Explosão de Alegria
“Mas todos que restaram gritam e cantam de alegria; os que moram no oeste louvam a majestade do Senhor.”
Isaías 24:15
Confesso que durante muito tempo tive muita dificuldade de saber ao certo que tipo de reações, ou manifestações de gratidão e alegria, poderiam agradar ou ofender a Deus. Imaginava, ao mesmo tempo, um Deus sério demais para olhar com bons olhos as reações mais extravagantes, e simpático o bastante para esboçar um sorriso, inclusive, diante do meu constrangimento por não saber o que dizer para manifestar a minha gratidão.
Há alguns anos, uma boa conversa que tive com um amigo me levou a considerar a ideia de fazer distinção entre louvor e adoração. Até aquele momento eu ainda não havia pensado na possibilidade de separar as duas coisas como meio de facilitar a minha devoção, ou mesmo tornar um pouco mais claras, para mim, as minhas reações diante de Deus. Não quero, no entanto, convencê-lo de que estou plenamente certo, ou que você deve me acompanhar nessa forma de pensar, mas apenas abrir meu coração contigo e dizer o benefício que resultou em minha vida a partir do momento em que aquela conversa se deu.
Conversávamos num acampamento que reuniu centenas de jovens, exatamente no momento do louvor. Começamos o nosso papo considerando o fato de que pessoas diferentes reagem de forma diferente a estímulos iguais. Conheço gente, por exemplo, que ao ouvir uma determinada canção simplesmente cai aos prantos, enquanto outras tentam socorrê-las, procurando saber o que aconteceu, por não sentirem absolutamente nada. Sendo assim, e exatamente por serem diferentes, cada pessoa vai louvar, e adorar, de um jeito, e numa intensidade, que lhe é particular, e posso dizer que seja até exclusiva.
Qual seria, então, a diferença entre louvor e adoração, a que me referi no início dessa nossa conversa aqui? Deixe-me criar uma situação, na tentativa de ilustrar o que quero dizer. Imagine que você foi convidado para uma festa infantil de aniversário. O aniversariante é alguém que você ama e tem o privilégio de conviver tão próximo que foi muito fácil descobrir qual seria o presente que ele mais aguardava receber. Você reúne as condições necessárias, faz as suas economias e elabora um plano, não apenas de comprar o objeto de desejo da criança mas uma forma muito especial de entregá-lo. No dia da festa, depois de criar um clima de expectativa, você finalmente faz chegar às mãos da criança o tão aguardado presente.
Penso que a reação do aniversariante será, via de regra, chegar o mais rápido possível ao conteúdo do pacote. Ele não está preocupado com o tempo que a atendente investiu, tentando tornar o pacote o mais atraente possível. Ele não está interessado em papel, ou mesmo na arte de dobrar e embalar, ali exposta. Ele vai rasgar o embrulho como se não houvesse amanhã. Ele quer saber se é mesmo o que ele imagina que seja! E ao descobrir que seu pedido foi atendido, uma manifestação eufórica de alegria toma conta dele mesmo – porque não consegue reagir de outra forma.
Animado como ficou com o brinquedo novo, e tão aguardado, que recebeu, sai correndo e chamando os amiguinhos convidados para descobrirem juntos as funcionalidades de sua mais nova aquisição. Não consegue se conter. Às vezes tem até dificuldade de permitir que os amigos tenham acesso ao brinquedo novo. Outras vezes decide guardar para brincar depois, sem correr o risco de quebrar já no primeiro dia.
Em meio a este quadro de alegria e contentamento, a mãe do aniversariante vai lembrá-lo de algo que ficou faltando… Ele de tão feliz que ficou, saiu correndo e gritando, mas esqueceu de agradecer! É nesse momento que o menino percebe que foi alvo de uma declaração de amor, carinho e cuidado, entregue em forma de presente de aniversário. Percebe que alguém se esforçou para fazer o seu dia mais feliz. Lembra que ele mesmo não teria condições de comprar, mas alguém se organizou para tornar o sonho uma realidade.
Então, ele volta. Ainda tem o brilho nos olhos, talvez até algumas lágrimas, mas volta em silêncio, pensando em tudo que seria interessante e oportuno para dizer. Mas é uma criança. Não tem as palavras elaboradas, e as vezes fingidas, dos adultos. Veio treinando o que diria no caminho, mas agora, como símbolo e expressão de seus sentimentos mais profundos, te oferece um abraço nas pernas, porque é pequeno demais para te abraçar na altura dos ombros. A cena se completa quando você se abaixa, toma o garoto no colo e, enquanto o aperta ao seu peito, aproximando os corações, você o ouve dizendo: “_ Obrigado, tio. Muito obrigado!”
Louvor, para mim, está para as reações do momento em que se recebe o presente, assim como adoração está para a hora em que o garoto volta pra agradecer. Louvar está ligado à manifestação eufórica, inclusive, que expressa toda a nossa alegria por receber mais um ato da graça e da misericórdia de Deus. Deveria ser uma explosão de contentamento que contagiasse a todos os que estão a nossa volta. Deveria expor o brilho do nosso olhar ao descobrir o que estava “escondido” pelo embrulho do pacote. Deveria…, porque nem sempre tem sido assim.
Por isso, nosso verso de hoje, nos convida a lembrar das grandes coisas que o Senhor tem feito por nós, e os sonhos que Ele tem tornado reais em nossa vida. Nos convida a gritar e cantar de alegria, louvando a majestade do Senhor. Nos leva a tomar consciência de que é importante demonstrar a nossa satisfação em servi-lo, e tornar o nosso louvor num testemunho aos moradores deste planeta. Que sejam, o meu louvor e o teu, uma manifestação explosiva, quando oportuna, da nossa alegria e felicidade em receber de Deus muito mais do que merecemos.
Marcílio Egídio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.