Saudade

Foto by Zulmaury Saavedra in Unsplash.com

Não foram poucas as vezes em que fui surpreendido pela notícia e possibilidade da separação. Ela, a notícia, parece sempre chegar num momento em que menos esperamos, como se estivesse destinada a causar aquele desconforto que tanto incomoda. Nessas horas, sinto o coração apertado pela falta que me faz, ou fará, alguém que um dia participou intensamente da minha vida e me ajudou a construir, conquistar e viver experiências incríveis e inesquecíveis. Marcaram a minha existência ao aceitarem o desafio de me abençoarem com suas vidas. 

Não me considero alguém muito apegado às coisas, mas me autodefino como um colecionador de grandes amigos, porque cada um dos que trouxe para a minha vida me são caros demais. Gosto de estar com pessoas. Gosto de comer uma boa comida (e por boa entendo simples e gostosa) na companhia da minha família, que gosta de rir muito e falar alto, quando estão todos juntos. não gosto nem de pensar na possibilidade de não poder tê-los por perto. Por isso, e por outras razões, penso que não nasci para me separar e não fui criado para sentir saudade. Você me entende?

Mas nesse meu quase meio século de vida (hoje tenho quase 46 ) já tive de me despedir muitas vezes. De alguns apenas geograficamente, o que pode ser resolvido com planejamento e recursos para um curta ou longa viagem, mas de outros, por um intervalo de tempo que não cabe a mim definir quanto será. Há quem considere as lágrimas que derramei (e tenho derramado) como sinal de fraqueza, talvez porque não tenha a menor ideia do que estava acontecendo, muito menos a força dos laços que me unia ao objeto de minha saudade…

No entanto, passei a considerar o aspecto positivo da saudade. Hoje prefiro encara-la como um forte argumento de que não fui criado para me separar, seja por motivos de trabalho, estudo, viagem ou mesmo a morte. Prefiro pensar que carrego em minha estrutura física, mental e espiritual, uma partícula do Criador, do Eterno – da Eternidade. Tal partícula, ainda que me faça apertar o coração quando sinto que passarei dias, meses ou anos, distante daqueles que me amam e me amaram, mas que enche esse mesmo coração de esperança e me permite imaginar o dia do reencontro, do abraço que darei (e receberei), tão apertado a ponto de sentir no meu peito o bater do coração do outro.Essa conexão com o Eterno me faz lembrar que outros também sentem saudades, derramam suas lágrimas e buscam explicações. Há entre esses, inclusive, alguns que não têm esperança alguma diante da perda de seus entes queridos porque não foram apresentados ao Pai que me abraça, me consola e me conforta. Por essa razão, nesses dias, e principalmente hoje (02 de novembro – Finados), vou estar empenhado a oferecer o que procuro, dar o que recebo e dizer o que me faz muito bem ouvir. Vou abraçar alguém que, talvez em lágrimas, chore a ausência de alguém que amou e já não está mais por perto. Vou orar com e por quem busca razões para continuar vivendo e dizer, a todos que quiserem ouvir, que há no céu um Deus que, diante de toda essa dor, já estabeleceu o dia em que tudo isso terá fim.

Talvez você queira fazer o mesmo. Imagine só: você e eu, os braços que o Eterno poderá usar para abraçar; a voz de Deus para cantar, orar e testemunhar; os ouvidos do Pai para ouvir… Seu sorriso pode comunicar esperança e seu gesto de carinho pode transformar uma vida.

E então!? Vamos nessa? Estou certo que estaremos entre os mais beneficiados por essa demonstração de amor e solidariedade.

Deixe aqui o seu comentário:

Compartilhe este conteúdo na rede:

Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.