir ainda piores, mas parafazer-nos  levantar a cabeça e saber que Ele mesmo nos acompanhará no processo de “recuperação do crédito”.

Porque decidi continuar acreditando nas ações da Graça Surpreendente, minha oração, hoje, será: Senhor, entre as maiores bençãos que tenho recebido de Tuas mãos está a benção do perdão. Muito obrigado por me lembrar que estás sempre disposto a me perdoar. Dá-me um coração humilde e disposto a confessar, com sinceridade, os erros cometidos. Dá-me a habilidade de oferecer perdão àqueles, que porventura, me causarem algum dano. Mais uma vez, muito obrigado por não se limitar às minhas limitações e acreditar nas possibilidades da minha vida em comunhão contigo. Amém!

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Quem Escreve:

Marcílio Egídio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.