O livro dos Juízes, como os livros dos Reis e das Crônicas, relatam os altos e baixos do comportamento religioso dos israelitas. A começar pela geração que sucedeu a de Josué, dos quais se escreveu que “outra geração se levantou após eles, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel” (Jz 2:10). Outras tantas gerações, de tempos em tempos, voltavam aos caminhos da desobediência e rebelião, fazendo o que era mal aos olhos do Senhor. Ao decidirem abandonar os preceitos ordenados pelo Eterno, o povo se permitiu corromper, tornando-se corrupto, violento e idólatra.
Quando somos apresentados à nossa Grande Mulher de hoje, o domínio cananeu das terras e estradas, começara a dificultar o comércio e as viagens israelitas. O clima de guerra tornara a vida no campo inviável, levando os moradores das vilas a trocarem suas vidas tranquilas, fora dos portões, pela segurança dos muros, nas cidades fortificadas. A vida entre os israelitas se tornara miserável por causa das guarnições cananitas, que estavam estrategicamente posicionadas, na intenção de impedir qualquer movimento de insurreição ou reação militar por parte dos hebreus.
A situação se agravava cada vez mais, até porque o povo de Israel, como dissemos, passara a adorar os deuses cananeus, abandonando o Deus Eterno e abrindo mão de Sua proteção. Sua desobediência resultara em quase completa submissão ao poder bélico de Jabim, governador cananeu que comandava a forte cadeia de fortalezas ao norte da Palestina. Por 20 anos, pelo menos, Jabim oprimira os israelitas daquela região, sob a permissão de Deus, como forma de disciplinar Seu povo rebelde e desobediente. Oitenta anos depois das vitórias de Eúde sobre os moabitas, o Senhor decide levantar outro grande líder, mas desta vez seria uma mulher.
Talvez por não ser de nenhuma família com grande destaque em Israel, pouco se sabe sobre Débora, além de ser profetiza, esposa de Lapidote e juíza em Israel. Ao que parece, era uma simples dona de casa quando foi escolhida para servir sua nação. Sua sabedoria e discernimento talvez a tenham levado a tornar-se uma espécie de conselheira local, e mais tarde, a julgar as causas do povo, tornando-se a única mulher na bíblia a assumir um cargo político de grande importância, por escolha do seu próprio povo. Ao definir-se como mãe de Israel, Débora provavelmente referia-se à sua liderança espiritual, conquistada sob a “palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim” (Jz 4:5).
Considerando uma nação espiritualmente carente, definida pela rejeição de Deus, sob o domínio de um povo pagão e de comportamento desregrado, Débora parece surgir como uma conselheira destinada a colocar seu povo de volta no caminho certo. Com um exército impotente, um sistema judicial corrompido, uma liderança espiritual (sacerdotes) sem nenhuma expressão, não havia esperança alguma para aquele povo desmotivado e desassistido. Nesse contexto, Deus torna uma abelha, tradução literal do nome de Débora, em grande vespa, para nos ensinar outras grandes lições. Deus decide conduzir uma mulher, utilizando-Se de sua coragem e contrariando a lógica da estrutura social estabelecida, ao posto de libertadora de sua nação.
Diante das provocações de Jabim, através de seu comandante Sísera, Débora manda chamar Baraque, e lhe revela a vontade de Deus: “O Senhor, o Deus de Israel, lhe dá a seguinte ordem: ‘Convoque dez mil guerreiros das tribos de Naftali e Zebulom para irem ao monte Tabor. Eu farei Sísera, comandante do exército de Jabim, ir com seus carros de guerra e guerreiros até o rio Quisom. Ali eu os entregarei em suas mãos’”. (Jz 4:6 e 7) Mesmo diante do respeito conquistado por Débora durante seu tempo de serviço no aconselhamento ao povo, e da clareza das ordens recebidas, Baraque hesitou. “Só irei se você for comigo; senão, não irei”. (Jz 4:8) ao recusar-se a ir sozinho, sem a companhia da profetiza, Baraque, muito provavelmente, queria que ela não só o orientasse na formação do exército como também na estratégia do ataque ao inimigo.
No livro dos Juízes, a história de Débora é a primeira de ampla narrativa, distinguindo-se como a mais devota entre os juízes. Em seu cântico, faz questão de exaltar as ações de Deus em favor do Seu povo, desde os tempos mais remotos. Como mulher, Débora recebeu de Deus o privilégio de assumir um alto posto de liderança numa cultura predominantemente masculina. Sua confiança em Deus lhe conferiu coragem suficiente para enfrentar os grandes desafios que surgiram durante seu tempo de juíza. Ainda que Baraque tenha hesitado em atender às ordens de Deus, se juntou a Débora na condução da conquista que o Eterno oferecera ao povo de Israel.
Mais uma vez fica evidente o valor que o Céu atribui às mulheres. A autoridade e influência de Débora é mais uma prova disso. No coração do Pai as mulheres sempre ocuparão um lugar especial, e o texto bíblico me lembra, todos os dias, que Ele não faz distinção entre homens e mulheres, quando decide agir em favor da humanidade. Há ainda outra figura feminina de grande valor nessa história de guerra e conquistas, mas essas são cenas do próximo capítulo, e dela falaremos amanhã.
Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.