Profundamente Compadecido

Cheio de compaixão, Jesus estendeu a mão e tocou nele. “Eu quero”, respondeu. “Seja curado e fique limpo!”.   Marcos 1:41

Decidido, como estava, em abrir mão da lógica e apostar no improvável, talvez por imaginar que já não havia muita coisa a perder, o leproso está agora prostrado de joelhos, quem sabe olhando para o chão por medo e respeito, e apresenta seu reconhecimento mais sincero: “Se o Senhor quiser, pode me curar e me deixar limpo”. Tinha consciência dos riscos que corria. Não tinha garantias de que seu pedido seria aceito. 

Aquele homem se mostrava ao mesmo tempo corajoso e frágil. Reúne suas forças para enfrentar as impossibilidades, mas diante do Mestre se prostra e reconhece-se pequeno e indefeso. Particularmente não considero a coragem como ausência do medo, mas o enfrentamento daquilo que nos assombra. Penso que quanto maior o medo, maior deverá ser o enfrentamento e maior será a manifestação da coragem. Ali, diante do Mestre, arrisca sua segurança por não saber como reagirá a multidão, que podendo sentir-se insultada por tanta ousadia e desrespeito, o expulsaria dali com violência e revolta. Talvez ele soubesse de algo sobre Jesus por ouvir falar, mas vai conhecê-Lo por experiência própria.

Em resposta ao seu pedido, o leproso recebe o toque de Jesus! Antes mesmo de ouvir a voz de quem lhe ofereceria o maior presente de sua vida, aquele homem se vê tocado pelo Filho de Deus. Antes de declarar Sua intenção, Jesus manifesta o desejo não apenas de limpar a pele do leproso, mas de conectá-lo ao Seu coração. Estende a mão para mostrar a síntese de Sua missão – conectar-nos ao Pai.

A cena é tão extraordinária que os autores dos evangelhos que contam esta história, Mateus, Marcos e Lucas, não mencionam absolutamente nada sobre a reação da multidão. Tenho a impressão que os próprios discípulos foram tomados de surpresa com tamanha manifestação de poder, coragem e amor numa mesma cena, afinal, o leproso não poderia ser tocado, sob o risco de contágio e de tornar-se cerimonialmente impuro também.

Mas gosto principalmente do relato de Marcos. Há nele um detalhe que me chama a atenção. Ao contar a mesma história, como vimos no verso de hoje, o autor menciona algo muito importante para quem lhe falou deste evento, provavelmente Pedro. Em uma outra versão da bíblia, o início do verso 41 diz que “Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão”, e esta expressão me sugere que aquele toque não foi algo parecido com o toque de quem está com medo ou nojo do que se propôs a fazer. Gosto de pensar em algo mais próximo de um abraço, pela sensação de que Jesus além de curar o leproso tinha a intenção de oferecer-lhe dignidade.

Aqui em casa sempre repetimos para nós mesmos que presente sem dignidade é esmola. Não importa qual seja o presente. Eu posso dar a alguém algo que me tenha custado um valor bem alto, sem com isso demonstrar o quanto eu me  importo com ele. Talvez o valor do que foi dado represente, nesse caso, o quanto a opinião dele, a meu respeito, me interessa. Mas há a possibilidade de se oferecer algo muito simples, mas que ao ser entregue, e da forma como foi entregue, trazer muito mais alegria e satisfação a quem recebe.

Jesus poderia simplesmente ter dito “Eu quero, seja curado e fica limpo!”, e o leproso sairia feliz pela graça alcançada. Mas Ele tem algo mais a oferecer. A cura pela cura não representa o pacote completo que Ele mesmo se dispôs a entregar. Ele se mostra profundamente compadecido, e está interessado em deixar um recado para a humanidade: Estou aqui porque meu desejo, e do Pai, é poder conectá-los novamente ao Céu. Estou aqui para dizer que nos importamos e  queremos devolver a dignidade perdida por conta do pecado.

A história desse leproso é mais uma daquelas que me lembra quão importante eu sou para Deus. Me faz lembrar que estou sempre a distância de um abraço de um Deus que decidiu me amar, sem Se importar com as minhas condições. Um Deus que me receberá em audiência, através da oração, independentemente dos trajes que eu esteja usando, quando entrar na Sala do Trono. Um Pai que me oferece valor e dignidade, mesmo quando todos me consideram indigno, imundo e maltrapilho.

Não sei como você se apresentaria hoje diante de Deus. Eu sei quais são as minhas condições. Sei das minhas lutas, das minhas dificuldades e de quão sujas estão as minhas vestes por conta dos tombos que tomei. Sei que por mim mesmo não tenho condições de me aproximar de Deus do jeito que estou, mas reconheço que hoje pode ser a melhor oportunidade da minha história. Reconheço que devo juntar toda coragem que puder e enfrentar as impossibilidades na esperança de que Ele realize o improvável na minha vida. Preciso continuar acreditando que Ele, ainda hoje, se mostrará profundamente compadecido com a minha condição e me oferecerá Seu toque de amor, Sua palavra de cura e Seu abraço de perdão.

Espero, sinceramente, que você saiba que tudo isso é pra todos nós!

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Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.