O que tens na mão?
“Perguntou-lhe o Senhor : Que é isso que tens na mão? Respondeu-lhe: Um bordão.”
A chegada de Jacó em terras egípcias, com toda a sua família, foi comemorada não apenas por José, que na ocasião, era o governador do Egito, mas também pelo Faraó, que queria conhecer o pai daquele que se tornara o veículo pelo qual Deus protegera seu reino durante os tempos de fome. Aos 130 anos de idade, e ao saber que seu filho estava vivo, Jacó tratou de organizar as coisas para descer também ao Egito e ver com seus próprios olhos o milagre que Deus operara. O Faraó, por sua vez, permitiu que José instalasse sua família na terra de Gósen, talvez o melhor lugar no Egito para criar o rebanho que haviam trazido com eles.
A disposição do Faraó em atender a solicitação por um espaço na terra, e depois, seu desejo de que entre os irmãos de José fossem nomeados chefes para cuidar de seus rebanhos, demonstra um certo desejo de expressar sua gratidão por tudo o que José havia feito por ele e por seu reino. Tinha consciência de que o Deus de José agia em seu favor por amor àquele que ele nomeara governador do Egito. Mas nem tudo permaneceu assim tão bem para sempre. “Com o tempo, José e seus irmãos morreram, e toda aquela geração chegou ao fim” (Ex 1:6). Como já era de se esperar, subiu ao poder no Egito um novo rei, que não sabia coisa alguma sobre José” (Ex 1:8); e com medo do que pudesse acontecer, caso os israelitas se organizassem contra o trono do Egito, tramaram um plano para evitar os riscos. “Assim, os egípcios nomearam capatazes para dirigir o trabalho do povo. Sob opressão, os israelitas construíram Pitom e Ramessés, duas cidades que serviam de centros de armazenamento para o Faraó” (Ex 1:11). E por mais de trezentos anos serviram como escravos.
Deus então decide dar ouvidos ao clamor de Seu povo, que pedia por liberdade. Escolhe Moisés para esta tarefa especial, e prepara-o para enfrentar o desafio. Depois de passar quarenta anos no Egito, sendo instruído pelos melhores mestres que o Egito poderia proporcionar, passou outros quarenta anos, aprendendo com a vida simples do campo, enquanto cuidava dos rebanhos de seu sogro. Neste contexto encontramos o nosso herói e a Grande Pergunta de hoje.
“Certo dia, Moisés estava cuidando do rebanho de seu sogro, Jetro, sacerdote de Midiã. Ele levou o rebanho para o deserto e chegou ao Sinai, o monte de Deus. Ali, o anjo do Senhor lhe apareceu no fogo que ardia no meio de um arbusto. Moisés olhou admirado, pois embora o arbusto estivesse envolto em chamas, o fogo não o consumia” (Ex 3:1-2). Movido pela curiosidade, Moisés se aproximou o quanto pode da sarça até que finalmente ouviu o Senhor falar com ele. Foi orientado a tratar aquele lugar com todo respeito possível e fica claro, pela simplicidade do local, que havia se tornado santo não por causa de especificidades do lugar, mas porque o Senhor estava ali. As coisas, os lugares e as pessoas se tornam santas em função da presença de Deus. Só Ele pode conferir santidade àquilo que está relacionado com Ele.
Um longo diálogo se dá entre os dois, Moisés e Deus, mas Moisés continua não acreditando na expectativa que o Eterno depõe sobre ele. Insisti numa porção de argumentos, como se houvesse algum modo de convencer o Criador de que Ele, talvez, não o conhecesse nos detalhes. Moisés agora era um fugitivo; havia saído do Egito sob ameaça de morte e agora vivia de maneira quase anônima num local bem distante e diferente daquele em que crescera. Talvez, pensava ele, o Senhor não tenha noção dos meus medos e das minhas limitações. Em seu coração, relutava diante do convite que o Criador lhe fazia, enquanto se lembrava de todas as histórias que ouvira de sua mãe, que falavam de um libertador que se levantaria, para conduzir o povo à Terra Prometida. Como parte da estratégia de convencimento, num dado momento o Senhor lhe pergunta: “O que você tem na mão?”
Era um simples pastor de ovelha e trazia consigo apenas o seu bordão. Aquela vara por vezes lhe servira como apoio, nas longas jornadas que fazia com suas ovelhas. Quem sabe, em outros momentos, tenha sido útil para espantar algum predador que se aproximou. Fato é que não passava de um pedaço de madeira, rústica, e simples – sem nenhum componente mágico como esses que vemos pela televisão. Ainda que fosse um simples pedaço de madeira, era o suficiente para se tornar uma demonstração dos milagres de Deus.
Mais uma vez é o Senhor quem está falando; mais uma vez Ele decide fazer uma pergunta, e como vimos, ainda que já soubesse a resposta, decide fazê-la porque tem intenções que se mantêm escondidas àqueles que estão limitados a responder com o óbvio. Está, através desta simples indagação, preparando Moisés para receber instruções importantes, que serão úteis durante o período que ele estiver liderando o povo. Deus vai transformar aquela simples vara numa demonstração de Seu poder e num instrumento de guerra. Ela será usada para impressionar o Faraó, para anunciar a chegada das pragas, para abrir o Mar Vermelho, na vitória sobre os amalequitas; e tudo isso para falara apenas dos primeiros eventos relacionados à libertação do povo.
Permita-me perguntar uma coisa: Você, por alguma razão, tem orado a Deus por um milagre? Há algum problema na sua vida que somente uma intervenção divina poderá resolver? Há algo que esteja lhe causando medo, ou mesmo pânico, porque você se acha incapaz de enfrentar os desafios que se puseram à sua frente? Então saiba que Deus pode estar tentando lhe fazer a mesma pergunta que fez a Moisés. Imagino, que em algum momento da sua conversa com Ele, o Eterno interromperá o diálogo e perguntará: “O que você tem na mão?” Ainda que tudo o que tenhas seja tão simples quanto o bordão de um pastor de ovelhas, lembre-se de que sempre será o suficiente para Deus transformá-lo numa demonstração de Seu poder e num instrumento de guerra. Acredite, Ele pode!
Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.