DEVOCIONAL - T2 | E29

Credenciais

 

“Direi aos prisioneiros: ‘Saiam em liberdade!’, e aos que estão na escuridão: ‘Venham para a luz!’. Serão minhas ovelhas e se alimentarão em pastos verdes e nas colinas que antes eram estéreis.” Isaías 49:09

Uma cena muito comum nos filmes se dá quando autoridade se apresenta para uma ação policial. Ela, a autoridade, geralmente leva em uma das mãos, com o braço estendido para frente, o seu distintivo. Aquele símbolo indica que ele foi revestido de autoridade e que pode, sob a forma da lei, desenvolver a atividade a que se propõe naquele instante. Trata-se de algo que outras categorias também chamam de credencial. Uma porção de outras atividades profissionais são organizadas por entidades específicas, que lhes conferem também uma carteirinha que os identifica como membros destes conselhos organizadores.

O texto de hoje manifesta, mais uma vez, o desejo de Deus de ser considerado o nosso pastor. Na verdade declara, além disso, sua disposição de declarar liberdade aos que estão prisioneiros e trazer a luz àqueles que se sentem na escuridão.

No texto que nos faz lembrar do salmo 23, o profeta Isaías declara mais uma vez as palavras do Senhor, dando provas de que vai continuar cuidando de suas ovelhas não importa onde elas estejam. Seu cuidado faz com que suas ovelhas tenham a certeza de que não terão fome ou sede, andarão por lugares tranquilos, ou quando em situação de risco, terão à sua disposição, toda a atenção do Pastor.

Tenho comigo uma questão que me acompanha já há um bom tempo: Teria este Senhor que me fala, as credenciais necessárias para ser considerado o meu pastor? Teria Ele atendido os requisitos propostos para ter o direito de me chamar de sua ovelha? Se a resposta for sim, quais as implicações destas tais características distintivas? Quem seria o mais beneficiado com a ideia de tê-lo como pastor? Mas se Ele não tem essas credenciais, que diferença faria reconhecê-lo ou não como meu pastor?

Esta parece ser uma questão muito simples, de tão obvia. No entanto, pode fazer todo sentido refletir sobre as credenciais do pastor, e neste caso específico, o Bom Pastor, porque se concluirmos finalmente que Ele não tem as credenciais, ou que talvez não pudesse ser inscrito num conselho de profissionais cuidadores de ovelhas, ou mesmo numa comunidade estabelecida justamente nesse sentido, ser ou não uma ovelha do Seu rebanho não faria muita diferença a qualquer um de nós. Por outro lado, se atribuirmos valor a este Pastor, reconhecendo assim suas credenciais, o maior favorecido, neste aspecto, então, seria o próprio rebanho. Deixe-me explicar um pouco melhor onde pretendo chegar.

Digamos que, como alguns fazem por aí, eu passasse a considerar o Bom Pastor como um colega de trabalho, a quem se pede um favor de vez em quando, ou um amigo de escola. Imagine que eu o considere como um profissional estabelecido para atender algumas de minhas necessidades no dia a dia. Considere que o Bom Pastor tivesse como características referenciais apenas a possibilidade de me atender, em questões mais simples, ou mesmo nas mais complexas, de maneira esporádica e pouco eficiente. Creio que isso daria a Ele certa autoridade, admitida pelo relacionamento que tenho com Ele. Imagine que eu O considero apenas como um amigo, então, num momento de tristeza ou quando estivesse precisando de um conselho, talvez pegasse meu telefone e tentasse falar com Ele, na expectativa de que suas palavras pudessem atender aquela necessidade específica do momento. Se considerar o Bom Pastor como alguém cuja profissão se estabeleceu na sociedade para atender-me como, por exemplo, o profissional que trabalha numa panificadora, eu O buscaria exatamente nos momentos, e geralmente pela manhã, em que eu estivesse interessado em encontra algo para alimentar minha família naquele dia. Se as credenciais do pastor não vão além das características de meu colega de trabalho, ou de escola, claro que eu O trataria como trato essa gente que me acompanha nas atividades corriqueiras da vida.

Qual seria então a diferença de saber que ele me considera ovelha de seu rebanho se as credenciais que atribuo a ele são como essas que acabei de listar? Que diferença faria, para minha vida, descobrir que minha relação com Ele é como a que tenho com as pessoas que me cercam, ou mesmo com os profissionais com quem não tenho nenhuma relação de amizade ou familiar?

No entanto, considere a possibilidade dEle ser quem a Bíblia diz que Ele é – o Deus Eterno, criador de todas as coisas, alguém cujo poder não pode ser contido nesse planeta. Alguém que tenha em si mesmo todo o poder criador do Universo. Alguém que, pelo poder de Sua voz, criou tudo o que temos neste mundo que nos acolhe. Se estas forem, então, as credenciais que lhe atribuímos, faria alguma diferença para nós, sabermos que seu maior desejo é ser o nosso Pastor? Sinceramente, creio que faça toda a diferença!

Quando atribuo valor a este Deus que deseja ser o meu pastor, que deseja libertar-me do cativeiro e tornar-me livre; que deseja tirar-me da escuridão em que, por vezes, me encontro, e me trazer à luz, estou atribuindo valor a mim mesmo. Quando atribuo valor as credenciais deste pastor, ao reconhecê-lo e aceitá-lo como meu Bom Pastor, estou tratando a mim mesmo de maneira especial e distintiva, porque ao mesmo tempo em que O reconheço como criador do universo, percebo que este Deus, sendo tão poderoso quanto é, ainda assim trata das questões mais simples da minha vida com um cuidado todo especial. Nesse instante percebo que a despeito das minhas limitações e imperfeições, sou objeto do cuidado de um Deus que tem não somente a mim e mais alguns para cuidar, mas que tem sob Sua responsabilidade a manutenção e a ordem de todo o universo. Isso me faz pensar que o amor que Ele tem por mim é algo que jamais compreenderei.

Meus amigos já me ouviram dizer, uma porção de vezes, que não consigo pensar que sou amado por Deus da mesma forma como ele ama mais alguém no mundo, ou no universo. Digo isso justamente por acreditar que não sou igual a nenhuma outra pessoa que já tenha existido neste planeta. Entendo dessa forma, que sou amado de maneira pessoal e exclusiva. Deus me ama como não ama mais ninguém no universo. Não é o caso, mas ainda que eu tivesse um irmão gêmeo, e fossemos semelhantes na aparência, ainda assim teríamos características distintivas que nos faria pessoas diferentes um do outro. Mesmo neste caso, tenho certeza de que Deus me amaria de uma forma diferente deste meu irmão.

Reconhecer as credenciais do Bom Pastor, e atribuir valor a este Senhor Soberano, é atribuir valor a nós mesmos, não no sentido de querer ser melhor que alguém, mas na certeza de não ser pior que ninguém. É lembrar que somos objetos do cuidado, do perdão e da misericórdia de Alguém, que tendo todo o Universo para cuidar, ainda se mostra interessado pelas questões mais simples da nossa vida, e da nossa família. Aceitá-Lo como meu Pastor, é reconhecer a necessidade de estabelecer com Ele uma relação de comunhão mais íntima e responsável, não porque essa atitude agregue qualquer valor às Suas credenciais, pelo contrário, é porque essa postura me lembra que sou amado de maneira pessoal e exclusiva, e com isso Ele mesmo me atribui valor e dignidade.

Sendo assim, minha oração de hoje será: Deus, muito obrigado por estar sempre tão interessado por mim. Obrigado por me declarar tantas vezes Teu desejo de ser o Meu Pastor, e fazer questão de me tornar ovelha do Teu rebanho. Obrigado por me amar de maneira pessoal e exclusiva; por me transferir valor e dignidade ao me devotar os Teus cuidados. Muito obrigado por demonstrar interesse pelos detalhes mais simples, e mais complexos, da minha história, por desejar tornar-me livre e chamar-me das trevas para a Tua maravilhosa luz. Amém!

Quem Escreve:

Marcílio Egídio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.