Eu – Discípulo

Jesus disse aos judeus que creram nele: “Vocês são verdadeiramente meus discípulos se permanecerem fiéis a meus ensinamentos. Então conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”.  João 8:30 e 31

Os eventos que se sucederam, sob a ótica relatada pelo evangelho segundo João, evidenciam que os sacerdotes e fariseus continuavam interessados em encontrar alguma falha no decurso de Jesus. Ainda que alguns tenham, talvez, aproveitado o constrangimento daquele fatídico encontro, quando Cristo lhes anunciou as falhas sem dizer absolutamente nada, a maioria, pelo que se percebe, insistia em seguir o caminho contrário ao oferecido pela Graça. O restante do capítulo 8 de João apresenta outras oportunidades que o próprio Mestre oferece àquele grupo preconceituoso, orgulhoso e arrogante.

Mas há ainda um grupo que testemunhara o encontro de Jesus com a mulher adúltera. Quase todos haviam sido convidados pelo Mestre a participar de uma experiência muito especial. Alguns foram movidos pela curiosidade e pediram por uma audiência particular, para tirarem algumas dúvidas; outros, embora já tivessem ouvido falar de Jesus, e do testemunho de João Batista, relutaram um pouco até se convencerem de que o melhor a fazer era seguí-lo.

Também havia entre eles alguns que simplesmente não resistiram ao convite do Mestre ao convidá-los. Sua proposta para se tornarem pescadores de homens era no mínimo curiosa, e decidiram acompanhá-Lo para saber mais dAquele Rabi que ensinava de uma maneira bem diferente de todos os demais.

Se eu fosse um deles, a essa altura dos acontecimentos, estaria com a cabeça em parafuso, afinal, se não bastasse a insistência do Sinédrio, ainda teria na mente a imagem da mulher sendo perdoada e enviada para casa. Quem sabe tivessem pensado em perguntar a Jesus, no final daquele dia, o que realmente estava acontecendo. Eu talvez passaria a noite discutindo, com os demais discípulos, que intenções havia no coração do Mestre ao nos permitir viver uma experiência como aquela. Imagino que recorreria ao episódio vivido pelo rei Salomão, quando sugeriu partir a criança ao meio, ao tentar identificar a verdadeira mãe da criança em questão, e comparar a sabedoria demonstrada pelo rei e por Jesus. Tenho a impressão que Jesus tinha planos bem específicos para o grupo de discípulos.

Ao perdoar aquela mulher, vemos resplandecer o caráter de Mestre através de seu senso de justiça. Ainda que não se agrade do pecado e não alivie as consequências do mesmo na vida do pecador, Jesus, ainda hoje, não usa do expediente da condenação e do medo para transformar o pecador. Sua intenção sempre foi,  e será, salvar. Ao anunciar os últimos acontecimentos da história deste mundo de pecado, o Criador, nas palavras escritas por João, no Apocalipse, revela que chegará o tempo em que a justiça de Deus será servida numa taça, mas desta vez, sem mistura. Até lá, por mais improvável que possa parecer, Ele será ao mesmo tempo justo e misericordioso.

Jesus, ao considerar o pouco tempo que Lhe restava, pretendia ensinar aos discípulos que “quem não é seguidor de Cristo aquele que se afasta dos que erram, deixando-os desimpedidos para prosseguir rumo ao abismo”. Na contra mão do comportamento humano, que demonstra uma facilidade enorme em se aborrecer com o pecador, porque ama o pecado, Cristo procurava exercitar em seus discípulos a disposição de aborrecer o pecado e continuar amando o pecador. Não foram poucas as vezes em que O encontramos dizendo aos discípulos que o amor seria sua marca distintiva.

Ellen White, certa vez escreveu: “O amor cristão é lento em censurar, rápido para discernir o arrependimento, pronto para perdoar, para animar e para colocar o que está perdido no caminho da santidade”. Ao oferecer a todos os que ali estavam, uma nova oportunidade, Jesus estava dizendo ao discípulos que acompanhassem o seu exemplo ao tratar com as pessoas, quando Ele não mais estivesse entre eles.

Dos grupos ali representados, há ainda hoje, aqueles que a exemplo do que decidiram os fariseus, saem constrangidos da presença de Deus e decidem continuar sua vida de confronto à verdade apresentada e à misericórdia oferecida. Outros, representados pela mulher adúltera, recebem a Graça como uma oportunidade de mudança e assumem um compromisso de gratidão a Deus, dedicando sua vida à expansão das fronteiras do Reino. Juntam-se, como aquela mulher, que abandonando sua vida de pecados, tornam-se fiéis seguidores de Jesus Cristo.

Hoje encontramos também aqueles que estão representados na multidão. Alguns são apenas curiosos, outros indiferentes. Há aqueles que estão realmente interessados, mas na multidão também encontramos os mal intencionados. A multidão é democrática e oferece uma aparente segurança e liberdade aos que acompanham de longe. Não exige compromisso, muito menos mudança. Mas este grupo precisa saber –  a palavra de Deus nunca volta vazia. Uma vez que foi ouvida, ela sempre provocará no ouvinte a necessidade de decidir.

Como disse esta semana, já me vi representado nesses três grupos, em diferentes fases e momentos da minha vida. Também me vi representado pelos discípulos, em meus desejo de fazer de Jesus Cristo meu modelo de vida, e Senhor Soberano da minha existência. Por vezes tenho sido surpreendido por lições importantes que Ele insiste em me ensinar. Sua especialidade é provocar-me com questões inquietantes, que abalam algumas estruturas que eu mesmo construí, para minha segurança, por saber que estavam firmadas na areia, pondo em risco a minha salvação. Quando penso que Ele insiste em andar na contra mão dos sonhos e projetos que estabeleço dia a dia, o Mestre me ajuda a perceber que apontei para o lado errado, e o final do meu caminho poderia dar em derrotas e frustrações. Quando em nossas conversas sou tentado a pedir por justiça acima de tudo, Ele me lembra que sou alvo da graça, e ainda que tenha levado Sua misericórdia ao limite, ela se renovará a cada manhã, permanecendo à minha disposição.

Não sei qual é o seu momento, muito menos a sua situação em relação a esta verdade, só tenho certeza de uma coisa: a graça, o perdão e a misericórdia de Deus ainda está à nossa disposição – e isso faz toda diferença!

Deixe aqui o seu comentário:

Compartilhe este conteúdo na rede:

Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.