Penitente

“Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo! Cura-me, Senhor, pois os meus ossos tremem: Todo o meu ser estremece. Até quando, Senhor, até quando?”  

Salmo 6:2-3

Coletivo Cafarnaum - Devocional 2021 - Temporada 2021 - Penitente

O dicionário define penitência como sendo “arrependimento; sentimento de remorso ou de culpa por uma falha, ofensa ou pelos pecados cometidos”. Também sugere que seja visto como uma “pena imposta a quem se arrependeu de seus pecados”. No sentido figurado, diz ser “aflição; pesar excessivo; sofrimento intenso. Transtorno; circunstância muito difícil”. Imagino que fossem esses os sentimentos envolvidos que levaram Davi a escrever esse Salmo.

Sendo o primeiro de sete salmos penitentes (6, 32, 38, 51, 102, 130 e 143), o Salmo 6 é profundamente pessoal. Alexander Maclaren diz: “Se alguma vez a palpitação da angústia pessoal se expressou mediante lágrimas e palavras, fez isso nesse salmo.” Lutero o chamou de “uma oração penitencial para a saúde do corpo e da alma”. Nele, o salmista expressa sua agonia física e tormento de alma ao ser escarnecido por aqueles que declaravam que Deus o havia abandonado. Embora se encontre no limiar da morte, ele ora com fervor para pedir socorro; insiste em que Deus ouça sua oração e o salve. Como o Salmo 3, este exibe uma mudança dramática e repentina: nos versos 8 a 10, profunda melancolia se transforme em alegria. No salmo 30, a descrição de uma experiência comovente similar. 1

Como já ouvimos outras vezes, nos tempos do Antigo Testamento, principalmente, a calamidade e a doença eram consideradas punições divinas pelo pecado. Essa imagem fica evidente nas palavras do verso que abre o Salmo: “Ó Senhor, não me repreendas em tua ira, nem me disciplines em tua fúria” (v. 1), e por esta razão, Davi recorre imediatamente à misericórdia de Deus: “Tem compaixão de mim, Senhor, pois estou fraco; cura-me, Senhor, pois meus ossos agonizam (v.2). Fraco, debilitado e em profundo sofrimento; em outras palavras, o momento é tão difícil que o salmista reconhece que precisa de ajuda. Sua agonia é tão intensa, que ele tem a sensação de estar definhando. “Meu coração está muito angustiado” (v.3), diz o salmista, incapaz de tirar de sua mente que ele está sofrendo por ter desagradado a Deus. Então clama mais uma vez: “Senhor, quando virás me restaurar?” (v.3). Sua expectativa é que o Céu seja o seu socorro. Alimenta a esperança de que Deus sairá em sua direção e o acudirá nessa hora de tamanha dor. Mas a sensação que o atormenta, ao mesmo tempo, é a possibilidade do completo abandono de Deus.

Senhor, diz o salmista, “Volta-te, e livra-me! Salva-me por causa do teu amor. Estou exausto de tanto gemer; à noite inundo a cama de tanto chorar, e de lágrimas a encharco. A tristeza me embaça a vista; meus olhos estão cansados por causa de todos os meus inimigos” (vs. 4-7). Este salmo provavelmente resultou dos problemas decorrentes da rebelião de Absalão, filho de Davi. Sendo assim, é fácil entender a angústia do pai que se vê privado de seu filho, surpreso com a vil ingratidão de alguém que organizou, inclusive, um exército para tomar o trono de seu pai.

É interessante notar que o mesmo salmista que escreveu o clássico Salmo 23 é também autor do Salmo 6. Ainda que haja uma clara evidência de que as circunstâncias em que os dois salmos foram escritos eram diferentes, também há a certeza da plena confiança do salmista no único capaz de socorrê-lo. Ainda que que fosse necessário passar “pelo vale da sombra da morte”, e é exatamente o que está ocorrendo no Salmo 6, dada a angústia e agonia com as quais Davi está sofrendo tanto, ele ainda tem a certeza de que pode ser tratado com misericórdia por um Deus que é amor em essência.  Sabia que não estaria livre de momentos muito difíceis, mas também tinha certeza de que Deus poderia vir em seu socorro.

Você, como eu, tem enfrentado dias difíceis? Há noites que você pensa correr o risco de afogar em suas próprias lágrimas? Tem a impressão de que não há solução alguma para o problema que está enfrentando? Já foi tentado a desistir de tudo por não suportar mais essa dor que lhe aperta o coração? Já imaginou que tudo o que está acontecendo seja uma espécie de castigo de Deus por algo erado que fez, ou uma decisão equivocada que tomou? Bem, você não está sozinho, ou sozinha, nessa batalha. Davi é mais uma testemunha de que estes pensamentos nos consomem há muito tempo, mas também é prova de que há uma saída para todos nós. Há no céu um Deus que se mantém disposto a ajudar, acredite! Ele pode, e quer, continuar nos atendendo com amor e misericórdia. Ele quer, e pode, fazer parte da solução e promover a reconstrução da nossa felicidade.

“O Senhor ouviu a voz do meu lamento” (v. 8), disse Davi, e não importa o tamanho do problema que estamos enfrentando agora, “o Senhor responderá à nossa oração” – e isso nós podemos afirmar com alegria e convicção.

1. CBA – Volume 3 pág. 724

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Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.