Quando não conseguia mais escondê-lo, pegou um cesto feito de juncos de papiro e o revestiu com betume e piche. Acomodou o bebê no cesto e o colocou entre os juncos, à margem do rio Nilo. Êxodo 2:3
Ao escrever o Pentateuco, Moisés decide identificar as origens de seus pais e apresenta sua mãe como uma descendente de Levi. Até esse momento, o nome de Levi, junto ao de Simeão, estava ligado à violência e vingança, por conta da reação destes dois irmãos no evento que envolveu Diná. Com o passar do tempo, a tribo de Levi passou a compor o grupo especial de pessoas que se tornaram responsáveis pelas questões ligadas à religião, em Israel.
Quando lemos o relato de Êxodo, nos primeiros versos do capítulo dois, encontramos uma mulher de fé corajosa, centrada na missão de proteger seu filho a todo custo. Temos também de destacar sua aguçada inteligência ao encontrar uma brecha no decreto do faraó, que obrigava as mães hebreias a lançar seus meninos recém nascidos nas águas do Nilo. De uma só vez, ela cumpriu o decreto, mas tomou as devidas providências para que o menino estivesse amparado, para que nenhum mal maior o acometesse.
Mais tarde, o autor do livro de Hebreus vai esclarecer as verdadeiras motivações de Joquebede: “Pela fé, os pais de Moisés o esconderam por três meses tão logo ele nasceu, pois viram que a criança era linda e não tiveram medo de desobedecer ao decreto do rei.” (Hb 11:23) Olhando para o filho que acabara dar a luz, aquela mulher deve ter percebido que havia algo especial em seu menino. Claro que todas, ou quase todas, as mães consideram seus filhos especiais, mais no caso de Joquebede e a realidade do povo hebreu, esse sentimento envolvia a chegada do libertador prometido.
A opressão a que foram submetidos os hebreus em nada se comparava aos tempos em que viveram no Egito sob a tutela de José. Agora, por se tornarem numerosos, ofereciam um certo risco à segurança do Egito – ao menos era assim que pensava o faraó. Idólatras e corruptos, passaram a se sentir ofendidos pela religiosidade dos hebreus e sua adoração ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Cada vez mais aumentava o ódio, a hostilidade dos egípcios, em relação aos hebreus, e cada vez mais aumentavam a dureza dos trabalhos exigidos de seus escravos.
Quando não houve mais condições de esconder o menino em casa, Joquebede elabora um plano, na expectativa de que Deus cuide dos detalhes que fugiriam do seu controle de mãe. Quando penso nessa história, a imagem mental que elaboro me apresenta uma mãe que sorri, chora e ora ao mesmo tempo, enquanto trança as tiras de junco e prepara o betume para a confecção do cesto. Seu sorriso tenta esconder sua aflição diante das possibilidades que se apresentariam após o momento em que o cesto fosse colocado no Nilo. Talvez buscasse forças do fundo do coração para sorrir, enquanto conversava com o pequenino, tentando convencê-lo a não ter medo, porque tudo terminaria bem.
Chora enquanto ri, porque seu desejo era de poder ver seu menino crescendo por perto, e vê-lo correndo pelos corredores da casa. Ri enquanto chora, por pensar em todas as vezes que o menino lhe abraçaria ao dizer eu te amo, mesmo depois de ser corrigido por ela, depois de uma confusão na rua, ou com os irmãos mais velhos. Ora enquanto tranças as tiras de junco, o pede ao Eterno que cuide, com muito carinho, do seu precioso presente. Pede para que nenhum mal lhe aconteça. Pede pela oportunidade de vê-lo um homem crescido, forte, saudável e temente a Deus. Ora enquanto abraça bem apertado seu pequeno bebê, e respira fundo para sentir mais uma vez o seu cheiro, de modo a poder guardar aquela lembrança, do abraço, do colo, do toque e do cheiro, para sempre. Ora enquanto chora porque é mãe, e assim é que são as mães!
Há uma multidão incontável de “Joquebedes” ainda hoje, que estão sorrindo, chorando e orando por seus filhos, nascidos escravos num mundo de pecados, com uma sentença de morte decretada e com pouco tempo para desfrutar da companhia de seus pais. Ao contrário de Moisés, esses filhos escolheram o caminho errado justamente porque estavam a procura de liberdade. Se envolveram com vícios e costumes dos quais têm dificuldades para se libertar, e agora, quase sem forças, muitos ainda podem testemunhar a coragem de suas mães, mulheres de todas as idades, que enfrentam os maiores desafios da vida e os lugares mais sombrios do mundo, à procura de seus bens mais preciosos.
Quantas histórias já ouvi de mães que foram a lugares inimagináveis, procurar por filhos e filhas que já não viam a muito tempo. Quantos vezes já testemunhei a oração quase desesperada de uma mãe, que leva ao Céu um pedido especial, e como Joquebede, pedem pela segurança de seus filhos! Elas choram enquanto oram; sorriem enquanto contam as histórias que trazem à memória imagens das melhores lembranças. Elas oram porque continuam acreditando, assim como Joquebede, que a qualquer momento um milagre irá acontecer.
Em minhas melhores lembranças estão imagens de minha “Joquebede” orando por mim. Pedia por cuidado e proteção. Pedia pelo meu sucesso pessoal, profissional e familiar. Chorava enquanto orava, por causa dos momentos difíceis que já passamos juntos; orava e chorava, por achar que não tinha feito o suficiente. Mas eu sempre soube que o “cestinho de junco” foi feito com todo esmero e cuidado possíveis; sempre soube que ela deu o melhor de si, por mim e meus irmãos, e o que faltou, para que o plano fosse perfeito, o Senhor completou em resposta às suas orações.
O nome de Joquebede é citado poucas vezes na bíblia, porém seus feitos alcançaram grande expressão entre o povo hebreu e sua história de coragem e fé chegou até nós como prova de sua força e total confiança em Deus. Talvez você leitora, seja uma dessas mulheres de fé vibrante e corajosa, que hoje insiste em lutar, orar e interceder por seu filho, ou filha. Saiba que há no Céu um Deus que te ouve, cada vez que você conversa com Ele, enquanto trança as tiras de junco para fazer o seu cestinho. Talvez você, leitor, tenha uma Joquebede na vida, como eu tenho a minha. Que tal se você, ainda hoje, a fizesse saber da sua gratidão?

Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.