GLÓRIA, SANTIDADE E BONDADE (2)
“No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor. Ele estava sentado em um trono alto, e a borda de seu manto enchia o templo.” Isaías 6:1
Moisés, como vimos ontem, havia feito um pedido especial. Sua vontade era ir um pouco a diante na experiência que o Criador já lhe proporcionara. Ele queria poder estar na presença de Deus e ver, de maneira mais próxima, a Sua glória, mas seu pedido foi temporariamente suspenso. Na ocasião, Deus fez passar diante dele a Sua bondade e isso foi suficiente para acalmar o coração daquele grande homem.
Dias antes, no entanto, o Senhor pedira a Moisés que subisse o monte na companhia de outros setenta e três homens e se revelara a seus servos sem estender a mão, como faria depois, e se permitiu ser visto por ele, Arão seu irmão, os filhos de Arão e setenta dos anciãos de Israel (Ex 24:10). Por que, então, não lhe permitira uma espécie de ausência particular, já que do próprio Moisés se declarou que “ o Senhor falava com ele face a face, como quem fala com um amigo”? (Ex 33:11) E quanto a Isaías, e outros profetas, que viveram a experiência de ver o trono de Deus, e Sua glória, sem nem mesmo ter pedido?
Talvez pudéssemos considerar uma porção de outras questões aqui sem contudo chegar a uma conclusão que pudesse agradar a todos. O mais certo de tudo, e creio exatamente nisso, é que sendo Deus quem é, criador soberano e o único digno de receber toda honra e louvor, Ele não me deve satisfação alguma do que faz ou deixa de fazer. É Ele quem decide como, quando, onde e porque deve apresentar-se a mim – e geralmente o faz das maneiras mais inusitadas. Ao me lembrar da história de Elias, percebo que Deus nem sempre faz uso de manifestações impressionantes para falar com Seus filhos. Ele pode fazê-lo, inclusive, por meio de uma brisa suave.
Max Lucado, em seu livro Ouvindo Deus na Tormenta, conta que certa vez Francisco de Assis convidou um jovem monge a acompanhá-lo num compromisso missionário. Na ocasião pregaria na cidade e seria muito bom ter a companhia de alguém. O convite, claro, encheu o coração do jovem monge de alegria e sentiu-se honrado com o convite. Os dois então passaram o dia percorrendo a rua principal e as secundárias. Conversaram com comerciante, cumprimentaram os moradores, e depois de algum tempo, tomaram o caminho de volta para a abadia.
O jovem ficou incomodado com o que acontecera, afinal, o plano era ir à cidade para pregar. Tal incômodo o levou a perguntar a Francisco de Assis sobre o compromisso anunciado mais cedo e o aparente esquecimento de seu mestre.
“Meu filho, respondeu ele, nós pregamos. Fomos vistos por muitos. Nosso comportamento foi observado de perto. Nossas atitudes foram avaliadas com rigor. Nossas palavras foram ouvidas indiretamente. É por isso que já pregamos o nosso sermão da manhã”.
E onde quero chegar com toda essa conversa?
Muito bem, há algumas lições importantes aqui, e entre elas podemos mencionar o fato de que (1) poder estar na presença de Deus será sempre uma experiência especialmente marcante e transformadora, (2) por ser soberano, cabe a Deus decidir onde, quando e como revelar-se aos Seus filhos. Além disso, (3) Ele não precisa de manifestações espetaculares para tornar-se acessível e (4) essas manifestações “mais simples” não diminuem a Sua santidade.
Olhar por esse lado me faz entender melhor a maneira como Deus decidiu declarar Seu amor por mim e minha família, ainda que, como Moisés, Isaías e outros mais, eu ainda não tenha tido uma “visão” específica do trono de Deus e Sua glória. Percebo que Ele continua tomando a iniciativa de sair ao meu encontro sempre que preciso de Sua ajuda. Lembro que nunca me deixou só, e as vezes em que me senti sozinho foi porque tomei a decisão de deixá-Lo de lado por um tempo.
Mas também me dou conta de que tem usado pessoas como uma extensão de Seus braços, quando quer me abraçar. Amigos especiais como manifestação de Sua voz, quando decide falar comigo e trazer paz ao meu coração. Aliás, de uma coisa tenho certeza – Ele me deu os melhores amigos do mundo!
Estou cercado de gente de primeira grandeza. Homens e mulheres que dão sentido a uma porção de coisas na minha vida. Percebo que são manifestações da Graça que me acolhe e me faz sentir que sou especialmente amado pelo Eterno. Gente que se tornou parte da minha família e com os quais quero viver a eternidade na companhia, e presença, do Senhor.
Em situações específicas, porque não precisam ser necessariamente especiais, percebo a importância de reconhecer uma chamada de vídeo, uma conversa no celular, um recado nas redes sociais ou mesmo um bilhete que me chega à mão, como um sinal de que Deus está tentando falar comigo, e aquele momento, guardada as proporções, claro, envolve tanto respeito quanto o exigido de Moisés diante da sarça, quanto reconhecimento de minhas limitações como demonstrado por Isaías.
Por isso, hoje minha oração será: Deus, muito obrigado por manifestar a Tua bondade e teu amor mim. Por favor, continue cuidando com muito carinho dos meus amigos. Cuida daqueles que aceitaram o desafio de se permitirem ser usados por Ti para me comunicar o Teu amor e Tua graça. Oro por todos, e cada um, que têm me ajudado a compreender, cada vez melhor, o Teu cuidado por mim e minha família. Ajuda-me a compreender a grandeza do Teu plano para nós toda vez que nos encontrarmos, ou nos falarmos. Dá-me a consciência da relevância e da santidade envolvida em alguns desses encontros, por entender que são meios pelos quais Tu escolheste falar comigo. Amém!
Marcílio Egídio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.