Como vimos ontem, a coragem e a fé de Joquebede foram fatores importantes para a manutenção da vida de Moisés. Depois de esconder o menino em casa por mais ou menos três meses, sua estratégia foi encontrar um meio termo na ordem do Faraó e colocar seu filho nas águas do Nilo de forma que estivesse protegido pelo maior tempo possível. Seus esforços foram ao limite de suas possibilidades e suas orações buscavam o favor de Deus para completar o que lhe faltava.
Imagino que seus passos foram seguidos de perto pela filha mais velha. Miriã foi orientada a ficar por perto, enquanto aquele cesto, feito com tanto esmero, balançava de um lado para o outro, o conteúdo tão valioso. Enquanto em casa a mãe orava pela ação de Deus, enviando Seus anjos para cuidar do menino, às margens do rio Miriã acompanhava atentamente os movimentos do pequeno cesto, que providencialmente chamou a atenção da filha do Faraó. Ao saber que o cesto carregava uma criança tão linda, seu coração foi tomado de empatia pela mãe que tentava a todo custo salvar aquele menino. Ao perceber que seu irmão recebia atenção daquela distinta dama egípcia, Miriã rapidamente se apresenta para oferecer uma ajuda inesperada. “A senhora quer que eu chame uma mulher hebreia para amamentar o bebê?”. (Ex 2:7)
A menina parece ter herdado a inteligência e habilidade de liderança de sua mãe. Não havia como ter treinado, em poucos dias, uma saída para cada possibilidade que pudesse se apresentar. Talvez as duas tivessem até tratado algumas ideias de como proceder em caso de aparecer alguém, mas creio que nem em seus melhores sonhos imaginassem a chegada da princesa. A resposta de Miriã aos desafios que foram surgindo e sua sábia proposta à sensível princesa, demonstram habilidades que certamente foram utilizadas por Deus enquanto o povo esperava pela chegada do libertador.
Ao identificá-la como profetisa, aliás, a primeira mulher na bíblia a ser assim chamada, o autor poderia estar valorizando, inclusive, sua atuação durante o tempo em que Moisés esteve fora. Certamente desempenhou um papel muito importante não só durante o durante o êxodo, mas também nos anos que o antecederam. Sua habilidade de liderança parece tê-la ajudado a manter o povo de Israel motivado e esperançoso durante os anos sombrios de opressão. Talvez tenha investido tempo repreendendo, instruindo e aconselhando aquela nação de escravos. Possivelmente tomou parte de destaque na apresentação de Moisés ao povo hebreu, quando este voltou de Midiã, sob as ordens de Deus, para conduzir o povo à Terra prometida. Sua ação nesse contexto lhe ofereceu posição de destaque durante a jornada pelo deserto, sendo superada apenas pelas funções de Moisés e Arão, seus irmãos.
Imagino que ao tomar um tamborim e liderar as outras mulheres numa manifestação de alegria e gratidão eufóricas, após terem testemunhado as ações de Deus em favor de Israel, ali no mar vermelho, Miriã provavelmente volta no tempo, em suas lembranças, e revive o dia em que propôs à princesa que lhe permitisse indicar uma ama de leite para o bebê recém encontrado no Nilo. Já se passara mais ou menos 80 anos, mas certamente essas imagens puderam ser revividas com a mesma intensidade daquele importante dia.
Agora com um pouco mais de 90 anos de idade, Miriã mantém sua postura de liderança. Toma a frente das mulheres e as convida para algo especial. Elas iniciam um momento de músicas e danças, não apenas para comemorarem a vitória alcançada, mas para louvar e agradecer a Deus por Seus feitos poderosos. Quando penso na cena desta canção, acompanhada de danças e instrumentos musicais, só consigo imaginar a alegria que toma conta do coração daquela gente toda. Deus havia se manifestado poderosamente mais uma vez e sua reação foi a mais esperada de todas – louvor e gratidão!
A reação espontânea de MIriã nos lembra que, ainda hoje, não nos faltam motivos para louvar e agradecer a Deus. Ele ainda continua agindo em nosso favor executando Seus milagres em nossa vida. Seu poder ainda pode ser percebido por aqueles que desejam viver sob Seus cuidados e reconhecer Sua soberania. Ainda que Miriã e as outras mulheres estivessem cantando o triunfo de Deus sobre os cavaleiros do Faraó, em seu coração certamente estava a certeza de que aquele evento espetacular começara com manifestações simples do cuidado de Deus, evidenciados enquanto sua mãe confeccionava um cesto de junco para embalar Moisés.
Nessa lista de grandes mulheres, vamos incluir Miriã, e agradecer a Deus por seu exemplo de proatividade, dinamismo, liderança e fé. Vamos agradecê-Lo por permitir que outras tantas mulheres fossem estimuladas a exercitarem uma postura semelhante, conduzindo não apenas suas famílias, mas comunidades inteiras, a uma atitute de serviço desprendido e ação altruísta, em favor de outros seres humanos.
E ao lembrar da autenticidade de seu desejo de louvar e agradecer, ali do outro lado do Mar Vermelho, por que não a acompanhamos nesse exercício de reconhecimento das bençãos que o Eterno tem derramado em nossas vidas? Que tal? Tenho certeza que será inspirador também!

Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.