Máscaras e Rótulos

Então Saul se disfarçou com roupas comuns e, acompanhado de dois de seus homens, foi à noite à casa da mulher. “Preciso falar com um homem que está morto”, disse ele à mulher. “Você pode invocar o espírito dele para mim?”     I Samuel 28:8

Certamente você já leu a história de Saul. Ele foi nomeado como primeiro rei de Israel. Isso mesmo, até que Saul fosse escolhido como governante os israelitas viviam sob os cuidados exclusivos de Deus, orientado por Seus juízes e profetas. Mas o povo não estava satisfeito. Entre suas argumentações mais forte, diante de Deus, estava a ideia de querer ser como os povos vizinhos. “Queremos ser como todas as nações ao nosso redor. Nosso rei nos julgará e nos conduzirá nas batalhas.” (ISam 8:20)

Acho interessante essa nossa tendência de querer ser, ao mesmo tempo igual e diferente de todo mundo. Interessante para não dizer estranho. Quando somos ainda pequenos, estabelecemos algumas referências para nós mesmos e queremos nos parecer ao máximo com alguém que admiramos. É muito comum ver entre os pequeninos, meninas que calçam os sapatos da mãe, ainda que sob o risco de cairem com aqueles saltos, altos demais para oferecer uma caminhada segura até mesmo para alguns adultos, e aparecerem com o rosto todo manchado de batom, na tentativa de parecerem mais lindas do que já são.

Meninos são vistos com frequência com algo que imita um volante, ou qualquer outra coisa que se pareça também com uma ferramenta, porque querem ser vistos como adultos que ainda não são. Estes são apenas alguns exemplos. Fato é que as crianças querem se parecer com os mesmos adultos de quem, mais tarde, durante a adolescência, tentarão se afastar, sob o argumento de estarem buscando uma identidade própria.

Enquanto partem em busca dessa identidade, vão se juntando aos seus novos pares, gente da mesma idade, e todo aquele discurso de ser diferente se perde na tentativa de se tornarem o mais parecidos com seus novos amigos. Agora querem ser vistos como membros do grupo, parte da turma “descolada”. Mas isso não é coisa de gente nova, em fase de crescimento, que tenta se descobrir e se ajustar à sociedade, ou mais especificamente, à comunidade onde está inserida. Adultos fazem isso o tempo todo. Eu faço isso com muita frequência, infelizmente.

Saul é o nosso exemplo de hoje. Como disse, foi nomeado rei de Israel para governar o povo sob orientação divina. Bastava ao novo rei manter-se conectado ao coração de Deus e seu reinado seria tão tranquilo e feliz quanto possível. Mas Saul decidiu afastar-se dos caminhos do Senhor e seguir o seu próprio coração. Perdeu-se por achar que estaria melhor sem Deus, pensando poder governar o povo e manter-se seguro diante das nações vizinhas agindo por conta própria.

O texto de hoje fala de uma de suas decisões mais equivocadas. Sendo rei, como era, disfarça-se para não ser reconhecido, e vai consultar alguém que ele mesmo, em outro momento, tinha expulsado do território de Israel. Sai do palácio usando roupas simples, em nada semelhantes à indumentária real, e vai passar as próximas horas tentando convencer todos que passarem por ele que não é quem ele sabe que é – Saul, o rei de Israel! Percorre uma parte do reino como quem usa máscaras para enganar-se a si mesmo. Seu desespero é tão grande que decide buscar ajuda num lugar donde ele mesmo sabia que não poderia vir. Está não apenas disfarçado; Saul está perdido em seus pensamentos. Tinha plena consciência de quem era. Sabia das expectativas de Deus e do povo para seu reinado. Estava decepcionado com ele mesmo. Tinha decepcionado o povo e o Céu.

A canção escolhida para hoje é indicação de um novo amigo que fiz por esses dias. Por causa da pandemia, fomos apresentados virtualmente, num desses encontros que participamos, sem poder estar perto. O Waster me disse ter um ligação com a letra dessa música em função de um momento especial que viveu há alguns anos. Enquanto eu a ouvia, lembrei das vezes em que tentei disfarçar-me para não ser reconhecido como quem eu sabia que era. Sou um filho amado de Aba, como costuma dizer Brennan Manning, muitas vezes tentando convencer quem está por perto que não O conheço, que me interesso por Ele. Quantas vezes já não me peguei “mascarado”, dando a mim mesmo rótulos que apontavam para um comportamento contrário à vontade de Deus, só para parecer merecedor da atenção e da companhia de gente que achei ser mais importante que o Criador. O mais interessante disso tudo é que no meu caso, como no caso de Saul também, isso tudo não faz o menor sentido.

O Waster me contava que a canção de hoje, em 2016 falou profundamente ao coração dele. Lembrou-o do verdadeiro sentido da vida, da existência. À época, ainda com 12 anos de idade, tomou o que considera a melhor e mais importante decisão da sua vida.

O relato da vida de Saul tem um final muito triste. Não quero isso para minha vida. Não preciso escrever o capítulo final da minha história com o mesmo desfecho da história de Saul. Posso ainda hoje, agora, mais uma vez, pedir a Deus que assuma o controle da minha vida e me ajude a eliminar os disfarces que colecionei durante anos. Ele pode me ajudar a me livrar dos rótulos criados com a intenção de manter-me longe dEle. O Eterno, morando em meu coração, dará um novo sentido à minha existência, um novo rumo para minha jornada e um final feliz para minha história.

Mas isso tudo não está somente à minha disposição. É para o Waster. É para você e sua família. Acredite. Aceite. Confie. Creio que fará todo sentido!

A sugestão de música para ilustrar nosso Devocional de hoje vem de São Paulo, SP, e quem nos enviou foi:

Waster

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Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.