Habilitado

Há uma grande possibilidade do nosso salmo de hoje estar na lista dos mais conhecidos dessa importante coletânea de hinos. Certamente não ganharia em termos de conhecimento e apreciação do salmo 23, por exemplo, a quem se atribui a mesma autoria. É importante lembrar que alguns eruditos consideram que Davi seja o autor dos 73 salmos que levam o seu nome. É destacado nas Escrituras que ele “era poeta e músico (1Sm 16:15-23; 2Sm 23:1; Am 6:5). Também se tornou conhecido que era um homem profundamente emotivo, de generosidade notável (2Sm 1:19-27; 3:33-34), de grande fé e de sentimentos profundos, expressos na adoração a Deus. Sob sua liderança sábia e benevolente, a música floresceu em Israel. A familiaridade de Davi com a natureza, o conhecimento da lei, a experiência na escola da adversidade, do pesar e da tentação, os anos de íntima comunhão com Deus, a emocionante trajetória como rei de Israel e a confiança de que Deus suscitaria um Rei eterno sobre o trono de Davi foram experiências que capacitaram o rei pastor, no filho de Jessé, a cantar as canções mais doces e as mais tristes da alma humana sedenta de Deus. Além disso, referências e alusões a vida de Davi e evidências de sua personalidade e habilidade poética são abundantes nos Salmos que levam o seu nome”.¹

Olhando a partir desse quadro, e considerando que o salmo 15 é conhecido por alguns como “Salmo do bom cidadão e cavalheiro de Deus”, se estivéssemos procurando uma declaração mais completa do ser humano no livro dos salmos, certamente este salmo encerraria a nossa busca. Há entre os comentaristas bíblicos aqueles que o consideram uma liturgia de entrada, que prescreveria perguntas e respostas com as quais se avaliava a chance de oferecer a alguém a possibilidade de tornar-se sacerdote e, consequentemente, entrar no Tabernáculo. A dificuldade de atribuir garantias a essa prática está no fato de que as perguntas sugeridas pelo salmo 15 gerariam respostas de foro muito íntimo, e justamente por isso, quase impossíveis de serem verificadas realmente.

Nada disso, porém, compromete a beleza do salmo que inicia declarando ser o Senhor Deus o anfitrião do lugar que se pretende acessar. O Tabernáculo é dEle, como também é dEle o Santo Monte. Quem dirige a Deus a pergunta inicial não pretende estar por um curto período de tempo; deseja saber como pode estar qualificado para morar ali – estabelecer no Santo Monte seu endereço e residência permanente. “Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte?” (v.1). Em resposta a essas importantes questões, podemos verificar onze características específicas:

1. (  ) Aquele que vive com integridade;
2. (  ) Que pratica a justiça;
3. (  ) Que de coração, fala a verdade. (v.2)
4. (  ) Aquele que não difama com sua língua;
5. (  ) Que não faz mal ao próximo;
6. (  ) Que não lança injúria contra seu vizinho. (v.3)
7. (  ) Aquele que, a seus olhos tem por desprezível ao que merece reprovação,
8. (  ) Que honra os que temem ao Senhor;
9. (  ) Que jura e cumpre o que prometeu, mesmo com prejuízo próprio. (v.4)
10. (  ) Aquele que não empresta seu dinheiro com usura;
11. (  ) Que não aceita suborno contra o inocente.

Tomei a liberdade e colocar um espaço antes de cada característica mencionada no salmo na intenção de fazer um autoexame durante o dia de hoje. Vou de, de maneira tranquila e consciente analisar sinceramente a minha situação para tentar descobrir se estaria habilitado a morar no Santo Monte do Senhor. Tenho de ser sincero contigo, querido leitor, já vi que esta será uma tarefa difícil e constrangedora, na mesma proporção em que minhas respostas forem autênticas e sinceras, mas creio que será um exercício muito interessante.

Talvez você queira fazer o mesmo. Quem sabe para você seja um pouco mais fácil. A verdade é que não tenho a menor ideia de como você se sentirá ao final desta avalição pessoal, mas me deixe dizer uma coisa que já posso antecipar: Independentemente do quadro que estiver diante de nós ao final do exercício, a misericórdia de Deus acompanhará a Sua justiça, na apreciação do nosso caso, e a Graça estará a nossa disposição no processo de mudança que nos levará à habilitação do acesso ao Tabernáculo do Senhor. Eu creio, e você? Então vamos juntos, afinal, disse Davi, aqueles que alcançarem, com a ajuda do Espírito e o benefício da graça, este nível de relacionamento com Deus e com o próximo, “não será jamais abalado”. (v.5)