Simples e Extraordinários

“Mas as notícias a seu respeito se espalhavam ainda mais, e grandes multidões vinham para ouvi-lo e para ser curadas de suas enfermidades.”  Lucas 5:15

É tarde de sábado e a família está reunida para celebrar as bençãos recebidas naquela semana. Há uma em especial para comemorar. Um motivo para festejar por muitos dias e anos. O homem que estivera leproso agora está de volta, em plenas condições de ser abraçado e beijado por todos que o amam.

Recebera ordens específicas do Mestre que incluíam apresentar-se ao sacerdote, oferecer no Templo o sacrifício correspondente e não contar nada a mais ninguém. Ele fizera quase tudo o que lhe fora pedido. Quase tudo. Abriu mão do segredo e começou a contar a todos que  encontrava como se dera o milagre de sua purificação, de modo que a notícia se espalhou a tal ponto de Jesus ter dificuldades para entrar nas cidades, já que todos lhe traziam seus enfermos para serem curados também.

Nos tempos do Antigo Testamento, a purificação do leproso exigia mais detalhes que a purificação de qualquer outro tipo de contaminação ou contágio.

Exatamente por ser desligado do acampamento tão logo fosse verificada a lepra, impedindo o leproso de estar no templo, para assistir as cerimônias religiosas, e também afastando-o do acampamento, excluindo-o do convívio da família, exigia-se duas cerimônias para sua total restauração social. A primeira, realizada fora do arraial, lhe devolvia o direito de entrar no acampamento e voltar para casa. A segunda era feita após uma semana, no pátio do tabernáculo e o integrava às atividades religiosas, com todos os privilégios oferecidos ao restante do povo.

À época, os sacerdotes ainda atuavam como agentes de saúde pública, e eram responsáveis por oferecer uma espécie de atestado médico, declarando limpo aquele que estivera leproso. Ao pedir para que o homem nada contasse a ninguém, mas que se apresentasse às autoridades competentes, Jesus pretendia não apenas evitar o tumulto, mas também alcançar o coração daquele grupo especial de homens que estavam diretamente ligados à religião judaica. Sua estratégia certamente foi bem sucedida, pois mais tarde, muitos daqueles sacerdotes se juntaram ao grupo de seguidores de Jesus que foram desde o início chamados de cristãos. Havia, para isso, uma certa urgência na decisão de mostrar-se aos sacerdotes. Justamente por haver ali uma multidão testemunhando a cura, o homem deveria chegar ao templo antes da notícia de sua cura, até para impedir que qualquer ruído na comunicação comprometesse a decisão do sacerdote, que precisava ser imparcial, ao declará-lo limpo. Mas ele não conseguiu se conter. Sentia como se não houvesse a menor possibilidade de esconder tamanha alegria e manter anônimo o seu benfeitor. Por onde passou fez questão de contar o que ocorrera e mostrar como estava totalmente restabelecido. Acabou com isso causando um grande tumulto, e consequentemente, impedindo uma entrada mais discreta de Jesus na cidade.

Se aquele homem fosse um membro da minha família, naquela tarde de sábado, estaria contando pela centésima vez a mesma história e a mesma sequencia de fatos, sendo interrompido a todo instante, por todos e cada um dos ouvintes, que entusiasmados com a narração, exigiriam a maior exatidão e descrição dos detalhes. Aquela tarde de sábado seria, como muitas outras antes e depois, testemunha de nossa alegria em receber as bençãos do céu. Quer dizer…, seria muito bom se não precisássemos de eventos extraordinários da parte de Deus, para juntar a família e celebrar os presentes do Criador. E digo isso com muita tristeza no coração.

Digo isso porque não tenho dúvidas que tenho sido grandemente abençoado por Deus. Reconheço que Ele me presenteia todos os dias com bençãos que não mereço e nunca merecerei. Tenho consciência dos milagres que Ele opera em meu favor toda semana. Percebo Sua declaração de amor por mim constantemente, mas nem sempre estou disposto a reunir minha família para celebrar as ações de Deus em nossa casa. Por vezes passo horas conversando com os amigos e nem me lembro de falar da maneira maravilhosa como o Pai tem agido comigo. Não falo do Seu cuidado, não falo da Sua atenção, não falo das respostas positivas às orações que alcei ao Céu.

Quando faço uma pausa para pensar em minhas manifestações públicas de gratidão, sou tomado de profundo constrangimento por minha forma cada vez mais tacanha de testemunhar do poder de Deus na minha vida. Sei que podia ser melhor. Reconheço que deveria ser melhor – muito melhor. A história do leproso, que acompanhamos esta semana, me lembra dos resultados obtidos a partir de um desejo enorme de contar a todos o que o Senhor fez, e faz, por nós. Me ajuda a lembrar que um coração verdadeiramente agradecido não se contém de alegria, e se desmancha em gratidão, enquanto revela a todos os que se dispõem a ouvir  sobre os feitos de Deus na sua história.

Enquanto percebo, pela janela do quarto, aqui em casa, que mais um sábado está se findando, também me dou conta de que poderia ter aproveitado melhor a companhia da minha família e encontrado uma forma ainda melhor de celebrar as bençãos da semana que está se findando. Em tempos de distanciamento social, poderia ter reunido outros tantos familiares amados para uma boa conversa, até porque falar todos ao mesmo tempo é uma de nossas maiores especialidades, e as dificuldades de um encontro virtual não implicaria na perda da qualidade e da felicidade do encontro, exceto pelo fato de não podermos estar juntos.

Enquanto espero pela chegada de uma nova semana, tomo consciência da necessidade de ser mais grato e mais disposto a falar de Seus feitos e do Seu amor. Em minha oração, nesse instante, peço não apenas por perdão, mas também por coragem e disposição de declarar, ainda mais e melhor, minha gratidão ao Eterno. Se me vejo estimulado a falar dos feitos extraordinários de Deus, também devo me sentir motivado a apresentar os milagres do dia a dia na mesma intensidade. Quando de se trata do dom da vida e do cuidado de Deus por mim, quando penso em Seu plano para promover a minha felicidade e segurança, não posso separar os milagres em categorias, como se uns fossem  simplesmente extraordinários e outros extraordinariamente simples. 

A indicação musical de hoje vai aqui de casa. Alguém que por si só já é um daqueles motivos espetaculares de minha gratidão. Minha princesa Marcely foi quem pediu para incluir o seu pedido. Vamos, Marlúcia e eu, encerrar o nosso sábado ao som desta canção, lembrando que ela é uma parte muito significativa do que temos de melhor nessa vida. Talvez você se anime a cantar essa canção com a gente durante esta semana. Pode fazer toda a diferença. Que Tal?

A sugestão de música para ilustrar nosso Devocional de hoje vem de São Paulo, SP, e quem nos enviou foi:

Marcely Loietes

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Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.