Grandes Mulheres - Abigail

“O homem se chamava Nabal; sua esposa, Abigail, era uma mulher inteligente e bonita. Mas Nabal, descendente de Calebe, era um homem rude e perverso em tudo que fazia.”                

I Samuel 25:3

Dias desses, mais especificamente no dia 08 de março, falamos nessa série de devocionais, a respeito de Eva – a primeira de todas as mulheres. Naquele dia, me lembro de ter citado a famosa frase de Adão, absorto como estava, por sua beleza: “Esta é osso dos meus ossos, e carne da minha carne!” (Gn 2:23). Ainda que nos cause uma certa estranheza, as palavras de Adão tinham um profundo significado. Sua intenção, como explicam diversos comentaristas bíblicos, era deixar evidente o que estava em seu coração. Reconheceu, no instante em que a viu, que ela completaria, em toda a sua existência, aquilo que lhe faltava. Ela seria resistência, quando lhe sobrasse força; seria emoção, quando lhe sobrasse razão.

Adão parecia já antecipar os momentos em que lhe faltaria sensatez e equilíbrio emocional, carecendo da mulher para lhe acudir em situações de perigo eminente. Eva seria, também a ligação mais forte entre o casal e os filhos, quando sobrasse, em Adão, preocupações com a manutenção da casa; ela estaria emocionalmente mais conectada à felicidade da família, enquanto ele estaria mais preocupado com a segurança do lar. Ainda que resistência, emoção, afeto e interesse pela felicidade da família sejam características presentes na realidade masculina, elas são mais evidentes na estrutura física e emocional da mulher. A história de hoje é um exemplo do que estamos tentando dizer.

O contexto dos acontecimentos revela Davi, já ungido rei de Israel, porém fugindo de Saul que queria matá-lo a qualquer custo. Isolado onde estava, acabou se encontrando com os servos de um homem muito rico chamado Nabal, que apascentavam os rebanhos de seu senhor. Enquanto estiveram por ali, Davi e seus mais de seiscentos homens de guerra ofereceram abrigo, proteção e cuidado, não apenas aos servos, mas também aos rebanhos de Nabal, sem qualquer custo para o proprietário. Era de se esperar que Nabal ficasse feliz em recompensar Davi e seus homens por impedirem que ladrões e saqueadores lhe causassem muitas perdas.

Davi, então, envia mensageiros de forma respeitosa e humilde, à casa de Nabal, pedindo que este lhe ofereça alguma provisão para alimentar seus homens. A resposta de Nabal faz justiça ao significado de seu nome – “tolo, sem juízo”. Não apenas nega o presente como faz uma série de insultos a Davi, considerando sua condição de fugitivo e a possibilidade de serem mentirosos os mensageiros que chegaram à sua casa. “Quem é esse tal de Davi?”, perguntou-lhes Nabal. “Quem esse filho de Jessé pensa que é? Hoje em dia, há muitos servos que fogem de seus senhores. Devo pegar meu pão, minha água e a carne dos animais que abati para meus tosquiadores e entregar a um bando que vem não se sabe de onde?” (I Sm 25:10 e 11).

Nabal faz questão de colocar suas posses acima da opinião de sua esposa, que certamente já o havia livrado de outros perigos nos quais ele se metera, como também olvidou o testemunho dos servos que foram amparados no deserto por Davi e seu exército. Manda embora os mensageiros do futuro rei de Israel, sem considerar o perigo que corria. Orgulhoso como era, não se daria ao dever de dividir com aqueles homens o que lhe custara algum trabalho. Se Davi estava com dificuldades para alimentar seu exército, não era de suas posses que o ilustre desconhecido atenderia suas necessidades.

A resposta caiu como uma bomba nos ouvidos de Davi, que de maneira tão insensata quanto a atitude de Nabal, junta quatrocentos de seus homens de guerra e sai em direção à casa de Nabal. “De nada adiantou ajudarmos esse sujeito” – disse Davi. “Protegemos seus rebanhos no deserto, e nenhum de seus bens se perdeu ou foi roubado. Mas ele me pagou o bem com o mal. Que Deus me castigue severamente se eu deixar um homem ou menino vivo na casa de Nabal até amanhã de manhã!” (I Sm 25:21 e 22). Dois homens orgulhosos e insensatos vão precisar de ajuda para aprenderem uma grande lição. Deus vai escolher uma mulher para a grande aula do dia.

Não há nenhum registro das razões que levaram Abigail a se tornar esposa de Nabal. Sua beleza e sabedoria contrasta com a impetuosidade e arrogância de Nabal. Ao ser informada dos fatos, por alguns dos seus servos, tratou de concertar os erros cometidos, achando que estaria ajudando apenas o marido, e preservando sua vida e segurança. Vai descobrir mais tarde, que sua decisão de colocar-se nas mãos de Deus, e dar-Lhe todo crédito do que estava fazendo, levaria o futuro rei a reconhecer que falhara em dispor-se a tirar a vida de inocentes, pelo simples fato de ter sido contrariado e ofendido.

Abigail traz provisões de alimentos para Davi e seus homens, assume, humildemente, a culpa de seu esposo, e indiretamente orienta a postura do futuro rei. Suas palavras vão além do possível ato de vingança de Davi; demonstram a sensatez e o discernimento, que naquele instante, faltavam ao ofensor e ao ofendido. “Por favor, perdoe-me se o ofendi de algum modo. Que o Senhor lhe conceda uma dinastia duradoura, pois está lutando as batalhas do Senhor. Que ele o livre de fazer o mal durante toda a sua vida! (I Sm 25:28).

Ao lembrar Davi que ele lutava as batalhas do Senhor, Abigail, mais uma dessas Grandes Mulheres, corrige, indiretamente, a rota daquele grande guerreiro. No momento em que conversavam, a motivação de Davi nada tinha que ver com os planos que Deus havia estabelecido para ele. Tivesse ele consultado o Senhor, logo saberia que não deveria fazer nenhum mal a Nabal. Se ela não tivesse aparecido, Davi teria deixado uma marca muito negativa em sua história, e colocaria em risco sua autoridade como rei de Israel. Abigail, bela e inteligente como era, completou, de uma só vez, o que faltava a Nabal e Davi. Sua sabedoria e humildade, e não apenas sua beleza, chamaram a atenção de Davi de tal forma que ele a tomou por esposa após a morte de Nabal, dez dias depois do incidente relatado. Fez questão de tê-la em sua companhia, provavelmente por perceber sua disposição de servir ao Senhor, mesmo em situações de crise e grande tensão.

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Marcilio Egidio - Marcilio - Egidio - Coletivo Cafarnaum

Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.