Reconhecido

Reconhecido - Devocional - Coletivo Cafarnaum - Marcilio Egidio

Você certamente já sentiu saudade. Rubem Alves já dizia que “na saudade descobrimos que pedaços de nós já ficaram para trás. E descobrimos, na saudade, uma coisa estranha: desejamos encontrar, no futuro, aquilo que já experimentamos como alegria, no passado”. Certa vez também escreveu que “a saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que perdeu”. 

Certo é, que essa sensação, que de vez em quando aperta o nosso coração e nos faz querer estar perto de quem a gente ama,  insiste em fazer parte da nossa vida e da nossa história. Particularmente, considero a saudade como uma prova consistente de que fui criado por um Ser que é eterno, que colocou, Ele mesmo, em minha estrutura física e emocional, uma partícula da eternidade, que me faz ser incompatível com a separação.

Pensando outro dia em saudade, lembrei de uma história bíblica que tem esse sentimento envolvido – pelo menos num trecho da história de um dos personagens. O ponto da narrativa considerada fala do cuidado de Deus e Sua ação pela manutenção da vida e da história de Seu povo, mas também fala da falta que um pai amado faz na vida de seu filho.

José, por conta de decisões equivocadas tomadas por seus irmãos, acabou sendo vendido como escravo a uma caravana de ismaelitas e foi parar como escravo no Egito. Lá serviu a casa de Potifar, foi acusado injustamente e preso. Jacó, seu pai, recebe a notícia, por parte dos filhos mais velhos que, muito provavelmente ele tinha sido atacado por um animal e a esta altura estaria morto. Muitos anos depois José se torna o governador do Egito, revela-se a seus irmãos, que foram até lá em busca de mantimentos no período da seca, e manda trazer seu velho pai e toda a família, para morarem, com a autorização do Faraó, nas terras do Egito.

Imagino que no coração do filho havia a expectativa de ser reconhecido por seu pai assim que ele chegasse, afinal, já se passara muitos anos desde que haviam sido separados. Certamente a imagem que guardavam um do outro não era mais compatível com a realidade depois de tanto tempo. Mas esta dúvida logo foi posta de lado, porque ao ver seu pai de longe, José desce do carro oficial, livra-se de parte dos trajes de Governador do Egito e corre em direção a Jacó. Não há necessidade de apresentações, não há necessidade de solicitação de audiência, não é  necessário o costumeiro arranjo de uma sala de reuniões para atender alguns representantes do grupo que está chegando. Naquele momento José é apenas o filho do patriarca que está que está à frente do grupo que se aproxima. Ao se encontrarem, não havia forma melhor de matarem a saudade do que com um abraço. O texto de Gênesis 46:29 relata que ao aproximar-se de Jacó, José “lançou-se ao pescoço de seu pai e assim chorou longo tempo”. Ao perceber-se reconhecido, José simplesmente se emociona e não consegue conter as lágrimas, abraçado a seu pai.

Essa história me lembra da possibilidade de estar, num momento especial da minha história, sendo reconhecido como filho do Deus Eterno, e não apenas isso, mas recebendo dEle mesmo um abraço de boas vindas. Essa sensação me faz, as vezes, passar boa parte da noite pensando e sonhando com esse momento e com essa imagem. Lembro-me que no momento em que José recebe o abraço de Jacó, e Jacó o abraço de José, prestígio, fama, reputação ou cargo oficial, não têm o menor valor, porque o abraço de quem se ama é algo que não se pode comprar ou pagar. A sensação ter o seu coração batendo no peito do outro é algo especial. E se isso é verdade quando consideramos nossas relações humanas, entre amigos e familiares, penso no grau de emoção envolvida quando se trata do nosso encontro com o Criador.

Aguardo ansiosamente pelo momento em que Deus, sendo o pai de todos os seres humanos, e meu Pai, me reconhecerá a entrada da Cidade Santa, como um filho amado, e me convidar para entrar, não sem antes me dar um abraço – é assim que me imagino chegando no céu! E você, já parou para pensar nessa possibilidade? Você já se imaginou reconhecido como filho de Deus? Essa sensação é boa demais! 

Dia desses recebi de uns amigos uma canção (link abaixo) que falava exatamente disso:  de reconhecimento, de alegria. Ela fala da satisfação de se ver reconhecido por esse Pai maravilhoso. Espero que essa canção também te ajude a refletir na realidade do céu. Minha expectativa é que ela reforce o teu sonho de querer ser reconhecido, abraçado e ter o privilégio de viver a eternidade ao lado do Criador.

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Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.