Ontem à noite estive reunido, virtualmente, com um grupo de amigos, e esse foi o verso considerado em nosso estudo. Aliás, estar com os amigos é sempre um momento que me faz muito bem. Um bate papo que possa ser, ao mesmo tempo, honesto e respeitoso, que tenha a capacidade de envolver pessoas de idades diferentes, é por si só, uma benção. O excesso de tecnologia à disposição das gerações mais novas, infelizmente, tem os afastado de rodas de conversas como a de ontem, e o prejuízo é de todos, porque ontem, mais uma vez, tivemos a chance de aprender, também, com os adolescentes que estavam conosco.
A pergunta geradora da conversa foi basicamente nossa tentativa de descobrir o quanto dessa sabedoria, estatura e graça, oferecidas a Jesus, está ainda hoje à nossa disposição. Consideramos a possibilidade de Deus nos oferecer condições para que alguém, em algum momento, possa dizer o mesmo a nosso respeito ou a respeito de nossos filhos. Você já pensou nisso?
Talvez um dos impedimentos que eu poderia citar é o fato de ter sido Jesus um personagem especial, na história do mundo, no sentido de que, sendo Ele Deus Conosco, ter à sua disposição poderes especiais que Lhe eram particulares e exclusivos. Isso daria, claro, uma vantagem enorme a Jesus em relação a mim mesmo. É como se eu estivesse tentando me convencer de que é impossível crescer em “sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens”, justamente porque não sou Deus, como Ele sempre foi, e ainda vivo num mundo muito diferente daquele em que Ele viveu.
Fato é, que ter uma natureza diferente da minha não deu a Jesus nenhuma vantagem, pelo contrário. Ao decidir limitar-se para revelar o amor do Pai por mim, Jesus sofreu tentações que eu nunca terei de sofrer. Foi tentado a usar, em benefício próprio, recursos que não estão à minha disposição, e isso em todas as fases da Sua vida, inclusive, na infância e adolescência. Seus primeiros anos aqui na terra foram de uma vida simples, na companhia de Maria e José, que se aplicaram em Lhe oferecer a melhor instrução possível. Aos 12 anos, porém, já estava convicto de Seu papel como mensageiro do Céu, e mostrava-se diferente, não porque fosse melhor, no sentido de orgulhar-se por não ter pecado, mas em função de Sua íntima comunhão com o Pai – eis aqui a Sua fonte de poder.
No grupo de ontem também estava a minha prima irmã, como dizem os mais velhos. Nossos pais são irmãos – minha mãe é irmã do pai dela e meu pai irmão da mãe dela. Neidna Cilene é como foi registrada. Gosto desse nome, porque ela não divide comigo a alegria de ter o nome citado e escrito de formas muito diferentes do original, como também apresenta ao mundo inteiro a criatividade de nossos pais ao nomear seus filhos. Das frases mais famosas que ela gosta de citar, a minha preferida é “Quem canta ora duas vezes!”. Sinceramente, acho sensacional.
Conheço a Neidna desde que ela nasceu. Quem convive com a nossa família sabe desses detalhes que acabei de apresentar, mas quem nos acompanha um pouco mais de longe acha que somos irmãos. Eu particularmente acho que meus tios gostam mais de mim do que dela, mas essa é uma discussão interna que se arrasta por décadas.
A Neidna é daquelas de quem se diz, no jargão igrejeiro, ter “nascido na igreja”. Acompanhou os pais a vida inteira. Continua frequentando a mesma comunidade religiosa de sempre. Quando mais nova, estava sempre na companhia do meus tios por respeito à decisão deles de tê-la por perto. De uns tempos para cá, porém, tudo está diferente. Decidiu que não iria mais por respeito aos seus pais. Não tinha mais de estar na igreja porque eles queriam que ela fosse. Hoje ela continua indo, com os pais, mas por decisão própria; por estar convicta de que tem o seu papel no plano da salvação, plano este que foi estabelecido por Deus. Sua melhor experiência com Deus não está ligada a uma história de conversão espetacular, muito pelo contrário, está relacionada com a possibilidade de crescer em sabedoria, estatura e graça, ao decidir andar na presença de Deus desde sempre.
Consciente de que tem sido alvo da graça oferecida por um Deus de amor que não poupou o próprio Filho, minha prima resolveu viver intensamente o desejo de servir para agradecer. Reconhece que está longe de ser perfeita, mas estabeleceu Jesus Cristo como referência do modelo a ser alcançado. Nessa jornada, em busca do crescimento diário, também tem como parâmetro a devoção de seus pais que nunca economizaram esforços para apontar, para ela e sua irmã, o caminho da cruz. Melhor que isso, não apenas mostraram por onde deveriam seguir, mas estavam sempre juntos, caminhando lado a lado.
A decisão de servir ao Pai, independentemente das circunstâncias e dos desafios que teria de enfrentar nesse mundo, deu a Jesus as condições necessárias para concluir a parte terrestre do plano da salvação. Essa deve ser a minha decisão também. Uma vida dedicada a agradecer, em forma de obediência, a um Deus que sabe o que é melhor para mim; um Deus que sorri comigo e me acompanha nas experiências felizes e gratificantes, mas um Pai que chora comigo quando em momentos de angústia, agonia e dor, afinal, esse não é um mundo perfeito e minha vida não é um “mar de rosas”. Um Deus atento às minhas preces e ao meu desejo de ser mais semelhante a Jesus. Um Deus que se mantém á distancia de um abraço, disposto a me oferecer consolo e conforto.
Hoje, a Neidna vive em função de demonstrar sua gratidão a Deus por lhe proporcionar o ambiente favorável a decisão de ser totalmente dependente dEle. Há tempos tem a certeza que Ele sempre estará com ela, e isso a faz descansar nEle. Sua percepção de haver no céu Alguém interessado na sua companhia, disposto a permitir que dela se possa dizer que também cresce em sabedoria, estatura moral e graça, sempre foi para ela a melhor de todas as notícias.
A sugestão musical de hoje foi dela. Espero que esta canção também possa abençoar o seu dia, como já abençoa o meu.
A sugestão de música para ilustrar nosso Devocional de hoje vem de Guarulhos, SP, e quem nos enviou foi:
Neidna Cilene
Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.