Esquece Isso!
“Esqueçam tudo isso, não é nada comparado ao que vou fazer.” Isaías 43:18
Já estive em muitas festas de aniversário. Já realizamos algumas aqui em casa, mas elas geralmente em nada se comparam àquelas em que fomos convidados a estar. As festas por aqui quase sempre se limitam a uma reunião de família, o que já torna o grupo um tanto quanto grande, e alguns poucos amigos, mas gostamos de ter gente boa em nossa casa, para participar conosco da alegria de poder agradecer a Deus por mais um ano de vida que concedeu a um de nós (e a todos nós).
Outro dia fizemos algo exatamente assim. Foi o aniversário da minha pequena. Fizemos um almoço e juntamos alguns de nossa família. Nem todos puderam estar, mas foi muito especial poder passar uma parte do dia contando e ouvindo histórias. Brincamos um pouco, rimos quase que o tempo todo. Ao final do dia, depois de nos despedirmos de todos, lembro-me de estar com ela, minha filha, no elevador do prédio, quando ela disse: “É sempre muito bom estar com a nossa família. Eu gosto muito de poder passar o dia com eles!”
Nas festas de aniversário, ou em outros encontros de celebração, gostamos de contar os feitos ou eventos marcantes que envolvem o aniversariante, ou alguém a quem admiramos e está ali presente. Momentos da vida que ficaram registrados na memória e são passados dos mais velhos aos mais novos como uma herança tão valiosa quanto qualquer fortuna digna de um testamento. Quando consigo estar reunido com minha família percebo que ouvir as mesmas histórias ainda tem o mesmo valor a quem conta como o foi da primeira vez. Me dou conta que aqueles que viveram um bocado de experiências têm uma porção de histórias para contar. Talvez repitam algumas delas de vez em quando, não porque esquecem que já contaram, mas porque aquela história, aquele momento novamente anunciado e relatado, aquela lembrança, tem um valor que nunca seremos capazes de medir. Remetem à memórias e emoções que não podem ser definidas com palavras, por isso precisam “vive-las” novamente enquanto contam. No verso de hoje, porém, Deus parece estar sugerindo algo que vai na contramão dessa ideia.
Considere comigo, então, o efeito das histórias ruins ou momentos de grandes frustrações que já vivemos, em nossa qualidade de vida. Quando trazidos à tona sistematicamente, como se fossem as únicas lembranças que tivéssemos de nosso passado, desde o mais remoto ao mais recente, esses eventos podem produzir resultados desastrosos. Creio que essas lembranças, assim tratadas e supervalorizadas, podem sabotar a nossa autoestima e nos levar à depressão. Sendo assim, creio que o conselho divino, se considerado por esse ângulo, faz todo sentido, e esquecer-me de tudo pode livrar-me do peso sufocante dos pensamentos depressivos e da autoestima baixa.
Por outro lado, corro também o risco de, esquecendo-me totalmente dos momentos de insucesso e fracassos, supervalorizar as conquistas e os melhores resultados. Esse comportamento, excessivamente otimista e autoconfiante, pode me conduzir ao outro extremo da balança, fazendo-me achar que sou capaz de viver uma vida feliz e altamente produtiva, sem a necessidade da companhia ou da benção de Deus. Desta forma, e sob a ameaçada possibilidade de tornar-me orgulhoso e arrogante, faz-se importante ouvir o conselho do Eterno quando Ele mesmo diz: “Esqueçam tudo isso”, inclusive as coisas boas que já fizeram e os momentos felizes que já viveram, porque “não são nada comparados ao que vou fazer.”
Portanto sou aqui convidado a manter o equilíbrio inclusive das minhas memórias, porque Ele sabe o efeito delas na minha vida. Seu conselho se torna cada dia mais atual por conta da realidade do ser humano e das dificuldades que enfrento todos os dias. Sua proposta tem a clara intenção livrar-me do peso sufocante dos pensamentos depressivos, bem como manter-me livre das cadeias opressoras do comportamento orgulhoso e arrogante. “Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas”, diz o mesmo verso numa outra tradução, não porque Deus estivesse preocupado em não nos permitir contar as boas histórias num encontro de família, mas porque queria chamar a nossa atenção para o perigo do desequilíbrio e os efeitos dos excessos.
Hoje, minha oração será: Deus, torna a minha história num monumento em louvor aos Teus feitos. Dá-me entendimento e equilíbrio, de modo que na contagem dos meus dias, o meu coração esteja totalmente voltado a Ti. Toma, Senhor, a minha família em Tuas mãos e cuida dos detalhes da nossa história e existência. Permita-nos outras tantas reuniões quantas forem possíveis, e quando estivermos juntos, que seja para honrar o Teu nome e os Teus feitos em nós, por nós e através de nós. Amém!
Marcílio Egídio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.