MEDO E SALvAÇÃO
“Vejam, Deus veio me salvar; confiarei nEle e não terei medo. O Senhor Deus é a minha força e o meu cântico; ele me deu vitória!” Isaías 12:02
Você já esteve em apuros e sentiu a necessidade de alguém para lhe socorrer? Já se viu em apuros e pensou na felicidade que seria se algum amigo aparecesse para tirá-lo daquela situação? A verdade é que em algum momento da vida, ou vários, todos nós já gritamos por socorro, controlada ou desesperadamente, dependendo da gravidade do problema enfrentado.
Claro que, ao tentarmos nos lembrar das vezes que precisamos de ajuda, as primeiras imagens que surgem na memória são dos eventos ocorridos em que nossa segurança, ou mesmo a própria vida, estava ameaçada. Mas há também aquelas circunstâncias altamente vexatórias, onde o constrangimento é tamanho, que nos pegamos falando com nosso amigo imaginário ou, pedindo a Deus, em oração silenciosa, que nos tire dali a qualquer custo.
Por vezes estive conversando com pessoas que, na tentativa de mostrar quão ruim era a situação, diziam que a melhor saída para aquela hora seria que “se abrisse um buraco no chão onde pudessem se esconder”. Penso nessa saída como uma possibilidade última àqueles que não têm a quem recorrer no momento de dificuldade, de medo ou constrangimento. Isso não significa necessariamente que não tenham amigos, pelo contrário, pode ser que não estejam por perto no instante específico apenas.
Lembrei-me agora de uma experiência daquelas que, após estar tudo sob controle, dizemos que seria cômica se não fosse trágica.
Sou o filho mais velho em uma casa de três irmãos. Venho de uma família humilde, com poucos recursos, mas sempre abençoada por Deus, que nunca nos deixou faltar nada que fosse essencial. Fui criado perto de primos e primas com os quais me diverti muito quando era menor. Tenho, claro, muita saudade daquela infância que parece não agradar a geração de hoje. Quando era permitido, brincávamos na rua, muitas vezes não pavimentada, repleta de cascalhos e pequenas pedras espalhadas , sempre que possível, por toda sua extensão, que além de melhorar a circulação dos automóveis, pareciam estar ali para conspirarem contra a integridade física de nossos pés, principalmente os dedos, enquanto disputávamos nossas partidas de futebol.
Os passeios quase sempre tinham o mesmo lugar como destino: a casa da tia que morava “muito longe da gente”. A viagem parecia sem fim, embora o caminho já fosse conhecido nos detalhes. Mas percorrer aqueles 80km(!) tinha a sua compensação. A família da tia morava perto da barragem. E a barragem tinha uma “prainha”. E na prainha, podíamos “nadar”! (E você vai já saber porque nadar está entre aspas…)
Numa dessas visitas à casa da tia, os adultos foram convencidos a nos levar para “nadar” na barragem, e tomados de euforia, logo estávamos prontos para as aventuras do dia. Adultos ajustando os últimos detalhes do lanche, porque esse não podia faltar num programa de família como aquele, as mães, como sempre, fazendo o checklist dos ítens de primeira necessidade e a criançada já na calçada querendo parar o trânsito local para facilitar a saída do nosso transporte.
Pouco tempo depois de chegarmos à barragem, já estávamos nos divertindo na água quando a experiência daquele dia se tornou marcante pra mim. Escorreguei em algum lugar ali dentro da água, e ao cair me vi em apuros. O desespero foi tão grande que imaginei que o pior aconteceria. Eu estava me afogando! Agora você vai saber porque nadar devia estar entre aspas – eu não sabia nadar. Eu não nadava nada! Ou talvez, e no máximo, uma única modalidade: o estilo prego. Eu só sabia afundar.
Depois de um tempo, que me pareceu uns dois dias, meu primo, que hoje é pastor também, apareceu para me livrar daquele tormento. Sua estratégia foi elaborar um plano audacioso de resgate e manutenção da vida. Com movimentos rápidos e precisos, dignos de uma produção cinematográfica, pegou-me pela cintura e me pôs em pé. Pronto! Estava salvo.
Antes que você fique preocupado em saber onde estavam os adultos, e por que não correram para me ajudar, preciso esclarecer que estavam exatamente onde deveriam estar. Corriam em minha direção quando meu primo me botou em pé, cinco ou seis segundos após eu escorregar num lugar da “praia” onde a água não alcançava a altura do meu joelho.
O verso de hoje fala de momentos onde Deus aparece para nos salvar. Claro que o contexto em que foi escrito envolvia a ação poderosa e sobrenatural de Deus. O auxílio que o povo precisava era muito específico e envolvia muita gente, e Deus sempre estará disposto a agir em circunstâncias assim. Não há absolutamente nada que limite o poder do Eterno, exceto minha vontade e decisão. Se optar por não pedir socorro, ou mesmo por não receber o socorro oferecido, Ele não poderá fazer nada por mim, embora deseje fazê-lo.
Mas também há aquelas circunstâncias em que bastaria a Deus nos tomar pela cintura e nos colocar em pé – salvos e seguros. São situações mais simples, do cotidiano, que embora menos complexas, e aparentemente sem importância para muitos, por estarem apertando o nosso coração, se tornam alvos do interesse divino. Em momentos assim, mesmo quando todos nos olham e imaginam que tudo está tranquilo e seguindo o fluxo normal da vida, basta-nos um pedido simples e sincero de ajuda, e o Céu se colocará à nossa disposição.
Que tal um pedido simples e sincero agora? Por que não falar com Deus nesse momento, e dizer o que está nos incomodando? Ah!, você acha que Ele não vai se importar, só porque seu pedido de socorro parece simples demais pra todo mundo? Pois bem, você pode estar se afogando nas profundezas do mar, como Pedro, ou com água pelas “canelas”, como eu, ainda assim Deus sempre estará disposto a estender Sua mão. Precisamos aceitar a ideia que Ele é a nossa força, e dEle sempre virá a nossa vitória!
Marcílio Egídio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.