O que devemos fazer com você?

“Disseram-lhe: Que te faremos, para que o mar se nos acalme? Porque o mar se ia tornando cada vez mais tempestuoso.”         Jonas 1:11

Verdade seja dita, se tinha uma cidade e um povo para serem destruídos, nos tempos de Jonas, certamente era Nínive e seus habitantes – essa era a opinião de muitos! Era, à época, uma das maiores cidades conhecidas. Fundada logo após a dispersão daquela gente que tentara construir a Torre de Babel, tornou-se a capital do domínio assírio. Talvez por essa razão Nínive se tornara um grande centro de impiedade, crimes, mentiras e idolatria. Claro que nada justifica a decisão de Jonas pela fuga, mas em suas argumentações, o profeta considerou duas possibilidades: (1) os moradores de Nínive deveriam pagar por seus erros, e Deus deveria agir sem misericórdia contra aquela cidade ímpia e violenta; por essa razão achou que não deveria ir, já que havia, também, a possibilidade de ele dar o recado que Deus lhe pedira e, (2) em caso de arrependimento, o Eterno agir com misericórdia e voltar atrás no plano de destruição.

Mas o pedido de Deus pela viagem missionária de Jonas tinha intenções desconhecidas ao próprio profeta. Nem tudo estava perdido em Nínive. Havia lá um grupo considerável de pessoas sinceras, esperando apenas por um convite para a mudança; esperavam por alguém que indicasse o caminho a seguir, de forma que abandonassem seus maus costumes. Estavam dispostos a aceitar o Senhor como seu Deus e dar provas de seu arrependimento.

Jonas, no entanto, tinha outros planos para Nínive. Talvez tenha considerado que se ele não passasse nem por perto, não haveria a menor possibilidade de arrependimento e a destruição seria certa, afinal, “era isso o que eles todos mereciam” – ele pode ter pensado. Por outro lado, deve ter posto em dúvida a sabedoria de quem lhe pediu para pregar em Nínive. Por serem exatamente como eram, os moradores daquela maliciosa cidade certamente fariam sérias objeções à mensagem e colocariam em risco a vida do mensageiro. Tomou então um barco para Társis. Decidiu seguir numa direção oposta àquela que deveria de tomado.

Quando já estavam adiantado no caminho, uma tempestade caiu sobre a embarcação, a ponto de colocar em risco toda tripulação. Enquanto os homens jogavam ao mar parte das bagagens que estavam transportando, tentando aliviar o peso do barco, Jonas dormia tranquilamente, na parte de baixo do navio. Incomodados como ficaram com tanta tranquilidade por parte de Jonas, os homens foram acordá-lo e pediram para que ele orasse ao seu Deus, pedindo por providência e segurança. Foi então que descobriram algo assustador.  Jonas declara ser servo do Deus criador dos céus e da terra, e ser ele o culpado por tudo o que estava acontecendo.

“O que devemos fazer com você?”

Estou desde ontem repetindo, para mim mesmo, essa mesma pergunta. Isso mesmo! Fiquei pensando que resposta eu daria se estivesse no lugar de Jonas. Me dei conta de que por vezes fui indiferente à necessidade de falar de Jesus a pessoas que julguei não estarem dispostas a ouvir. Parti numa direção contrária àquela indicada por Deus, movido pelo meu orgulho e preconceito. Fiquei imaginando se minha decisão irresponsável não afetou significativamente a vida de alguém que deixou de ouvir falar da misericórdia de Deus, exatamente no dia em que Ele me pediu para testemunhar. Quantas vezes não estiveram sob risco de perderem a salvação aqueles outros que me acompanhavam na “embarcação” que tomei para fugir do plano proposto pelo Eterno…?

Conta-se a história de um missionário na China, que foi certa ocasião visitar uma pequena cidade onde nunca tinha estado antes. Logo que chegou perguntou a um senhor: “Há muitos cristãos aqui?” O chinês respondeu: “Não; só há um menino cristão.” O missionário ficou um pouco desapontado com a resposta, mas continuou a andar.

Como o dia estava quente, sentiu sede e bateu à porta de uma casa para pedir um pouco d’água. Enquanto bebia, perguntou à senhora que o servia: “A senhora já ouviu falar de Jesus Cristo?” “Sim!” – foi a resposta imediata. “Há aqui um menino que está sempre falando comigo e com todos que encontra sobre Jesus. Ele quer que eu abandone os ídolos, mas ainda não tive coragem para deixá-los. Mas, acho que o menino tem razão. Jesus deve ser mesmo um grande Amigo, capaz de transformar as nossas vidas. Esse menino era muito egoísta, pouco delicado, sempre pronto a fazer alguma coisa errada. Hoje está completamente mudado. É tão bom, tão serviçal, que não há aqui uma pessoa que deixe de estimá-lo. E ficou assim desde que ouviu falar em Jesus e O aceitou no seu coração.”

Teria eu menos coragem de testemunhar do amor de Deus por mim que este pequeno garoto chinês? Estaria disposto a ser questionado quanto às razões que têm me impedido de ser mais efetivo em minha missão de falar do plano do Eterno para a humanidade? Será que não tenho passado tempo demais, “dormindo” no fundo do barco, enquanto o restante da tripulação e outros passageiros lutam pela própria vida? E se, diante do assombro da descoberta de que sou servo do Deus vivo, e quem sabe até o culpado pelas dificuldades enfrentadas, eles me perguntassem: “O que devemos fazer com você?”- teria eu coragem de assumir a culpa e me colocar plenamente aos cuidados de Deus, ainda que fosse jogado ao mar? Não sei você, mas eu fiquei incomodado com essa questão.

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Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.