

O RENOVO DO SENHOR
A imagem que segue nos capítulos 3 e 4 de Isaías continua sugerindo um tribunal montado para avaliar as ações de Judá e Jerusalém. Orgulhosos como estavam de seu comportamento e de suas decisões, os moradores daquela cidade não se dão ao trabalho, nem mesmo, de esconder os seus erros. Sobre eles o profeta anuncia: “A expressão do rosto os denuncia; exibem seu pecado como o povo de Sodoma, nem sequer procuram escondê-lo. Estão perdidos! Trouxeram desgraça sobre si mesmos. (Is 3:9)
Algo muito ruim está para acontecer com a estrutura social estabelecida. Ela está perto de assistir sua própria implosão. No texto, muitos cargos de liderança são mencionados e entre eles estão heróis e soldados, juízes e profetas, adivinhos e autoridades, oficiais do exército e altos funcionários do governo – pessoas sobre as quais o povo depositara sua confiança e se orgulhava de seus feitos. Como parte da estratégia de escancarar os prejuízos que atraíram para si, Deus anuncia a nomeação de “meninos como seus líderes, e crianças pequenas para governá-los” (Is 3:4), explicitando sua irresponsabilidade diante de assuntos eternos. “As pessoas oprimirão umas às outras: homem contra homem, vizinho contra vizinho. Os jovens insultarão os idosos, e os canalhas desprezarão os honrados.” (Is 3:5)
Mas por que teriam de chegar a esse ponto? O que os levaria à construção deste quadro tão estarrecedor? A resposta é ao mesmo tempo simples e trágica: “Jerusalém tropeçará, e Judá cairá, pois falam contra o Senhor e não querem lhe obedecer; rebelam-se abertamente contra sua glória.”(Is 3:8) Deliberadamente deram às costas ao Senhor e decidiram seguir seus próprios caminhos. Assumiram os riscos de tratar à sua maneira as coisas de Deus. Preferiram estabelecer a si próprios como referências de uma vida feliz e duradoura. Passaram a entender que não necessitavam mais da guia do Criador.
Apesar do quadro, aparentemente sem solução, uma grande promessa é apresentada. Ainda que a situação pareça sem saída e a completa destruição iminente, o verso 2 do quarto capítulo surge como um oásis num deserto sem fim – um recanto para aplacar a sede, retomar o ânimo e seguir confiante no cuidado do Eterno. “Naquele dia, porém, o renovo do Senhor será belo e glorioso; o fruto da terra será o orgulho e o esplendor de todos que sobreviverem em Israel.”
O termo Renovo, usado aqui por Isaías pela primeira vez, também é usado pelos profetas Jeremias e Zacarias com relação ao futuro líder de Israel, e a profecia sobre esse futuro líder revela que se trata do Messias. Também indica a linhagem real de Jesus, descendente do rei Davi, mais tarde identificado no livro de Apocalipse como sendo “Rei dos reis e Senhor dos senhores”. Isso mesmo! Em meio à tragédia que se anuncia, Deus manifesta Sua intenção de perdoar as ofensas que recebera de Judá e Jerusalém, e mais, vai colocar-se PESSOALMENTE à disposição de Seus filhos e corrigir-lhes a rota. Eu nunca vou entender como isso é possível. Também nunca será necessário. Brennan Manning, certa vez escreveu: “Até a graça de entender a graça, é graça!”
O que sei é que minha situação hoje pode não estar tão distante da realidade vivida por Judá, e minha relação com Deus não muito diferente daquela experimentada por Jerusalém. Talvez, por conta de tudo o que tenho hoje à minha disposição, eu mesmo tenha me tornado ainda mais orgulhoso e menos dependente de Deus. Quem sabe não esteja entre aqueles que, vivendo sob a placa de uma igreja ou identificado como praticante de uma ou outra religião, não tenho nenhum interesse em cumprir os propósitos do Eterno em minha vida, como fez Israel nos tempos bíblicos. Mas ainda que este seja o meu caso, o quadro final não precisa terminar assim.
Há esperança de um final feliz para todos, e cada um, que decidir aceitar o convite do Renovo do Senhor. Sua promessa é válida ainda hoje. Você e eu podemos ser alcançados pela Graça, pois pensando também em nossa geração , Ele mesmo anunciou: “Todos que restarem em Sião serão um povo santo, aqueles que permanecerem em Jerusalém, que estiverem registrados entre os vivos.”(Is 4:3)
Sobre a possibilidade de ser quem o Senhor planejou que fôssemos, C. S. Lewis escreveu: “Quanto mais deixamos que Deus assuma o controle sobre nós, mais autênticos nos tornamos – pois foi Ele quem nos fez. Ele inventou todas as diferentes pessoas que eu e você tencionávamos ser (…) É quando me viro para Cristo e me rendo à Sua personalidade que pela primeira vez começo a ter minha própria e real personalidade.”
A plenitude dessa promessa, porém, quando “o Renovo do Senhor será belo e glorioso; o fruto da terra será o orgulho e o esplendor de todos que sobreviverem em Israel” não está tão distante de se cumprir. Vejo provas suficientes, por todos os lados, de que Jesus está perto de voltar, e quero muito estar entre aqueles que, alcançados pela Graça, receberão do próprio Filho, o privilégio de viver eternamente com Ele. Quero, para mim, a coragem de colocar minha vida à disposição do Reino, e permitir que o Senhor me transforme num agente de salvação e transformação. Quero me render à Sua personalidade e me tornar um protagonista na história de amor que Ele mesmo está escrevendo.
Por esta razão, minha oração, não apenas hoje, mas sempre, será: Senhor, nosso maior sonho é poder viver a realidade plena desse dia. Nossa esperança é estar entre aqueles que viverão a eternidade na Tua presença. Ajuda-me a manter minha família em Teus caminhos. A realidade de uma vida plena e feliz não será a mesma sem eles. Mantenha-nos conectados ao Teu coração através do Espírito. Torna-nos, a cada dia, mais semelhantes a Jesus… Amém! #Sala57 #euoro #eucreio

Marcílio Egídio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.