Casamentos arranjados pelos pais era prática comum nos tempo bíblicos do Velho Testamento. Não apenas as moças, mas também os rapazes, por vezes, se viram obrigados pelos costumes, a receber como esposa as donzelas escolhidas por seus pais. Um dos casos mais famosos dessa prática foi o casamento de Isaque, que teve sua companheira escolhida por Eliezer, servo de Abraão, seu pai, numa terra bem distante de onde ele morava. Quando a viu pela primeira vez já estavam a poucos dias da cerimônia de casamento. Diante deste costume encontramos a nossa Grande Mulher de hoje, e seu nome é Acsa, filha de Calebe.
Quarenta e cinco anos se passara desde que Josué e Calebe estiveram entre aqueles 12 homens que entraram em Canaã para espiar a terra. O medo e a procrastinação que tomaram conta do coração de seus companheiros, impediram estes dois homens de convencer o povo de invadir a terra e guerrear com seus habitantes. À época, Moisés havia prometido dar a Calebe as terras de Hebrom, habitadas pelos anequins, homens de grande estatura. Agora este valoroso guerreiro, com oitenta e cinco anos de idade, reúne seus filhos e expulsa os descendentes de Anaque que ainda habitavam na região e toma posse da terra.
No processo de conquista, faz um desafio aos homens de sua família que estão ali com ele: “Darei minha filha Acsa por mulher ao homem que atacar e conquistar Quiriate-Sefer” (Js15:16). Por conta do costume não podemos simplesmente julgá-lo como se estivesse usando a própria filha como objeto de barganha, em benefício próprio, ou por motivos egoístas. A realidade mais próxima desta proposta era a preocupação em casar sua filha com alguém que pudesse ser reconhecido por sua coragem e valentia. Também buscava por um homem que fosse honrado por seu zêlo e energia, capaz de oferecer à sua filha cuidado e segurança. E mais, movido por sua coragem, Calebe liderara os primeiros passos para a conquista de Canaã, ao lado de seu amigo Josué, e havia muito tempo era considerado e respeitado entre o povo, sendo assim, buscava para sua filha um companheiro que fosse de seu nível social. Como era impossível a um único homem, invadir e conquistar uma cidade fortificada, provavelmente a promessa tenha sido feita aos chefes do exército que estava com ele. “Otoniel, filho de Quenaz, irmão de Calebe, a conquistou; e Calebe lhe deu sua filha Acsa por mulher” (Js 15:17). A fama de Otoniel não se limitou a essa única conquista. Mais tarde ele iria liderar Israel numa batalha contra o rei da Mesopotâmia e se estabelecer, por quarenta anos, como juiz de seu povo.
Para cumprir sua promessa, Calebe dá a Otoniel o direito de casar-se com Acsa e também uma parte da terra conquistada, como presente pela conquista e de casamento. Mas havia um problema não considerado, a princípio, por Calebe. As terras dadas a Otoniel e sua filha eram secas, e provavelmente improdutivas. Não havia uma única fonte de água naquele lugar. Nessa hora, entra em cena a habilidade de Acsa e suas preocupações com o futuro da família que constituiria com Otoniel. Numa época em que a prioridade das famílias era a terra, e tudo dependia dela, Acsa tem consciência de que seu futuro dependia, portanto, daquilo que a terra pudesse produzir, justamente por prover o alimento, a segurança financeira, o status social e político e a capacidade de cuidar da família.
Corajosamente decide falar com seu pai sobre suas preocupações. Estava dessa forma, demonstrando verdadeiro interesse e envolvimento em sua herança, casamento e futuro. Ao falar aberta e francamente com seu pai, Acsa torna evidente a boa educação que recebera em casa, e a certeza das boas intenções de seu velho pai. Não há nesse relato, ao meu ver, o uso de meias palavras ou intenções não declaradas de nenhuma das partes. Por mais que o casamento tenha sido arranjado para cumprir uma promessa feita pelo pai, Acsa não tem dúvidas de seu amor e cuidado, a ponto de lhe pedir um acréscimo no presente oferecido. “Dá-me um presente; deste-me terra seca, dá-me também fontes de água” (ARA). Acsa é uma daquelas mulheres que mais tarde o sábio Salomão chamaria de virtuosa (Pv 31:27).
Não acredito que este relato esteja assim registrado na bíblia sem uma intenção maior e específica. Particularmente acredito que podemos ver aqui, uma grande lição ligada ao meu relacionamento com Deus. Quando olho para a história e a reação de Acsa, reconheço que Deus me oferece, a exemplo de Calebe, as mesmas condições de falar aberta e francamente com Ele. Percebo que não deve haver, em meu coração, nenhum impedimento para pedir que o Eterno derrame Suas bençãos em minha vida, irrigando, desta forma, meu coração duro e seco. O desejo declarado do Pai é eliminar a aridez da minha existência, transformando também a minha história em uma fonte de bençãos para outras pessoa. Acsa é mais uma dessas Grandes Mulheres que me ajudam a reconhecer o amor do Pai por mim.
Certamente este é um bom dia para falar sincera e abertamente com Deus. Vou falar dos meus sonhos, das minhas ansiedades; vou falar dos medos e dos traumas que insistem em me perturbar o sono e os sonhos. Vou falar dos planos que tenho para mim e para minha família. Vou pedir que me ajude a eliminar a aridez do meu coração e me dê condições de viver junto às fontes de água limpa que Ele mesmo preparou para mim. E você, o que pretende fazer? Tenho a impressão de que Acsa já nos deu uma boa dica.
Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.