Por que clamas a mim?

 Disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem.

Êxodo 14:15

Êxodo 14:15

Por onde passo, tenho insistido em pedir a todos que não cessemos de orar uns pelos outros. Precisamos continuar intercedendo pelos enlutados, pelos hospitalizados, pelos amigos, por familiares e por nós mesmos. Como já vimos por aqui, as orações não devem ter como finalidade mudar o coração de Deus, ou mesmo informá-Lo de acontecimentos que Ele talvez não saiba, e sim, mudar o nosso coração em relação a tudo o que estamos enfrentando. A oração muda a maneira como nos enxergamos diante de situações extremas e nos permite seguir confiando que algo espetacularmente misterioso pode acontecer a qualquer momento. Quando o alvo de nossas preces são outras pessoas, então tornamos a nossa oração numa declaração de amor. Como disse C. S. Lewis, “Orar por alguém é dizer “eu te amo” escondido, é amar sem ser visto, sem plateias ou aplausos, orar é fortalecer o outro, é abraçá-lo invisivelmente.”

Crer no poder da oração pode ser o primeiro passo para uma postura mais otimista de reação ao momento vivido, ou desafio a ser enfrentado. Orar pode ser o ponto de partida para quem decidiu não permanecer estacionado, paralisado, esperando apenas que tudo acabe da pior forma possível; pode ser a injeção de ânimo que alguém esperava receber para tomar a iniciativa de prosseguir lutando, às vezes até, contra a própria natureza de pessimismo e derrota. Orar pode ser aquele impulso que se toma para saltar o obstáculo a nossa frente.

Nosso verso destacado de hoje nos lembra de um momento muito famoso na história bíblica. Depois de todas aquelas manifestações do poder de Deus através do que ficou conhecido como as Dez Pragas do Egito, os israelitas finalmente receberam autorização para sair. A última das dez pragas foi certamente a pior de todas. Enquanto o povo de Deus celebrava a Páscoa pela primeira vez, nos lares egípcios o choro e o luto estavam por toda parte. O anjo de Senhor passara castigando as casas onde não houvesse uma marca de sangue na porta com a perda do primogênito da família, inclusive na casa do Faraó. O golpe foi pesado demais e o soberano egípcio decidiu mandar embora aqueles “malditos” escravos.

Enquanto a multidão de deslocava em direção à Terra Prometida, Deus decidiu mudar o rumo da jornada. Deslocou a nuvem que os acompanhava de forma a fazê-los retroceder e seguir por um caminho improvável. Quando consideramos que Jacó chegou ao Egito, já velho, com sua família e seu gado, sem que se mencione a necessidade de um barco para atravessar o Mar Vermelho, logo se conclui que havia um caminho entre o Egito e Canaã que não precisasse passar exatamente pelo caminho que o Senhor estava indicando. A situação fica ainda pior quando o pessoal da retaguarda avistou o Faraó vindo por trás com seus carros de guerra. Com toda certeza, não vinha, àquela velocidade, na intenção de trazer algo que talvez o povo tivesse esquecido na saída. O quadro que se forma é, certamente, desesperador. Montanha de um lado, montanha do outro lado, o Faraó se aproximando pela retaguarda e o Mar Vermelho pela frente…

Imagino que o povo hebreu argumentou em função de suas razões para estar, ao mesmo tempo, desesperado e desesperançado. Desesperado porque não havia tempo a perder e eles, dada a velocidade desenvolvida pelos carros egípcios, não podiam esperar um único minuto. Desesperançados porque, pela falta de fé, em si mesmos, em Moisés e em Deus, perderam completamente a esperança de uma vida em liberdade. Entre abrir mão de tudo que já tinham, ainda que lhes custasse a liberdade, e a possibilidade de algo que não conheciam, que talvez pudesse lhes custar a vida, decidiram reclamar pelas perdas sofridas e o destino trágico que se anunciava.

Então Moisés vai falar com o Senhor. Apresenta a insatisfação do povo e busca por uma solução, mesmo sabendo que o Senhor mesmo os conduzira exatamente para aquele lugar. Ele já devia saber que Deus tinha um plano, mas decide clamar ao Senhor. Em resposta, “disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem(Ex 14:15). Estas palavras indicam apenas que Moisés havia buscado ao Senhor pedindo ajuda; mostram que ele deu o primeiro passo para a solução do problema. Ele estava ali como representante do povo, intercedendo por eles. Não tinha a intenção de mudar o coração de Deus, ou levá-Lo a decidir por algo que já não estivesse planejado. A resposta de Deus não expressa uma reprovação divina, mas evidencia um conselho para que Moisés e o povo, ajam com determinação.

“Por que clamas a mim?”, disse o Eterno, não como alguém que não sabe o que está acontecendo, mas como alguém que espera um pouco mais que apenas o clamor. Talvez esteja tentando dizer-me, quando me encontro em situações difíceis, em que só um milagre pode realmente me ajudar, que está feliz que O tenha procurado (clamando por ajuda, conforto ou consolo), mas que preciso levantar a cabeça e crer que o milagre pode acontecer. Talvez esteja tentando me dizer que preciso me envolver um pouco mais no processo de solução dos problemas que enfrento, com uma diferença, se antes estava tentando fazer tudo sozinho e fracassei, agora posso contar com a ajuda dEle – e isso muda tudo!

A pergunta de hoje não tem, como vimos, a menor intenção de ser uma reprovação pelos pedidos apresentados, sejam eles quais forem, Ao que tudo indica, foi elaborada e apresentada na expectativa de fortalecer a minha fé e me ajudar a dar o primeiro passo na continuidade da jornada, ainda que esteja cercado por todos os lados e tenha um mar pela frente. Deus não apenas me responde com outra pergunta, ou simplesmente me ordena que siga como se nada estivesse acontecendo; Ele ouve a minha oração, se envolve na solução e me acompanha no processo do milagre que já havia planejado para a minha vida.

Deixe aqui o seu comentário:

Compartilhe este conteúdo na rede:

Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.