Outro dia conversava com alguém que não consegue dormir. Revelou-me que passa noites inteiras com os olhos fechados, lutando contra pensamentos dos mais diferentes tipos. Não que pense o mal, ou alguma coisa ruim, mas suas preocupações quanto a uma porção de coisas não lhe permitem descansar direito. Passa madrugadas inteiras tentando antecipar eventos que espera manter sob seu total controle. Ansiedade!
Estamos cada vez mais interessados no futuro que em viver intensamente o presente. Cada dia que passa, observamos com tristeza, nossa tendência em sofrer com o que está totalmente fora do nosso controle. A pressa exercitada inconscientemente nas coisas mais simples da vida tem nos levado a querer todo o restante na mesma velocidade.
Por vezes paro para pensar em meu próprio comportamento, e da multidão que me cerca. Sentado na Praça de Alimentação de um shopping qualquer, me ponho a avaliar o que farei de bom e relevante com o tempo que economizei, ao me valer de uma refeição de baixa qualidade nutritiva e de sabor questionável. Verdade! E não estou comparando os chamados Fast Foods, de lanchonetes famosas, com comida de restaurante finos e comidas caras.
Já estive em lugares muito simples, que serviam comida simples, feita com calma, amor e paciência, em panelas de ferro, às vezes de barro, que cozinhavam lentamente sobre as chamas de um fogão de lenha. Outra coisa, outro sabor – uma experiência!
O tempo de espera até que a refeição fique pronta, geralmente é bem aproveitado por aquela gente sem pressa, que se dispõem a abrir mão de um micro ondas na hora de aquecer o almoço. Aproveitam para conversar, bater papo com gente que amam. Aproveitam para rememorar as melhores lembranças. Investem na alegria de poder experimentar outra vez, ainda que seja na memória, as mais belas histórias que nunca foram escritas por ninguém – estão na memória e no coração.
Mas eu tenho pressa. Sento-me para almoçar com o celular na mão, e me esforço para resolver um milhão de coisas, e falar com dezenas de pessoas, enquanto me alimento. Por vezes não dou a mim mesmo o direito de aproveitar a companhia de quem está à mesa comigo. Tenho de ganhar tempo. Se conseguir resolver tudo naquele instante, poderei passar mais tempo com minha família, minha esposa e meus amigos. Mentira, estou tentando justificar, outra vez, uma falha enorme no meu comportamento, porque à noite, quando finalmente chegar em casa, vou tentar resolver o dia seguinte, que ainda nem começou.
Essa minha tendência de querer controlar, antecipar, apressar e resolver, tem seus reflexos na minha casa. Estamos ficando cada dia mais ansiosos. Passamos a sofrer por antecipação. Temos pressa, e a demora nos incomoda cada vez mais. A ansiedade nos afasta uns dos outros, dia após dia, e de Deus também. Meu senso exagerado de urgência tem me tornado um filho mais exigente diante de um Pai que não está limitado ao tempo, e por isso não tem pressa em responder. Ele sim sabe o que é melhor para minha vida e talvez esteja tentando me ensinar a aproveitar melhor o tempo e as coisas boas da vida. Foi dEle mesmo o conselho para não ficar ansioso com aquilo que não posso controlar. Bastando a cada dia o seu mal, cabe aproveitar também, de cada dia, o seu bem.
Essa nossa ânsia pelo controle do futuro nos impede de entregar completamente a vida aos cuidados de quem pode realmente cuidar. Abrir mão do controle do tempo e vivê-lo na intensidade planejada por Deus é uma tarefa ao mesmo tempo muito difícil e altamente gratificante. Como sei disso? A despeito de mim mesmo, já vivi essa experiência, e todas as vezes foi bom demais.
Mas sou humano, teimoso e nada esperto. Volto a tentar assumir o controle. Desisto com muita frequência de esperar pelas respostas do Criador, ainda que saiba que seriam melhores que as saídas que escolhi para mim mesmo. Sei que Seus planos são melhores que os meus. Sei que está interessado em me oferecer uma vida mais tranquila e feliz. Sei que quer me devolver a paz e a alegria de uma convivência ainda melhor com minha família. Infelizmente, insisto em permanecer acordado, muitas vezes questionando até mesmo os planos de Deus e Sua maneira de administrar o tempo e as respostas. Infelizmente.
Mas não precisa ser assim. Não preciso insistir nesse caminho, e sempre que me volto para Ele sou acolhido com carinho e amor – aliás, amor é parte da essência de Deus, e Ele nunca deixará de me amar! Então, por que não aproveitar o dia cantando essa canção que nos lembra da expectativa de Deus em assumir o controle, se permitirmos, claro, e cuidar de todos os detalhes?
A sugestão musical para ilustrar nosso Devocional de hoje é minha:
Marcilio Egidio

Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.