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Temporada 2021

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01 de Janeiro de 2021

Aprender, Amar e Defender

O dicionário associa a palavra hipocrisia à falsidade, dissimulação, farsa, disfarce e fingimento. Na lista, não há uma única ligação ao que é bom ou agradável – pelo menos eu não encontrei.

Olhando por esse aspecto, ao considerarmos a possibilidade de definir alguém como hipócrita, pensamos justamente nas características citadas acima e geralmente nos distanciamos da ideia de sermos enquadrados nessa mesma definição, afinal, hipocrisia é algo que só encontramos, e geralmente com muita facilidade, nos outros. 

Há algo mais sobre a hipocrisia: ela na maioria das vezes produz em nós um sentimento ruim, por vezes de tristeza, outras de decepção ou frustração, gerando ressentimento, mágoa e afastamento. Não é nada simples a tarefa de administrar a amizade, ou qualquer outro relacionamento saudável, com alguém que não sabemos ao certo como vai se comportar ou o que pensa a nosso respeito. Sabe aquele companheiro de jornada, a quem devotávamos respeito e apreço, por acreditar que eram sinceras as suas declarações de amizade e parceria, mas que finalmente se mostrou desleal e interesseiro!? Ou aquela amiga querida, que te fez perder noites de sono enquanto a acompanhava em suas lutas e dificuldades, por crer que eram verdadeiras as lágrimas e autênticas as necessidades, mas que foi “desmascarada” no momento em que você mais precisou dela!?

E o que dizer da turma que se mostrava feliz em nos acompanhar nas tarefas mais difíceis ou nos momentos de maior felicidade, mas finalmente se descobriu que não tinham o menor interesse naquilo que diziam amar, ao andarem conosco, muito menos apreço pelo que fazemos ou nos importamos? Normalmente consideramos lamentáveis tais comportamentos, não é?

Por vezes me pego tentando enxergar a minha vida com os olhos de Deus. Claro que a realidade sempre está limitada às minhas possibilidades, porque não há como, e eu nem me atrevo a imaginar que posso, ver como Deus vê. Trata-se de um simples exercício de autoconhecimento, de reflexão e avaliação.  Nessas ocasiões, a imagem que resulta da minha introspecção é semelhante àquela que encontramos no primeiro capítulo de um livro que leva o nome de um grande profeta, Isaías.

Ali, o quadro apresentado é surpreendentemente estarrecedor. O povo de Israel parece não estar incomodado com o exercício da hipocrisia manifestada em suas ações, antes, preferem estabelecer um abismo entre o discurso e o procedimento, reunindo-se para celebrar as festas  e cumprir os rituais, mas negando-se a viver em harmonia com os propósitos estabelecidos por Deus. Nos primeiros versos do livro, Israel parece cumprir sistematicamente a agenda de adoração, mas ao se apresentarem diante do Senhor, não trazem nada no coração, senão a ausência da comunhão verdadeira, a arrogância de seu comportamento fingido e hipócrita, e um total desinteresse pela essência do que é sagrado. “O que os faz pensar que desejo seus muitos sacrifícios”, diz o Senhor. “Estou farto de holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos gordos” (Is 1:11),  “parem de trazer suas ofertas inúteis, não aguento mais suas reuniões solenes!” (Is 1:13)

Interessante pensar na capacidade humana de tentar aliviar sua consciência através de comportamentos aparentemente aprovados e religiosamente prescritos e recomendados. Não é, e penso que nunca foi, tão difícil assim, viver uma vida religiosa de fingimento e enganação, buscando a aprovação de nossos pares e o favor de Deus. Aliás, penso ser muito mais fácil agir dessa forma que admitir a verdade que nos assombra cada vez que olhamos no espelho e nos deparamos com a realidade nua e crua do nosso comportamento dissimulado e contrário ao plano de Deus.

O verso de hoje fala de um aspecto apenas, numa possível relação de muitos outros. No entanto, ele representa uma pequena síntese da verdadeira religiosidade planejada pelo Eterno: “Aprendam a fazer o bem e busquem a justiça. Ajudem os oprimidos, defendam a causa dos órfãos, lutem pelos direitos das viúvas” (Is 1:17). A verdadeira religião envolve muito mais (ou muito menos | depende de como se encara a ideia) que a solenidade de nosso comportamento social e religiosamente aceitável, perfeitamente apresentável. A verdadeira religião envolve, inclusive e principalmente, planejar, elaborar e exercitar atitudes, nesse novo ano, e em todos os demais, que nos ajude a enxergar melhor outros tantos filhos de Deus que estão ao nosso lado, mas que se tornaram invisíveis ao olhar hipócrita de nosso comportamento egoísta. 

Por essa razão, minha oração hoje, amanhã e depois (e depois) será: Senhor, perdoa-me por ser tão egoísta. Tornei-me insensível às necessidades de outros Teus filhos que estão a minha volta. Tenho buscado desculpas para me manter distante daqueles que precisam da minha ajuda. Por favor, dá-me disposição para ser uma extensão das Tuas mãos a socorrer meus irmãos, uma extensão dos teu braços para confortar e consolar alguém ao meu lado que sofre com suas perdas. Dá-me coragem para ser uma testemunha melhor do Teu amor por nós, não apenas hoje, nem somente este ano, mas por toda a minha vida. Livra-me, meu Deus, da hipocrisia escancarada no vazio do meu discurso religioso, e dá-me um coração disposto a seguir nos Teus propósitos, Amém!


Por Marcilio Egidio

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Marcílio Egídio

Pastor e Colunista

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