Quando a Barriga Chegar

Por Lilian Loietes 01 | 10 | 2020

Esse foi um texto, que começou ser escrito há meses atrás, e a princípio nunca tive o objetivo de compartilhar, era apenas uma forma de registro, muitas partes foram apagadas, outras foram acrescentadas, mas a verdade é que não aceitava aquilo que eu mesma havia escrito, o que sempre me fazia voltar até o texto e tentar de alguma forma mudar o rumo daquela história. Então vamos, sente-se comigo, em volta da mesa, já preparei um chá pra nós, porque a conversa vai longe…

O ano era 2013, eu estava noiva, e sonhando acordada com o meu casamento. Eram tantas coisas a serem decididas, na época eu trabalhava como secretária e passava a maior parte do meu dia em frente a um computador, e foi exatamente nessa época que comecei a fazer o uso, de uma rede social maravilhosa, o #pinterest (continuo amando e usando ativamente).

Eu achava incrível poder salvar e organizar, as ideias e inspirações e como sempre gostei muito de fotografia era uma ótima forma de ter tudo sempre a mão.

Criei uma conta, e desde então nunca mais parei de usar. Tenho pasta pra quase tudo, de receitas à poses e inspirações para ensaios fotográficos. E ainda me lembro do dia… Era uma tarde, eu estava sozinha e enquanto salvava ideias de bolos, convites e vestidos, me deparei com a foto de uma mulher grávida. Lembro de ficar ali alguns minutos, olhando, sonhando, e uma coisa eu sabia, eu com certeza queria aquilo um dia, apesar de nem ter me casado ainda, eu já sabia, eu queria ser MÃE. Mas como uma noiva muita ocupada eu tinha outras coisas pra pensar, então criei rapidamente uma pasta para salvar aquela e outras fotos parecidas futuramente, pasta que eu chamei de: “Quando a barriga chegar.”

E cá estamos nós, quase 7 anos casados, e a tal barriga ainda não chegou.

Ainda me lembro das consultas pré-nupciais no consultório da ginecologista. Faltavam alguns meses para a data do casamento, mas eu saí de lá munida de pílulas anticoncepcionais, e vou confessar que foi algo tão ‘normal’ que em nenhum momento me questionei se aquilo era ou não a coisa certa a ser feita, afinal eu ainda cursava minha graduação e nem tinha um emprego, então é claro que uma gravidez, de presente de lua de mel não parecia nada glamouroso.

Não pensei nas consequências e efeitos colateiras, não pesquisei outras formas de evitar uma possível gravidez, e foi assim sai do consultório feliz da vida porque tinha ganhado as primeiras caixas de graça.

Mas não era só o fato de não refletir criticamente sobre isso, eu tinha medo. Medo de engravidar, afinal é isso que acontece, as pessoas engravidam tão facilmente, não é? E isso não ia acontecer comigo, eu faria tudo de modo planejado, e no tempo certo.

O tempo foi passando e achei que era o momento certo. Na minha família não temos histórico de infertilidade, nem nada do tipo, sempre aconteceu. E eu achei que comigo seria a mesma coisa, eu decidiria engravidar e voalá, eu teria um bebezinho na minha barriga. Ingenuidade, ignorância, também. Apesar de sempre ter sido uma leitora ativa, isso nunca foi tópico de estudo, o meu conhecimento sobre o assunto era superficial. 

Eu sabia que algumas poucas mulheres tinham dificuldade, mas nem imaginava o porque, talvez fosse o mesmo de Sara, esposa de Abraão, ou Ana mãe de Samuel. A verdade é que algumas dores, e lutas só ganham nossa atenção quando passamos por elas.

Eu achava mesmo que fosse acontecer rapidamente, mas não foi assim. Meses se passaram,e eu não entendia, foi então que comecei a procurar de forma incessante tudo que está disponível sobre o assunto na internet. Ah que jeito bonito, que arranjei pra falar isso, a verdade é que eu fiquei neurótica. Assisti todos os videos do Youtube, de mulheres a médicos, entrei nos fóruns, decorei todos os sintomas de gravidez, e todo mês, meu corpo me enganava e eu tinha certeza que eu veria as duas listras no teste. Eu só conseguia pensar sobre isso, qual era meu problema, porque comigo, o que eu estava fazendo de errado, será que tinha alguma receita caseira que eu ainda não tinha testado, talvez algum chá que pudesse ajudar. . .

O tempo foi passando, e eu fui alimentando meu descontentamento, fui cultivando a culpa, a indignação toda vez que passava por uma família carente e os via ali com tantos filhos, a inveja toda vez que ao abrir o Facebook via alguém anunciando sua tão sonhada gravidez, eu estava confusa, infeliz, incompleta, sentia que me foi tirado um direito sem que eu autorizasse. Parei de salvar fotos naquela pasta do Pinterest. Parei de Sonhar.

Depois de meses submersa nessa nuvem, de tristeza, vitimismo e incertezas e autodepreciação, comecei enfim a ter alguma clareza sobre o assunto, hoje sei que foram as orações do meu esposo me fizeram enxergar que P I O R que não engravidar, era me permitir morrer um pouco cada dia. Tudo que eu fazia estava me levando por um caminho de autodestruição, era como cavar minha própria cova, nada fazia sentido, eu só conseguia enxergar aquilo que eu não tinha em meus braços, e isso estava me consumindo.

Foi quando me lembrei dos dias de recém-casada, quando eu morria de medo de engravidar…lembrava de tudo isso e chorava, porque tive tanto medo de algo que agora me tirava o sono?

Porque que eu enxerguei por tanto tempo, a minha fertilidade como minha maior inimiga, no momento que ela estava no seu auge? O que eu tinha na cabeça pra tomar pilula do dia seguinte, porque achava que o anticoncepcional não ia fazer efeito…

Eu me apeguei tão fortemente nessa situação que eu a Idolatrei em meu coração, sim eu idolatrei meu sofrimento, minha dor, meus sonhos, e Deus bondosamente me fez enxergar tudo isso sob uma ótica diferente. A ótica da FÉrtilidade.

Mas me diga, de que forma você lida com a espera?

Como falei, eu estava seguindo por um caminho muito perigoso. É verdade que por muitas vezes eu não conseguia enxergar, como minhas ações eram incompatíveis com as minhas crenças.Também é verdade que era muito fácil falar que eu cria e tinha fé. Mas minhas atitudes mostravam o contrário. 

Não sei se você já se sentiu assim, mas eu tive a Síndrome do “Eu preciso fazer alguma coisa’’, sabe aquela sensação de como assim eu vou apenas confiar, esperar, até acontecer?  Deve ter algo que eu possa fazer para ajudar no processo…isso é familiar? Porque tenho a sensação que não fui a única a me sentir assim. 

E sabe porque? Vivemos em uma sociedade imediatista. Tudo precisa ser muito rápido, fomos perdendo a noção do tempo. Hoje é tudo tão prático. Se estamos com fome, só pegar o celular e fazer um pedido, se queremos relaxar e assistir alguma coisa só ligar a tv e colocar no Netflix, se estamos sem tempo pra ler a Bíblia, dá para ouvi-la pelo app. Temos toda essa facilidade ao nosso dispor, o que tem obviamente seus benefícios, mas temos que concordar que tudo isso não apenas mudou a forma que vivemos, mas também a forma que pensamos e automaticamente a forma que agimos. Nós desacostumamos a viver os processos.

Pare e pense comigo, há alguns anos, se quiséssemos assistir  um filme, como funcionava? Existia todo um processo envolvido: a ida até a locadora, a escolha, a frustração de ver que o filme que queríamos já estava alugado, o pesar na balança se era melhor levar apenas 1 lançamento ou pelo mesmo preço alugar 2, esperar na fila, assistir aos traillers de lançamento na tv da locadora, parar pra ler os cartazes, olhar atentamente o atendente procurando o dvd, e passando aquele produto antes de colocar na caixa, assinar uma cópia da ficha de locação, pegar a sacola com os dvds, e ir feliz da vida pra casa. No caminho ficávamos  ponderando se as economias ainda dariam conta de comprar uma pizza, chegar em casa, assistir tudo antes do tempo pra devolução. Ufa!

Claro que esse é apenas um exemplo, mas decidi usa-lo porque tenho a impressão que quando vivíamos o processo completo, o senso de satisfação era muito maior que o que temos hoje. Hoje é tão fácil, são tantas opções pra escolher que parece que a emoção não é mais a mesma, e duvido que sou a única que já passou muito tempo procurando algo para assistir e por fim não escolheu nada, porque tudo parecia sem graça. Sim eu sei que você também já fez isso.

O tempo foi passando e nem percebemos, que a maneira como nos relacionamos com ele mudou tanto. Somos impacientes, não sabemos esperar. Quando trabalhava, ouvia as pessoas dizendo que não tinham paciência nem pra cozinhar porque demorava muito – assar um bolo!? Pra quê? Demora, suja dá trabalho. Passa no mercado e compra um pronto. Já ouviu isso? Ou melhor, já disse isso? Minha ideia é te fazer pensar sobre isso. Processos, são importantes e saber esperar faz parte.

Dias atrás fiquei fascinada com uma coisa que descobri. Tenho o habito de ouvir sermões e palestras, quando posso, e estava ouvindo uma pregação da @drarosanalves, em que ela falava sobre Davi. Durante o sermão ela fdisse algo que eu nunca tinha parado para pensar sobre.

Davi foi ungido ainda rapaz, mas o tempo de espera, o processo da unção até sua posse do trono, não aconteceu imediatamente. Ele teve que esperar mais ou menos quinze anos desde que foi ungido por Samuel até se tornar o rei de Judá. E teve que esperar mais outros sete anos para ser ungido rei sobre todo Israel. Isso significa que ele esperou mais de vinte anos para ser rei. 

E quando vamos á Biblia vemos isso tantas vezes.

·         Deus prometeu um filho a Abrão e Sarai, mas eles tiverem de esperar 25 anos para tê-lo.

·         Deus prometeu a Noé que haveria um dilúvio, mas isso demorou muito para acontecer.

·         Deus fez Jacó esperar durante 14 anos para ter a mulher que ele queria.

·         José teve de esperar um tempo considerável para ver seus irmãos e sua família, e não conseguiu voltar para sua terra senão depois de sua morte .

·         Os israelitas tiveram de esperar 430 anos no Egito, antes de voltarem para a terra prometida

Foi quando percebi que o nosso Deus não trabalha com o Imediato. O que pra nós é Espera e Demora, para o nosso Deus é TRATAMENTO. É CURA. Cura, pra nossa fé tão mesquinha, que dizemos crer, mas não sabemos descansar nos braços do Pai. A cura do nosso descontentamento, a cura dos nossos desejos egoístas.

A verdade é que sempre estaremos esperando alguma coisa, e Deus sabe aquilo que precisa ser curado e tratado em você nesse tempo de espera. E elas são oportunidades que temos para lapidar o nosso caráter, e quando compreendemos isso, a nossa perspectiva muda, pois entendemos que tudo que passamos, até naquelas horas mais desafiadoras, elas podem, se permitimos, nos levar não a um bem imediato, de filhos mimados que querem que tudo aconteça no seu tempo, mas sem duvida o processo nos levará no caminho da nossa santificação. Ela não vem de forma rápida, mas seus resultados são Eternos. 

São escolhas que fazemos. Se você quer uma refeição rápida, pode ir a um drive do McDonald’s e comprar um “Mc Lanche Feliz”. No entanto, se quer uma refeição decente, sabe que terá de esperar um pouco. Grandes refeições não são preparadas de uma hora para outra, não importa o que digam os comerciais de TV. Nunca vi alguém colocando comida no micro-ondas porque achasse que ela ficaria mais saborosa do que se preparada no forno ou numa panela de barro. Usamos o micro-ondas quando queremos comer logo. Usamos o forno quando queremos comer bem. Os planos e as promessas de Deus não são comida de micro-ondas. Deus prepara lentamente Seus planos e Seu povo extraindo deles o que é melhor.

Quase sempre você pode esperar que Deus o fará aguardar, porque Ele tem o que é melhor para você. Ele nunca se atrasa, mas dificilmente se apressa. Contudo, posso lhe garantir: Quando o plano de Deus é que você espere, Ele vai fazer a espera valer a pena.

No proximo post, conto pra vocês as ferramentas que me ajudaram a viver minha FÉrtilidade de forma prática.

QUEM ESCREVE:

Lilian Loietes

Pedagoga.

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