DEVOCIONAL - T2 | E17

Força ao Cansado

 

Dá forças aos cansados e vigor aos fracos.” Isaías 40:29

 

O livro de Isaías é uma obra singular. Ele inicia uma importante seção na Bíblia Hebraica chamada Profetas Posteriores e é o livro mais longo desta parte. Você provavelmente já o leu por inteiro, caso contrário, sugiro que o faça o quanto antes. Nossos devocionais aqui apenas tomam pequenas porções como exemplo de sua grandiosa mensagem, mas é claro, há muito mais para explorar e descobrir em suas páginas.

Nosso verso de hoje trouxe à tona, registros guardados na minha memória, que me remetem aos tempos da minha juventude. Evidentemente, o fato de estar perto de completar meio século de vida, não propõe que eu tenha sido jovem há tanto tempo. Os fatos que são narrados aqui, poderiam ter sido vividos na juventude de uma semana atrás – só que não!

Me tornei membro do Clube de Desbravador aos 09 anos. Estava perto de completar os 10 anos de idade quando me permitiram participar das primeiras reuniões, sob o argumento de que seria muito bom se eu me tornasse membro  tão logo quanto possível.

Talvez você não conheça o Clube de Desbravadores, mas trata-se de um ministério da Igreja Adventista, fundado em 1950, voltado para juvenis de 10 a 15 anos. Hoje são cerca de 1,5 milhão de jovens, espalhados por 160 países e divididos em mais de 36 mil clubes. No Brasil são mais de 258 mil membros, divididos em pelo menos 7.400 clubes. As atividades do Clube estão voltadas para a descoberta do amor de Deus, declarado em Sua palavra, mas também na Natureza – nosso maior campo de pesquisas e aventuras.

O tempo foi passando e logo me tornei adulto e membro da diretoria do Clube Kerigma, em Guarulhos-SP. Lembro-me, como disse, de um acampamento que planejamos para o final de semana prolongado por conta do feriado de carnaval. Equipamento e suprimentos conferidos, horários e regulamentos estabelecidos, roteiros e meios de comunicação combinados. Tudo quase perfeito! No dia e hora marcados, lá estavam todos da nossa Unidade (é assim que chamamos os grupos menores na estrutura do Clube). 

A saída é sempre igual. Pais desejando boa sorte ao mesmo tempo que solicitam uma lista gigante de cuidados a serem tomados; mães ansiosas perguntando, pela milésima vez, o dia e hora do retorno, enquanto conferem item por item os equipamentos de segurança e higiene pessoal. A festa é sempre a mesma, porque a garotada, ainda que descubra mais tarde, que esqueceram uma porção de coisas que gostariam de levar, percebem que a alegria e a expectativa de viver novas experiências eles trouxeram de sobra. E aquele nosso acampamento de carnaval foi realmente abençoado. A volta, no entanto, ficaria marcada para sempre na minha vida.

Acampamos numa região de serra, próximo a uma pequena corrente de água que daria numa cachoeira mais adiante. A ida envolvia um longo trecho de descida , e descer é sempre mais fácil, ainda mais quando estão todos descansados e animados. Subir, com todo o equipamento que levamos, depois de um final de semana prolongado, dormindo em barracas e fazendo um montão de atividades…! Bem, aquela não foi uma das tarefas mais fáceis.

Lembro-me de enviar os meninos na frente, com dois outros adultos, a fim de que fosse providenciado para eles algo com o que se alimentarem próximo à estação de trem, de onde partiríamos para casa. Ficamos um amigo e eu para levarmos a parte mais pesado do equipamento. Enquanto subíamos aquela montanha que mais se perecia com o Everest, as energias foram se esgotando e já estávamos a ponto de desmaiar, quando resolvemos parar para ver se havia algo para comermos, entre as coisas que levávamos. Minha esperança, naquele momento, estava no meu companheiro de labuta, o Luciano, porque ele tinha sido nosso cozinheiro todos aquele dias.

Não quero aqui tomar muito mais o seu tempo, por isso vamos aos ingredientes da nossa maravilhosa refeição: um pouco de água; um pacote e meio de macarrão instantâneo; um pouco de milho verde e um pouco de ervilha. Como pareceu muito pouco (até porque era um pouco de cada mesmo), reviramos as mochilas em busca de um adicional. Encontramos um pouco de aveia; um pouco de leite em pó e um pouco de leite condensado. Claro que não colocamos o leite condensado na panela, onde todos os outros ingredientes foram adicionados. O leite condensado ficou para decorar o prato, digno de um Master Chef. Quando tivemos a impressão de estar em condições de comer, dividimos por dois aquela gororoba que mais tarde chamaríamos de manjar dos deuses, afinal, a fome também dá sabor à refeição.

Pronto! Estávamos recuperados. Foi como dar uma carga rápida na bateria do automóvel. Agora poderíamos seguir adiante e nos encontrar com o restante do grupo.

Quando leio o verso de hoje, me lembro que Deus não se utiliza de recursos como esses para renovar as minhas forças e recuperar minha energia. Ele não faz uso de expedientes de segunda categoria como se Lhe faltasse os recursos de primeira linha e em quantidade que excedem a minha necessidade. Melhor que isso tudo,  me lembro que Ele não se detém às minhas limitações quando o assunto é colocar-me em pé, firmar meus passos e mostrar o melhor caminho. Deus nunca vai juntar um “pouco de cada coisa” que sobrou para dizer que me ama e cuida de mim. As vezes em que recebi só “um pouquinho” foi porque estava com as mãos fechadas, ora por não querer receber, ora por não querer repartir.

Deus, muito obrigado por ser a minha força sempre que estive cansado. Muito obrigado por devolver-me o vigor nos momentos em que pensei não haver mais saída. Obrigado por não desistir de mim, e da minha família, a despeito de nós mesmos. Obrigado pela certeza de poder receber, de Tuas mãos, sempre mais do que mereço, com uma qualidade que eu não encontraria em nenhum outro lugar do Universo. Amém!

Quem Escreve:

Marcílio Egídio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.