Protegido

Senhor, tu nos guardarás seguros, e dessa gente nos protegerás para sempre.”  Salmo 12:7

Coletivo Cafarnaum - Devocional 2021 - Temporada 2021 - Protegido - Garoto - Estação de Trem

O Salmo 12, mais um na lista dos salmos nominados como sendo de Davi, começa com um lamento pela maldade da sociedade onde o salmista estava inserido. O primeiro verso deste salmo me leva imediatamente à lembrança do argumento apresentado pelo profeta Elias, quando fugia de Jezabel. Assim como o profeta fizera tantos anos antes, agora o salmista também tem a impressão de que é o único, ou no máximo, um dos poucos, que ainda se mantêm fiéis a Deus.

Interessante é notar o quadro apresentado pelo autor: uma sociedade que se torna cada vez mais má, formada por homens e mulheres que buscam atender sistematicamente seus próprios interesses, sem a menor consideração pela ética ou os bons costumes. Seu comportamento é desonesto, enganador, bajulador e falso. A vida social parece estar pautada na escalada social, não importando a que custo o sucesso será alcançado. Os homens batalham em defesa de interesses obscuros, fazendo uso indevido do direito e do livre arbítrio. Ao que parece, já naquele tempo, havia uma forte tendência para a inversão dos valores, a falsidade ideológica e a opressão dos mais fracos.

O salmista sabe que não se pode confiar em alguém que tenha um coração fingido (v.2); alguém que esconde suas verdadeiras intenções. Ele também se vê cercado de gente que fala soberbamente (v.3), com lábios bajuladores; gente que usa a língua, com muita habilidade, para promover a violência e causar destruição (v.4). Diante desse quadro, e aparentemente angustiado, o salmista não apenas pede por uma resposta de Deus, como propõe uma sugestão: “Que o Senhor corte todos os lábios bajuladores e toda língua arrogante” (v.3), sugere, “dos que dizem: “Venceremos graças à nossa língua; somos donos dos nossos lábios!” (v.4).

Enquanto lia o Salmo 12, mais uma vez esta manhã, me dei conta de quão atualizado o texto está em relação à nossa realidade, em pleno século 21. Escrito há centenas de anos, parece apresentar o quadro mais atual do comportamento humano. A sensação que tenho é de estar lendo algo escrito ainda ontem, depois do autor ter analisado as informações que preencheram o noticiário da TV. Tenho a sensação de que ele falava com Deus após acompanhar, estarrecido, os acontecimentos dos últimos dias. Pensei que talvez acrescentasse alguns outros detalhes, quanto ao comportamento humano, ao ouvir o relato de famílias que não conseguem entender a razão pela qual crianças inocentes tiveram seus sonhos destruídos e a vida roubada por pessoas que deveriam estar cuidando delas com carinho e amor. Fico pensando na motivação dessa gente, que não satisfeita com o que já tem, fazem tanto mal a outros seres humanos, como se fossem os donos do mundo e não devessem satisfação a ninguém.

Não sei você, mas tenho a sensação de que não estamos sabendo lidar com a tal sonhada liberdade que tanto desejamos ter. Em nome dessa mesma liberdade, uma grande maioria se tornou refém daqueles que se acham mais fortes e privilegiados, e o desejo de poder comprar, mandar, aparecer e se destacar, tem tomado o lugar do bom senso, da ética e da solidariedade. E o resultado? Muitas vidas estão sendo ceifadas por gente que age violentamente – embora os que fazem uso de armas, na verdade, seja uma pequena porção da grande gama de opressores. A exemplo do que apresentou o salmista há tanto tempo, nossa mais letal ferramenta de destruição continua sendo a língua, mas agora a internet nos conferiu “plenos poderes”, e uma grande multidão insiste em acreditar que finalmente “somos donos dos nossos lábios!”, e pior, nossa arrogância nos levou que dizer: “Quem é Senhor sobre nós?” (v.4).

Protegidos sob o escudo do anonimato e tendo como suporte a grande rede, passamos a expressar nosso ódio e desejo de ver destruídos aqueles com os quais não concordamos, embora nosso comportamento seja exatamente o contrário quando estamos falando pessoalmente. Estamos nos tornando especialistas em hipocrisia e fingimento justamente porque fizemos do sucesso nossa necessidade número um. Em busca de cumprir os requisitos necessário para chegar ao topo, deixamos de nos importar com quem vai ficando para trás, ou por baixo, já que nessa chamada escalada social, não nos importamos de transformar pessoas em equipamentos de acesso. Mentir já não causa preocupação; pelo contrário, se tornou, para muitos, a melhor opção.

Mas o salmo não termina com esse quadro tão negativo. Há esperança para os que estão buscando por uma solução, a exemplo do salmista. Há neste hino uma informação que pode ser boa e ruim ao mesmo tempo; uma declaração que pode trazer alívio e preocupação ao meu coração, dependendo de que lado eu estou nesta história toda – até porque só há dois lados nessa moeda, e se eu não estiver representado por um, certamente estarei pelo outro. A declaração vem justamente daquele que pode solucionar o problema da expectativa por justiça, ao mesmo tempo que pode fazer frente à arrogância de quem age de forma fria, violenta, dissimulada e pretenciosa. É o próprio Deus quem vai trazer alívio ao coração do salmista. “Por causa da opressão do necessitado e do gemido do pobre, agora me levantarei”, diz o Senhor. “Eu lhes darei a segurança que tanto anseiam” (v.5).

A boa notícia é que nada nesse mundo acontece sem que Deus esteja inteirado dos detalhes. A má notícia é que nada nesse mundo acontece sem que Deus esteja inteirado dos detalhes. A mesma informação é recebida com alegria por aqueles que, sentindo-se oprimidos, ofendidos, afetados e injustiçados, podem esperar com segurança pela manifestação da justiça divina, e não perdem nada por esperar; mas será recebida com muita tristeza, e terror, por aqueles que, sentindo-se poderosos e imbatíveis, oprimiram, ofenderam, maltrataram e destruíram, não importando se o fizeram com uso de armas, da força, da condição social ou mesmo da língua. O salmista, escolhendo ser representado pelo lado certo da moeda, prefere estar entre aqueles que recebem a notícia com alegria, e termina o poema com uma alegre convicção: “Senhor, tu nos guardarás seguros, e dessa gente nos protegerás para sempre” (v. 7) – ele sabe que estando com o Senhor, permanecerá guardado e protegido!

E nós, de que lado da moeda preferimos estar? Pense nisso.

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Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.