DEVOCIONAL - T2 | E28

SPOILER DA VIDA?

 

“Só eu posso lhes anunciar, desde já, o que acontecerá no futuro. Todos os meus planos se cumprirão, pois faço tudo que desejo.” Isaías 46:10

Me casei muito cedo, e não me arrependo de ter tomado essa decisão. Na verdade, tenho sempre a impressão de que foi uma das melhores decisões que tomei na vida. Através desta união, Deus me presenteou com dois filhos únicos,  como costumamos dizer aqui em casa, por causa do intervalo de tempo entre o nascimento dos dois. 

O primeiro nasceu quando ainda vivíamos, Marlúcia e eu, as novidades da nossa vida a dois. Estávamos no segundo ano de casamento quando o Marcel chegou para mudar encher nossa casa de alegria. Dez anos depois chega nossa princesa e o que já estava bom ficou muito melhor. Não sei se você já me ouviu dizendo isso em algum lugar, mas meus filhos são uma parte muito significativa do que tenho de melhor nesse mundo. Eles são, com toda certeza, uma maneira muito especial que Deus encontrou de declarar Seu amor por mim, e creio que nunca será demais repetir esta certeza.

 

É claro que são únicos e exclusivos. Não apenas porque nasceram em momentos diferentes da nossa história familiar ou em contextos sociais nada parecidos, mas porque Deus os fez assim. No entanto, há algo em comum a toda criança que pode ser notado também nas nossas: há uma fase na vida em que eles perguntam demais. Aliás querem saber de tudo e fazem perguntas, às vezes, até muito difíceis de serem respondidas. Sua curiosidade e desejo de compreender o mundo e o contexto em que vivem, desperta em cada uma delas essa habilidade de fazer algo bem próximo a 53.412 perguntas por segundo – ao menos era assim que me parecia!

Mas há algumas questões que nos acompanham mesmo durante a vida adulta. Estas questões relacionadas à nossa vida com relação a Deus e ao sobrenatural, por exemplo. Queremos descobrir sempre mais do que ainda é desconhecido, não apenas no campo da curiosidade mas também pela necessidade de dar um certo sentido à vida. Quando somos pequenos, muitas vezes queremos saber de onde veio Deus, quem o criou e onde ele está. Buscamos entender a razão das coisas serem como são, como seriam se alguém, em algum lugar, decidisse fazer diferente. O tempo vai passando e a gente vai descobrindo na Bíblia uma porção de respostas a essas mesmas perguntas, mas há uma que sempre volta a nos incomodar:  Se Deus sabe de tudo, se sabe o final antes do começo, e sendo Ele bom, como dizemos que é, por que alguém como Luiz passou tanto tempo sofrendo com uma enfermidade que não lhe permitiu andar durante anos da sua vida?

O verso de hoje fala exatamente sobre essa capacidade de Deus de não apenas saber como também anunciar o futuro. Um Deus que não pode ter os seus planos frustrados. Um Deus tão poderoso, que é capaz de fazer tudo o que ele quiser. Então, teria Deus planejado toda minha vida sem dar-me direito de decidir o que fazer dela ou com ela? Se isso for verdade teríamos então o nosso futuro já previamente estabelecido por esse Deus que executa a sua vontade em detrimento da minha? Quando penso nestas coisas gosto muito de lembrar de uma frase de C. S. Lewis, que certa vez escreveu: “Certamente você realizará o propósito de Deus, não importa como esteja agindo, mas faz diferença se você serve como Judas ou como João”.

De fato, Deus não tem nenhum interesse em interferir nas minhas decisões sem o meu consentimento. No entanto, tudo o que eu, ou qualquer outra criatura, fizermos, não poderá de maneira nenhuma frustrar os Seus planos. Então, como explicar isso a uma criança, no momento em que ela , na tentativa de descobrir e conhecer o mundo em que vive, quando começa a dar seus primeiros passos na direção de um relacionamento mais íntimo com Deus, pergunta sobre até onde está livre para fazer o que quiser? Quando me vejo numa situação como essa busco sempre pensar na minha vida, como um filme que já foi gravado.

Imagine um filme que você já assistiu. Uma superprodução que te chamou tanto a atenção, que você decidiu, num outro momento, assistir com um amigo ou alguém da sua família.  Por ter gostado demais daquele filme, você não só indica como se propõe a assistir novamente com a pessoa que vai vê-lo pela primeira vez. Vamos imaginar que seja este um filme de suspense. Quem vai assistir com você em algum momento pode até ficar angustiado por não saber o que vai acontecer com o protagonista daquela obra de ficção. Ao contrário de quem o acompanha, você mantém a tranquilidade, mesmo nos momentos de maior aflição, por saber como é que o filme vai terminar. Por esta razão, por vezes você se sente disposto a antecipar algumas informações,  na tentativa de aliviar a tensão de quem assiste pela primeira vez. Para alguns, isso pode determinar o fim do prazer de ver o filme, já outros preferem que se adiante um pouco da história a fim de aliviar a ansiedade.

O que nos interessa neste exemplo é que o fato de já ter assistido e de saber como é que termina não lhe dá, no entanto, o direito de mudar o final do filme. Você não pode simplesmente alterar o final da trama para atender expectativas que são suas ou de quem está assistindo com você.  Esta decisão foi tomada por quem escreveu o roteiro, por quem dirigiu as gravações e editou as imagens. Você pode até atribuir uma ou outra finalidade ao resultado final do trabalho de todos esses profissionais, mas nunca poderá fazer qualquer alteração, pois se o fizer já não será o mesmo filme.

Gosto da ideia de pensar na minha vida como um filme que Deus já assistiu. Um dos presentes mais interessantes que recebemos de Deus é justamente a liberdade de poder decidir como é que queremos gravar este filme. Sou eu quem define o roteiro, e não apenas isso, sou não apenas o autor mas também o diretor que acompanha e decide como serão captadas cada uma das cenas durante toda a gravação. Sou eu quem decide como é que esse filme vai terminar, já que ao mesmo tempo em que escrevo eu dirijo o filme.

Visto desta forma, ainda que o Criador já tenha assistido filme da minha vida, Ele não altera o final que eu escolhi para esta produção que é minha. Ele deu-me a liberdade de decidir como é que esta história vai terminar. Por ser Deus, e soberano, Ele vai atribuir uma finalidade específica à minha história, de acordo com os Seus planos, que são muito maiores e melhores que os meus, inclusive. Nesta hora, como disse Lewis, fará toda diferença, para mim, se escolhi ser João ou Judas.

Quem Escreve:

Marcílio Egídio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.