A multidão continua ali. Não conseguem arredar o pé. Talvez nunca tivessem visto alguém tratar os fariseus com tanta coragem e ousadia. Quem sabe a surpresa tenha sido causada pela oferta de perdão apresentada. Talvez houvesse alguns na multidão que estivessem torcendo para que Jesus os vingasse de tanta opressão causada pelo tratamento que recebiam dos fariseus. A multidão sempre reúne os mais diferentes motivos para se juntar…
Certeza é que o primeiro grupo já havia se retirado quando Jesus se levantou. Agora já não mais escrevia na areia. Talvez já tivesse até mesmo apagado com os pés o que havia escrito. Estava novamente em pé. Tinha outra intenção em mente. Queria dar um recado à multidão, mas se valeu da presença daquela mulher. Tinha a intenção de deixar um registro importante em suas memórias, de forma que essa história pudesse chegar aos nossos ouvidos. Tinha algo para ensinar à humanidade.
“Onde estão os teus acusadores?” – pergunta o Mestre, realmente interessado na resposta. “Nenhum deles te condenou?”
Pergunta não porque não saiba a resposta; Sua especialidade é provocar a mente, mexer com os sentimentos e estruturar novas convicções em Seus ouvintes. Imagino que nesse momento um turbilhão de pensamentos permeiam a mente daquela mulher. Por enquanto, como resposta, só oferece o óbvio, mas já é mais do que suficiente.
O Mestre não esperava que desse satisfações do ocorrido; não pediu um relatório das últimas dez ou doze horas. Não quis saber a identidade do homem com quem cometera o adultério. Sua agenda tinha outros compromissos mais importantes, e a prioridade número um, naquele instante, era salvar a filha de Deus que estava ali, à Sua frente. Outro detalhe muito importante: a acusação não é parte do expediente de Deus. A divindade preocupa-Se em nos convencer “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8), pela ação do Espírito Santo, mas a acusação tem outra fonte.
Há um capítulo comentando esta mesma história no livro “Graça – mais do que merecemos, maior do que imaginamos – de Max Lucado. Nele o autor escreve: “Condenação – a mercadoria preferida de Satanás. Ele repetirá o cenário da mulher adúltera sempre que você permitir, conduzindo-o pelas ruas da cidade e jogando o seu nome na lama. Ele o empurra para o meio da multidão e escancara seu pecado em alta voz: Essa pessoa foi apanhada no ato de imoralidade…, estupidez…, desonestidade…, irresponsabilidade”.
Mas na cena que estamos acompanhando esta semana, há Alguém que pode fazer toda a diferença. “Na presença de Deus” – diz Max Lucado – , em oposição a Satanás, Jesus Cristo ergue-se para defender você”. A Graça é um Deus que se levanta! Foi pendurado para morrer numa cruz, mas ao terceiro dia se levanta na tumba de José, vencendo a morte e o pecado, ao mesmo tempo em que silenciava o Inimigo.
As palavras dirigidas à mulher naquela manhã tinham como destino o coração da humanidade. Ele queria que eu as ouvisse, e hoje está falando com você também, mais uma vez. Contrariando toda lógica humana, o justo Filho de Deus morre crucificado, para nos oferecer participação imerecida em Sua vitória. O tempo todo, tinha como objetivo principal revelar o caráter do Pai, que o enviou para ser a maior e melhor declaração de amor que a humanidade já ouviu – e viu! Viveu para servir de referência. Morreu para servir de resgate. Ressuscitou para dar esperança e voltará para derrotar definitivamente o Acusador.
Ás vezes fico imaginando a cena daquela mulher tentando explicar o que acontecera. Sentada, a beira do rio, tenta encontrar palavras para descrever o rosto e a expressão do Mestre às suas vizinhas, enquanto lavam a roupa e conversam sobre a vida. Curiosas e intrigadas com sua felicidade, as amigas querem saber os detalhes do dia em que ocorreu o fato mais comentado dos últimos dias. “Fiquei sem saber o que fazer, e o que dizer!” – é tudo que consegue responder. “Não tenho a menor ideia de como explicar. Aquele homem contrariou todas as minhas expectativas, só pra me oferecer algo que eu sabia não merecer.
Em Brasília tenho alguns amigos que carinhosamente me chamam de Egídio. Gosto disso. Me faz lembrar quem sou e de onde vim. Me levam, nas asas da imaginação, de volta à minha origem simples, e minha infância em Guarulhos – SP. Entre esses amigos está uma mulher forte, de opinião igualmente forte. Guerreira na busca dos sonhos e uma leoa na defesa das filhas e da família. É da Nayara Priscilla a indicação musical de hoje.
Enquanto ouvia a canção, imaginei os fariseus deixando de lado sua tentativa de apedrejamento da mulher e prisão de Jesus. Imaginei a curiosidade da multidão tentando ver o que Jesus, inclinado como estava, escrevia na areia. Imaginei a mulher levantando a cabeça e vendo diante dela Alguém, que lhe oferece ajuda para levantar, faz questão de deixar claro que não tem interesse em julgar.
Quando penso numa tentativa de explicar todo esse amor, me vejo sem saída e sem recursos, logo desisto. Prefiro simplesmente aceitar e agradecer. Se isso acontece com você também, fique tranquilo. Por vezes, a ausência das palavras revela a grandeza da experiência, e a realidade do silêncio a mais pura manifestação de gratidão!
A sugestão de música para ilustrar nosso Devocional de hoje vem de Brasília, DF, e quem nos enviou foi:
Nayara Priscilla
Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.