Seguro e Protegido
“Pois eu o seguro pela mão direita, eu, o Senhor, seu Deus, e lhe digo: ‘Não tenha medo, estou aqui para ajudá-lo.” Isaías 41:13
Já disse que tenho medo de altura. Não escondo isso de ninguém. Não tenho como esconder. Queria que meu medo de altura fosse o único na minha lista dos principais, mas esse é apenas um de tantos que tenho. Tenho medo de injeção – pronto falei! Pode ser vacina, anestesia, antibiótico, não importa o que esteja na seringa, não gosto! Você pode até achar engraçado, e imagino que esteja rindo, inclusive, mas não há quem me convença de que é coisa da minha cabeça.
Já encontrei gente solidária que me acalmou dizendo que o medo nada mais é que um dispositivo de segurança para a manutenção da vida. Sem o medo, talvez arriscássemos nossa segurança inúmeras situações de perigo, sem nos preocuparmos com as consequências. Também descobri que coragem não é a ausência do medo, mas a força que nos motiva a enfrentá-lo. Gosto dessa definição porque me faz pensar que sou, de alguma forma, corajoso. Mas quem me conhece de perto sabe que tenho um medo ainda maior, sabe haver um pensamento que faz meu coração apertar só de pensar na possibilidade… Mas antes de revelá-lo, deixe-me contar uma história.
Há alguns anos fui por um tempo responsável por um ministério da minha comunidade religiosa. Na verdade, fui o que podemos chamar de Diretor Regional do Clube de Desbravadores. Falei desse clube em outro momento. Junto com esse ministério tínhamos também o Clube de Aventureiros, voltado para crianças de 06 a 09 anos. Nossa Associação tinha pelo menos 7.500 membros cadastrados e as atividades daqueles clubes eram, de alguma forma, responsabilidade minha. Claro, essa responsabilidade era dividida com um grupo muito capaz de voluntários, que me acompanhavam e assistiam com muito respeito e atenção, e a quem devoto minha gratidão até hoje.
De todos os meus compromissos, durante o tempo em que estive à frente daquele ministério, há um que me marcou profundamente. Foi numa tarde de sábado, numa festa que chamamos de Cerimônia de Admissão, onde pequenos aspirantes receberiam o lenço oficial do clube, dando a cada um daqueles pequenos aventureiros do clube Arca de Noé, o direito de se tornarem membros oficiais. Minha menina estava entre eles. Seria um momento muito importante para nós, ela e eu, e para nossa família. Acho que eu estava mais nervoso do que ela.
Por favor, me entenda, meu nervosismo não se dava por querer ser um superpai, com um uniforme superlegal, falando coisas superbacanas para um auditório superespecial. Meu nervosismo se dava por ser ela minha superfilha, uma parte muito significativa do que tenho de melhor nesse mundo, e eu não podia deixá-la triste. Queria contribuir com o programa que fora planejado, e tornar aquele momento muito especial pra ela, também. Ela havia aguardado ansiosamente aquele dia. Esperava que estivéssemos todos lá, mas eu tinha um compromisso em outro lugar, um pouco antes da Admissão dela começar. Corri o quanto pude e cheguei a tempo de participar. Ela estava linda com o uniforme de Aventureira!
Fui convidado a tomar o microfone e dizer algumas palavras para os pais e para as crianças. Meu coração acelerou. A taquicardia me lembrava de algo importante – eu estava com medo e precisava controlá-lo! Os batimentos cardíacos e a sudorese a princípio me fizeram evitar olhá-la nos olhos. Eu sabia que iria me emocionar. Respirei fundo e segui tentando organizar as ideias, daquilo que tinha planejado dizer a todos que prestigiavam a cerimônia. Então algo especial aconteceu. Minha pequena, como que percebendo meu desconforto, levantou-se, veio até onde eu estava, abraçou o meu braço e segurou a minha mão, enquanto eu falava. Pode até parecer muito simples pra você, e compreendo que pense assim, mas pra mim foi divino!
Tenho medo de decepcionar minha família. Tenho medo de não atender as expectativas da minha esposa, tenho medo de envergonhar minha mãe e meus tios. Tenho medo de ser uma decepção para os meus filhos, e naquele dia, enquanto tentava tornar o dia da minha princesa especial, tentando dizer o quanto me orgulhava dela e lutando com os meus traumas de um infância vivida sem a presença emocional de um pai, fui abraçado por alguém, que aos seis anos de idade, talvez tentasse me dizer: “Pai, fica tranquilo, eu estou aqui com você. Segura na minha mão; eu vou te ajudar, tá?!
Talvez ela não soubesse exatamente quão significativo aquele gesto foi para mim, mas inocentemente me comunicava o amor de um Deus que tentava me dizer: “Sou eu que o seguro pela mão direita, eu, o Senhor, seu Deus, e lhe digo: ‘Não tenha medo, estou aqui para ajudá-lo.”
Hoje tenho menos medo de revelar meus fracassos à minha família. Não tenho dificuldade de pedir perdão aos meus filhos por algo que fiz a eles ou à mãe deles. Eles sabem das minhas lutas. Eles oram por mim, tenho certeza disso. Sinto que torcem pelo meu sucesso tanto quanto eu pelo sucesso deles. Dia desses cheguei em casa com uma notícia que estava me deixando angustiado. Fui abraçado por eles. Me deram um abraço de família. Me lembraram que também sou parte significativa do que eles têm de melhor. Senti-me abraçado pelo Criador!
Senhor, não tenho palavras para agradecer o que tenho recebido de Ti. Obrigado por todas as vezes em que senti a Tua mão segurando a minha. Obrigado por tornar os meus filhos numa declaração especial doTeu amor por mim. Obrigado por me ajudar a enfrentar os meus maiores medos, caminhando sempre ao meu lado. Mais uma vez, perdoa-me pelas falhas, pelos fracassos. Perdoa-me se por vezes deixei de confiar em Ti, mas dá-me forças, Senhor, para seguir buscando fazer a Tua vontade, acima de tudo. Amém!
Marcílio Egídio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.