DEVOCIONAL - T2 | E23

Filiação e Compromisso

 

“Eu sou o Senhor; este é meu nome! Não darei minha glória a ninguém, não repartirei meu louvor com ídolos esculpidos.” Isaías 42:08

Gosto muito de ver famílias reunidas. Gosto muito de participar de reuniões familiares. Me encanta uma reunião familiar que possa juntar três, quatro ou cinco gerações. Tenho sempre a impressão que quando estão todos juntos, apesar do barulho que a criançada faz, uma reunião assim enche de alegria o coração dos “velhinhos”. E quando digo velhinhos, não quero faltar com respeito, muito menos usar essa expressão de modo pejorativo. Falo de modo carinhoso e tomado, isso sim, pela inveja de querer algo parecido pra mim também – longevidade e companhia de pessoas amadas.

Geralmente, quando sou convidado a eventos como esses, isso mesmo, eventos, procuro me sentar próximo dos mais velhos para ouvir suas histórias. Gosto de testemunhar aquele brilho no olhar de quem já viveu o bastante para contar as histórias que achar melhor, sem a menor preocupação se ela faz ou não sentido a quem ouve. Essa gente bonita e, por vezes saudosista, tem uma habilidade incrível de me fazer querer ter tantas histórias encantadoras para contar, vividas num passado em que ainda nem imaginavam ter uma família tão grande, ou mesmo poder conhecer netos, bisnetos, e às vezes tataranetos.

O que chamo aqui de evento não precisa ser um programa especial, planejado com muita antecedência e uma lista exclusiva de convidados. Evento aqui é aquele almoço no final de semana proposto horas antes de acontecer, sem o menor planejamento ou preocupação com os trajes ou o cardápio do que será servido. A festa acontece pelo simples prazer de estarem juntos; pela alegria de poderem todos, inclusive os amigos convidados como eu, desfrutar da companhia dos mais velhos.

O verso de hoje me remete sempre a um outro do Velho Testamento. Nele também é o Senhor quem fala através do autor do livro do Êxodo, no verso 7 do capítulo 20. Sua orientação ali é: “Não use o nome do Senhor, seu Deus, de forma indevida. O Senhor não deixará impune quem usar o nome dele de forma indevida”. Esses dois versos, quando combinados ao verso 2 de Êxodo 20, ao mesmo tempo que me propõe grande honra ao ser identificado como filho de Deus, também me expõe a grandes responsabilidades. Considere comigo a ideia dessa combinação, e veja como passei a ler esses dois versos:

Porque “Eu sou o Senhor, seu Deus, que o libertou da terra do Egito, onde você era escravo”, verso 2, “Não use” o Meu nome, “o nome do Senhor, seu Deus, de forma indevida. Eu não deixarei impune quem usar o Meu nome de forma indevida”, verso 7.

Agora imagine, como já fizemos outras vezes, que o vô Jair, um grande amigo que conheci em Brasília, que me fez sentir como se fizesse parte da família dele, com quem almocei uma porção de vezes e conversei sobre um montão de coisas, tivesse me encontrado numa situação de rua, sem destino ou qualquer possibilidade de sonhar com dias melhores, e me levasse para a sua casa. Lá chegando, comunicasse à vó Rosa e aos demais que à partir daquele momento eu iria trabalhar com ele na marcenaria. Mais que isso, imagine que com o passar do tempo, o vô Jair surpreendesse a todos dizendo que me adotaria como filho,  me concedendo o privilégio do seu sobrenome e os mesmos direitos que os demais filhos. Daquele dia em diante eu também seria um Riguete.

E se, o seu Domingos, como eu gosto de chamá-lo, a pedido da vó Arlinda,  sua companheira de vida a mais de 70 anos, resolvesse me adotar e me conferir o privilégio de ser o mais novo integrante da família Borges, família esta que, a despeito da adoção estará sempre no meu coração. Fico imaginando como seria viajar com ele aos recantos mais especiais da Paraíba, com a missão de cuidar de um “pedaço de chão” que ele tem por lá e buscar os produtos que seriam vendidos no interior do Goiás.

Já me peguei também, pensando na possibilidade de ser um Araújo, da casa do seu Adão e da dona Inês. Já me imaginei pescando com ele e ouvindo suas histórias de lutas e conquistas, saídas e chegadas. Aquelas vividas no território onde hoje é o Tocantins, e outras em Brasília, onde chegou cedo para trabalhar e viu nascer seus netos e bisneto. Seria uma grande honra e grande privilégio se, em havendo a necessidade e a possibilidade, viver uma parte dessas histórias que o ouço contando.

Há uma família de amigos, e São José dos Campos – SP, cujo patriarca eu teria o maior orgulho de chamar de pai – e eu já disse isso pra ele! Teria orgulho de ser um Ferreira, da casa do tio Luíz e da tia Cida. Com ele eu já vivi muitas histórias, tristezas e alegrias no clube de desbravadores. Minha admiração por ele veio antes de me tornar regional e coordenador de Campo. Juntos trabalhamos em eventos e treinamentos, e muito melhor que isso, aproximamos as nossas famílias de um jeito tão especial, que eles estão sempre em nossas orações.

Essas histórias todas, esses vôzinhos e vózinhas tão queridos e amados, essas famílias especiais de amigos do coração, me lembram da responsabilidade que eu teria de assumir caso me tornasse um membro oficial, nomeado e reconhecido legalmente. Teria de viver à altura da história que construíram e manter o legado que têm transmito às gerações mais novas. Teria de me esforçar o quanto pudesse para dar testemunho da minha felicidade e gratidão. Teria de honrar o novo nome recebido.

O terceiro mandamento, portanto, assume no meu coração uma importância que vai muito além de dizer o nome de Deus de maneira displicente. Ele me alerta do perigo de querer ser chamado de cristão e não estar disposto a viver uma vida semelhante a de Cristo. O verso de hoje me lembra que o nome do Senhor é Santo, e Ele não dividirá Sua glória com ninguém, mas ao chamar-me de filho, me concede o privilégio de ser conhecido por Seu nome, justamente por mudar a minha realidade da escravidão para uma vida de liberdade. Ao dizer que o aceitei como meu Salvador, e Senhor, estou também declarando que aceitei a responsabilidade de viver uma vida digna de ser reconhecido como representante dEle, aqui nesta Terra.

Seria um privilégio ser um Riguete, da casa do vô Jair e da vó Rosa, ou um Borges, da casa casa do vô Domingos e da vó Arlinda. Seria uma honra ser Araújo, da casa do vô Adão e a vó Inês, assim como seria bom demais ser um Ferreira, da casa do tio Luíz e da tia Cida; mas seria necessário honrá-los, como gratidão pelo benefício de ter sido feito membro de suas famílias. Hoje, minha oração se dará pelo desejo de ser um verdadeiro representante de Cristo por onde quer que eu andar. Ele me salvou. Ele me livrou da escravidão. Ele deu-me o direito de ser reconhecido como filho de Deus, e por isso devo cuidar em não usar indevidamente o Seu santo nome, porque “o Senhor não deixará impune quem usar o nome dele de forma indevida”.

Senhor, reconheço que não há privilégio maior que o de ser reconhecido como teu filho. Reconheço a grande honra que me foi concedida no momento em que decidi aceitar ser declarado teu. Agora, dá-me forças e sabedoria para viver uma vida de testemunho à altura das Tuas expectativas, em conformidade com a grandeza do Teu nome. Amém!

Quem Escreve:

Marcílio Egídio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.