DEVOCIONAL - T2 | E30

Intensidade

 

“Pode a mãe se esquecer do filho que ainda mama? Pode deixar de sentir amor pelo filho que ela deu à luz? Mesmo que isso fosse possível, eu não me esqueceria de vocês!” Isaías 49:11

Com a sua permissão, vou continuar utilizando o exemplo dado dos meus dois filhos “únicos” para ampliar um pouco mais a imagem que já foi criada com relação à maneira como creio que Deus me ama. Como disse tenho dois filhos, havendo entre eles um espaço de 10 anos entre o nascimento de um e do outro. Com o passar do tempo, e depois de muita observação, concluí que não seria justo se oferecesse a cada um deles o mesmo amor, ou decidisse amá-los da mesma forma. São dois seres totalmente diferentes, e não apenas pelo fato de  serem um rapaz e uma menina. Nasceram em circunstância diferentes, em um  mundo que se transforma a uma velocidade cada vez maior.

Agora, considere mais uma vez, um dia daqueles em que eu não acordo muito animado. O fato gerador do meu desânimo talvez tenha sido um dia anterior  muito ruim, ou altamente frustrante. Eu acordo sem a menor intenção de levantar-me e não encontro motivação em mim mesmo para enfrentar os desafios deste novo dia.

Tenho, em função destes sentimentos, a sensação de ser a pessoa mais infeliz do mundo, e que a melhor decisão a ser tomada seja trancar-me em casa pelo resto da vida, sem ter que correr o risco de olhar no rosto de ninguém. Pior que isso, ao falar com Deus, na noite anterior, e na expectativa de não ofendê-Lo, tenha feito uma linda oração, usando palavras muito bem escolhidas, até para não parecer ingrato. Disse exatamente o contrário do que estava sentindo, e meu relato sobre o dia anterior não teve nada a ver com a minha realidade.

Quando compreendo que sou amado de maneira pessoal e exclusiva, entendo que tenho meu valor diante do Céu. Percebo que a melhor coisa a fazer, então, seria dizer para Ele exatamente o que aconteceu e pedir que outro dia daqueles, na medida do possível, não se repetisse nunca mais na minha vida. Há também a possibilidade de ter enfrentado uma noite terrível, sem poder dormir um minuto sequer, mesmo depois de um dia cansativo de trabalho. Não dormi absolutamente nada por conta do barulho causado por vizinhos, por causa de um filho que precisou de cuidados especiais durante a noite, ou por qualquer outra razão, mas ao amanhecer o dia, estando ainda mais cansado,  sonolento e desmotivado,  faço minha oração ao Senhor agradecendo pela noite como se tivesse descansado e pedindo por um dia especial de bençãos em Sua companhia. Claro que pedir por um dia de bençãos não é nada ruim, o problema está no fato de ter agradecido por uma noite que não me permitiu receber o que eu esperava dela – descanso. O problema está em pensar que Deus não suportaria a ideia de me ouvir orar com sinceridade, mas a grande verdade é que não há motivos para pensar que tudo conspira contra mim, simplesmente porque Deus deseja realizar o sonho de todos os outros filhos, em detrimento dos meus.

O texto de hoje me lembra que sou objeto do amor de Deus, e que ele me ama de maneira especial e exclusiva. O Criador me devota um cuidado especial de forma que não faz com nenhuma de Suas outras criaturas. Seu amor por mim é exclusivo, justamente porque sou único no Universo. Isso deveria fazer-me sentir especial, porque creio sinceramente que a intenção do Criador, com essa maneira de amar, é justamente me oferecer valor, dignidade e importância. Quando sou tentado a me sentir mal lembro de alguém disposto a cuidar dos detalhes da minha vida.

Mas há, no entanto, um perigo com a supervalorização deste pensamento. Por sermos humanos, corremos o risco de pensar, então, que somos os mais importantes do universo, afinal de contas, o Eterno se propõe a cuidar de mim como não cuida de mais ninguém; ele me ama como não ama nenhum outro ser humano neste planeta. Passo a correr o perigo de me tornar vaidoso, orgulhoso e egoísta. Corro o risco de pensar que Deus, por sua infinita misericórdia, está totalmente a meu serviço e isso pode me fazer pensar que Ele deveria atender-me em toda e qualquer situação. Então, preciso lembrar-me de outra questão também muito importante.

Voltemos aos meus dois filhos. Se por conta da consciência de que é amada de forma totalmente diferente do Marcel, meu filho mais velho, minha pequena Marcely passar a considerar que é muito mais importante que seu irmão, na minha vida e na vida da minha esposa, suas atitudes poderão comprometer o equilíbrio que buscamos para nossa relações familiares, no sentido de achar que toda a nossa energia, nossos recursos, e nossa atenção, devem estar à sua disposição, para atender necessidades que são particulares em detrimento das necessidades do irmão. Ela pode esquecer-se que, mesmo sendo ele mais velho, com idade suficiente para cuidar da própria vida, ainda assim recebe nossa atenção e nosso cuidado. Cabe então a nós que somos pais, mostrarmos uma outra faceta desta responsabilidade que é criar filhos. É importante lembrá-la que, ainda que sejam amados de maneira pessoal e exclusiva, o amor que dedicamos a cada um deles é oferecido na mesma intensidade para ambos. Então devem concluir, cada um de meus filhos, que por serem diferentes serão amados de maneira diferente, mas porque são nossos filhos serão amados na mesma intensidade. O que pretendemos com isso, minha esposa e eu, é fazê-los entender que não há um que seja mais especial que o outro.

Gosto de pensar que minha relação com Deus se dá mais ou menos assim, porém numa proporção muito maior, até porque sou criatura e Ele o Criador. Se sou tentado a sentir-me mal, achando que sou o pior dos seres humanos nesta terra, e que todas as coisas estejam conspirando contra mim, contra minha família e minha felicidade, no momento em que estou no vale pensando inclusive em manter-me escondido do mundo, sem querer enfrentar os desafios da vida, Ele me lembra que sendo meu Bom Pastor, e tendo para isso as melhores credenciais do Universo, me ama de maneira pessoal e exclusiva. Sua expectativa é convencer-me que desta forma Ele está transferindo dignidade e importância à minha vida. Sinto-me valorizado por esta maneira de enxergar o amor de Deus. Ele me ama como não ama mais ninguém!

No entanto, se a partir dessa ideia começo a me tornar egoísta e vaidoso, a ponto de me achar o ser humano mais especial do Universo, então Ele mesmo me lembra que tem outras ovelhas no seu rebanho e que Seu amor por elas se dá na mesma intensidade do amor que Ele tem por mim. Penso que com isso, o Criador procura me lembrar, o tempo todo, que não sou pior mas também não sou melhor do que ninguém. Comparou o Seu amor e cuidado por mim ao de uma mãe que amamenta o filho, não porque seja igual, pelo contrário, é infinitamente maior e mais intenso. Me lembra da responsabilidade que tenho de cuidar também de outros irmãos, parte do rebanho do Senhor. Me lembra que estamos juntos nessa jornada, com uma família, que terminará na casa do Senhor, onde habitaremos para sempre.

Obrigado, Senhor, por me amar de maneira especial, pessoal e exclusiva. Obrigado por me amares como não amas mais ninguém. Obrigado por me conferir valor e dignidade, me ajudando a entender que não sou pior, nem menor que ninguém. Obrigado por me lembrar que me amas na mesma intensidade que todos os outros meus irmão, e por isso, me tornar consciente de que não sou, também, nem melhor, muito menos maior, que qualquer outro filho Teu. Amém!

Quem Escreve:

Marcílio Egídio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.