Grandes Mulheres - Isabel

“Além disso, sua parenta, Isabel, ficou grávida em idade avançada. As pessoas diziam que ela era estéril, mas ela concebeu um filho e está no sexto mês de gestação. Pois nada é impossível para Deus”.

Lucas 1:36-37

Quatrocentos anos se passara sem que Deus houvesse se manifestado diretamente através de qualquer um de Seus profetas. O quadro apresentado no início do Novo Testamento mostra o povo judeu muito distante da realidade planejada por Deus. Depois que voltaram do cativeiro babilônico, construíram sinagogas por todo o país, onde os sacerdotes e escribas expunham a Lei. Durante séculos tornaram a obediência à Lei numa espécie de requisito para o retorno aos tempos de prosperidade, independência e glória. Ainda que esta mentalidade tivesse afastado o povo judeu dos costumes idólatras, assimilados durante o tempo de cativeiro, e nas associações aos povos pagãos, a maioria dos adoradores tinham motivações egoístas. Muitos passaram a adorar a Deus como uma maneira e atingir certa grandeza nacional.

Como haviam perdido o senso do sagrado e já não davam muita importância às cerimônias estabelecidas para o exercício da religiosidade, passaram a confiar nos próprios sacrifícios e nos costumes que eles mesmos criaram. Para substituir o que estava perdido, os sacerdotes e rabinos criaram uma série de exigências, sem os quais, segundo eles, ninguém alcançaria o favor de Deus. Tais regras se tornaram tão pesadas, que mesmo o amor de Deus, por elas anunciadas, ficou distante de ser percebido. Aqueles que se dispunham a observar os minuciosos e cansativos requerimentos dos rabinos não conseguiam alcançar a paz e o alívio, por se acharem cada vez mais pecadores. Mas algo muito especial estava para acontecer. Uma profecia muito importante estava para se cumprir, e talvez aquele fosse o melhor momento para isso. O Messias viria – o Libertador estava para chegar!

Nesse contexto encontramos nossa Grande Mulher de hoje. Lucas a anuncia associada a valores não encontrados na grande maioria de seus contemporâneos. Ao apresentá-la aos seus leitores, o autor a descreve como uma mulher íntegra e obediente. Ainda que as expressões estejam associadas ao seu marido, fica evidente que essas são características de Isabel também. Na versão Revista e Atualizada, os dois são identificados como sendo “justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor” (Lc 1:6), ainda que lhes faltasse algo muito importante para a vida social daquela época.

Entre os povos orientais, a ausência de filhos em casa era tida como um motivo de grande aflição. Os judeus chegavam a considerar a esterilidade como uma forma encontrada por Deus para manifestar Sua desaprovação por algo que se houvesse feito, ou uma punição por algum pecado cometido. Desde os tempos antigos, a impossibilidade da mulher de gerar filhos para seu esposo, era considerado motivo suficiente para “autorizar” o marido a buscar outra esposa, ou concubina. Ao que parece, este não era o caso de Zacarias e Isabel. Chegaram à idade avançada sem permitir que a ausência do filho lhes fizesse infelizes a ponto de buscarem uma solução humana para o problema, ou deixassem de amar e servir o Deus de Israel.

Então, um milagre aconteceu. Enquanto Zacarias cumpria suas responsabilidades de sacerdote, servindo no Templo, em Jerusalém, um anjo lhe apareceu para anunciar algo espetacular, que estava para acontecer. Diante do espanto e perplexidade daquele velho sacerdote, O anjo lhe disse: “Não tenha medo, Zacarias! Sua oração foi ouvida. Isabel, sua esposa, lhe dará um filho, e você o chamará João. Você terá grande satisfação e alegria, e muitos se alegrarão com o nascimento do menino, pois ele será grande aos olhos do Senhor. Nunca tomará vinho nem outra bebida forte. Será cheio do Espírito Santo, antes mesmo de nascer. Fará muitos israelitas voltarem ao Senhor, seu Deus. Será um homem com o espírito e o poder de Elias, e preparará o povo para a vinda do Senhor. Fará o coração dos pais voltar para seus filhos e levará os rebeldes a aceitarem a sabedoria dos justos” (Lc 1:13-17).

Algum tempo depois, ao perceber que estava grávida, Isabel decide não dizer nada a ninguém, até que considerasse oportuno revelar o milagre ocorrido, e já estava no sexto mês de gestação quando recebeu, em sua casa, Maria, sua prima e futura mãe de Jesus. Ao registrar esse encontro, Lucas nos leva a uma imagem cercada de emoção, fé e adoração. Sentindo que a criança em seu ventre se manifesta ao som da voz de Maria, “Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1:41). Sua reação imediata dá provas de sua fé e devoção, e dirigindo-se a Maria, diz em alta voz: “Você é abençoada entre as mulheres, e abençoada é a criança em seu ventre! Por que tenho a grande honra de receber a visita da mãe do meu Senhor?

Isabel é a primeira pessoa a reconhecer Maria como futura mãe do Messias. Mais que isso, demonstra seu respeito e adoração ao não considerar-se digna de receber em sua casa Alguém que ainda está sendo gerado. Por outro lado, compartilhou sua hospitalidade com Maria por três meses, e certamente lhe ofereceu sábias instruções, afinal, ainda que também estivesse esperando por seu primeiro filho, certamente sua experiência de vida e sua comunhão com Deus, ao lado de seu esposo sacerdote, poderiam servir de auxílio e conselho, à jovem futura mãe.

Há outro ponto, ligado à história de Isabel, que precisa ser lembrado. Uma declaração importante que não partiu de lábios humanos. Enquanto anunciava o milagre da encarnação à Maria, o anjo Gabriel faz questão de apresentar um detalhe valioso. Conforme descrito em Lucas 1:36-37, o anjo informa: “sua parenta, Isabel, ficou grávida em idade avançada. As pessoas diziam que ela era estéril, mas ela concebeu um filho e está no sexto mês de gestação. Pois nada é impossível para Deus”. A gravidez de Isabel foi não apenas um milagre para ela e seu esposo Zacarias, mas também o cumprimento da promessa feita por Deus, muitos séculos antes. João Batista tornou-se um poderoso pregador da mensagem de arrependimento e o precursor do Messias. A seu respeito o próprio Jesus disse que não havia ninguém maior do que este filho de Isabel. Ela por sua vez, podendo ter enfrentado sua velhice com sentimento de derrota e fé decadente, preferiu insistir em sua devoção, permitindo que o Senhor fizesse Sua vontade prevalecer na vida dela. Isabel confiou em Deus e Ele a recompensou. Tornou possível o impossível. Cumpriu o que prometeu.

Creio, sinceramente, que este Deus continua sendo o mesmo. Não acredito que tenha mudado de opinião com o passar do tempo, logo, certamente está disposto a dar provas de que realizar o impossível continua sendo Sua especialidade, e Ele não deixará de cumprir nenhuma de Suas promessas. Eu creio. E você?

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Marcilio Egidio - Marcilio - Egidio - Coletivo Cafarnaum

Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.