Grandes Mulheres - Marta

“Quando Marta soube que Jesus estava chegando, foi ao seu encontro. Maria, porém, ficou em casa.”

João 11:20

Betânia, um pequeno vilarejo próximo a Jerusalém era passagem quase obrigatória para quem estivesse viajando de Jericó. Este povoado ficou muito conhecido por ser o lar de três irmãos que estavam na lista dos melhores amigos de Jesus. Lucas, no capítulo 10 do evangelho que leva o seu nome, relata a primeira vez em que Jesus, passando por ali, foi acolhido na casa de Marta, provavelmente a mais velha dos três moradores. Nesse primeiro encontro, Lázaro parece não estar em casa, e a recepção fica a cargo das duas mulheres que estão cuidando do lar.

Maria, percebe de pronto, que se trata de um tipo diferente de mestre. Percebe que a fama lhe faz justiça, pois ensina de um modo nunca visto entre os líderes religiosos de seu tempo, e decide assentar-se próximo de Jesus e ouvir de Suas histórias e aprender com Suas palavras. Marta, por sua vez, dedica-se a arte da hospitalidade, não só porque a tem como um dom, mas também por entender ser esta a sua obrigação de irmã mais velha. Sua demasiada preocupação em oferecer as melhores acomodações para Jesus e seus discípulos, lhe causam inquietação e descontentamento com sua irmã, que ao invés de ajudar, simplesmente sentou-se para ouvir e aprender.

O espírito de liderança familiar, bem como sua impetuosidade e energia, fica logo destacado nas palavras de Marta. Ela é voltada para os deveres práticos da vida, o que não foi de todo desaprovado por Jesus. O Mestre sabia das reais motivações do coração daquela Grande Mulher, apenas estava tentando acalmar-lhe o espírito e ajudá-la a tirar o melhor proveito da situação, assim como fazia Maria, sua irmã. Ao repetir seu nome, antes de fazer-lhe uma observação importante, (“Marta, Marta!”) Jesus, ao mesmo tempo, lhe conferia afeição e demonstrava preocupação.

Meses depois seu irmão ficou doente. Jesus foi chamado para curar Lázaro, mas, de propósito, não chegou a tempo de encontrá-lo vivo. Quando estava já próximo de Betânia, Marta, como era de se esperar, saiu ao seu encontro, e o diálogo desses dois amigos revelam não apenas o respeito que tinham um pelo outro, mas também está cercada de grandes lições e valiosas promessas. Dão provas de que, ainda que estivesse, quase sempre, preocupada com o bem estar de seus convidados, e em oferecer a melhor hospitalidade possível, também estivera atenta aos ensinamentos de Jesus, tanto quanto pôde.

Marta vai mais uma vez reagir de maneira mais ativa e, de certa forma, agressiva. Ao encontrar-se com o Mestre, “Marta disse a Jesus: “Se o Senhor estivesse aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, Deus lhe dará tudo que pedir”(Jo11:21-22). Tal declaração de Marta parece, até certo ponto, ser uma demonstração de que ela está confiante de que se Jesus pedir ao Pai, Lázaro pode ser ressuscitado imediatamente. Mas sua objeção à ordem de Jesus para rolarem a pedra do túmulo, sugere o contrário. Uma coisa, no entanto, era fato: se Jesus tivesse chegado a tempo, seu irmão certamente estaria vivo!

Nesses últimos dias temos orado, insistentemente, pela chegada de Jesus. Estivemos esperando que Ele aparecesse de tal forma que pudéssemos, inclusive, correr para abraçá-Lo, e levá-Lo aos lugares onde amigos e familiares estavam, e estão internados. Gente querida demais, que torna quase insuportável a imagem de seu sofrimento e sua luta pela vida, enquanto estão ligados a aparelhos que emitem, principalmente à noite, o insuportável som que anuncia um estado de total dependência. Quando aquele bip se transforma numa espécie de sirene, provocando uma correria frenética na Unidade de Terapia Intensiva, o coração da gente se aperta de tal forma, que não há palavras com as quais possamos expressar nosso desejo de ver Jesus entre aqueles de uniforme hospitalar, cuja missão é salvar vidas.

Ontem fui, mais uma vez, dormir com mais saudades do Céu. Perdi dois amigos que farão ainda mais falta aos familiares – também amigos meus. Não pude evitar, e como Marta, meu primeiro pensamento foi na mesma direção que o dela: Se Jesus estivesse aqui…, tudo seria muito diferente. Se a realidade plena do Reino já estivesse acontecendo, eu não teria com o que me preocupar. Tudo estaria sob controle e eu não estaria me despedindo dos amigos, muito menos chateado por não saber como ajudar a consolar os familiares. Com lágrimas nos olhos e o coração apertado, lembro-me dos filhos e filhas, netos e netas; um deles já tinha bisnetos e deixa sua companheira depois de mais de 70 anos de casados.

Senhor! Não posso admitir a ideia de que tenhas planejado tudo isso. Não posso me curvar sob o argumento “Deus quis assim!”, como se esse fosse o melhor consolo. Perdão, mas não posso! Prefiro seguir acreditando nas palavras de Jesus, ditas a Marta, em circunstâncias semelhantes: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim viverá, mesmo depois de morrer. Quem vive e crê em mim jamais morrerá” (Jo 11:25). Prefiro, ainda que inconformado pela dor da perda, e o peso da saudade, seguir confiando que Jesus chegará a qualquer momento, e “o Senhor mesmo descerá do céu com um brado de comando, com a voz do arcanjo e com o toque da trombeta de Deus. Primeiro, os mortos em Cristo ressuscitarão. Depois, com eles, nós, os que ainda estivermos vivos, seremos arrebatados nas nuvens ao encontro do Senhor, nos ares. Então, estaremos com o Senhor para sempre” (ITs 4:16-17).

Então, diante da impossibilidade de estar pertinho para abraçar meus amigos, vou pedir que o Céu ofereça o melhor conforto e consolo possíveis para a Reivellyn e a Evellyn, filhas do Bil, como eu costumava chamá-lo. Que o mesmo abraço do Céu seja oferecido à Carminha, Marileide, Marco, Moru e Conde, filhos do vô Domingos, de quem pude ouvir boas histórias, muitas delas vividas em território paraibano, durante o tempo que estive em Brasília. Estes seguirão administrando a saudade do pai, enquanto cuidam da mãezinha, dona Arlinda, que conquistou o meu coração já no primeiro instante em que a vi.

Por favor, Senhor, cuida dos meus amigos! Cuida de tantos outros, teus filhos, que estão enlutados, ou angustiados diante da situação que enfrentamos. Não queremos abrir mão de nossa maior esperança, até porque, só ela pode, em algum momento, fazer equilibrar-se a força da saudade; seguimos confiantes de que se Jesus estivesse aqui, nada disso teria acontecido, mas quando Ele chegar, tudo será resolvido!

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Marcilio Egidio - Marcilio - Egidio - Coletivo Cafarnaum

Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.