CONFIAR FIELMENTE
“Naquele dia, o remanescente de Israel, os sobreviventes da família de Jacó, não dependerão mais de aliados que procuram destruí-los. Confiarão fielmente no Senhor, o Santo de Israel.” Isaías 10:20
Investi um tempo pensando no verso de hoje. A expressão mais comum para essa ação talvez fosse “gastei um tempo”, mas de verdade, considero melhor chamar de investimento. E não é só por se tratar da leitura bíblica, mas por entender que os resultados obtidos de uma boa reflexão orientado pelo Espírito, sempre trará benefícios para a vida.
Enquanto pensava em tudo que o referido texto pudesse estar me dizendo, lembrei de uma experiência vivida há alguns anos. Era um pouco mais de meio dia, quando, depois de me despedir do pessoal da igreja que eu havia visitado, pedi orientações para chegar à rodovia que me levaria de volta para casa. Um “especialista” foi indicado para me dar as coordenadas e enquanto ele falava eu construía uma imagem mental de tudo o que estava sendo dito. É importante lembrar, também, que por aqueles tempos, não tínhamos a facilidade do GPS como a temos agora.
As instruções foram dadas com tanta segurança que me pareceu muito simples chegar ao destino proposto, sem enfrentar nenhum contratempo. Engano meu! Talvez se eu fizesse um desenho, por mais infantil que fosse, com rabiscos simples, ao invés de confiar na minha memória, fosse muito melhor, porque ao chegar na primeira encruzilhada… – tudo pareceu tão complicado que me vi perdido, naquele lugar deserto, estranho e ameaçador (sem exageros, acredite!).
No carro, minha única companhia era minha mãe, que àquela altura estava mais preocupada do que eu, com o fato de não termos a menor ideia de como sair dali. Sua estratégia foi tentar me manter calmo, considerando que dessa forma facilitaria o meu acesso àquela imagem mental, formada não havia muito tempo, enquanto as instruções eram dadas. As mães são sempre especiais!
Enquanto tudo isso se passava, o que nos pareceu ser uma eternidade, embora não estivéssemos ali a mais de dois ou três minutos, eis que surgem do nada dois cidadãos que conversavam enquanto caminhavam em nossa direção. Rapidamente tomei a decisão que me pareceu a mais acertada no momento:
“Amigos, como faço para chegar na rodovia? – perguntei visivelmente ansioso.
“Estamos indo pra lá. Se você nos der uma carona, podemos te deixar lá pertinho. Vai ficar mais fácil de sair daqui!” – sugeriram os estranhos.
Por favor, compreenda que não estava julgando os indivíduos que agora se dispunham a nos acompanhar por caminhos tão desconhecidos quanto eles mesmos, mas estava, numa outra fração de segundos, analisando todas as possibilidades que o momento me apresentava – inclusive a de serem pessoas mal intencionadas, planejando nos assaltar.
“Ok! Vamos nessa. Assim tenho a chance de fazer dois novos amigos” – eu disse, tentando parecer que estava tudo sob controle.
Aqueles dois homens, embriagados como estavam, foram discutindo as melhores alternativas de caminho, enquanto davam seguimento à sua conversa – e tudo isso ao mesmo tempo. Por fim, chegamos a um lugar onde já se via uma porção de casas e o que poderíamos chamar de comércio local. Ali eles pediram para descer. Seguiram nos dando as instruções, já do lado de fora do carro, apontando para o caminho que deveríamos seguir. E eles estavam certo! Logo estávamos na rodovia, aliviados e a caminho de casa.
Judá, na pessoa do rei Acaz, havia confiado na lealdade da Assíria, que por sua vez só era leal a seus próprios propósitos. Estavam o tempo todo interessados em tirar vantagem de tudo, principalmente das alianças formadas com os povos ao seu redor. Em Jerusalém, alguns poucos escaparam da destruição promovida por Senaqueribe, e o plano de Deus era que esse remanescente confiasse nEle, pois foi Ele quem lhes deu livramento em resposta às orações sinceras de Ezequias, e somente Ele se demonstrou ser o único caminho seguro e confiável. “Naquele dia, o remanescente de Israel, os sobreviventes da família de Jacó, não dependerão mais de aliados que procuram destruí-los. Confiarão fielmente no Senhor, o Santo de Israel”. Isaías 10:20
Claro que minha experiência foi muito diferente daquela descrita pelo profeta. Eu mesmo não tive prejuízo nenhum ao colocar aqueles dois estranhos no carro. Pelo contrário, se eles não estivessem tão alterados, por conta da bebida, talvez até tivéssemos conversado um pouco, enquanto nos deslocávamos por aquelas ruas desertas. O exempla dado se deu pela semelhança na atitude de confiar em quem não se conhece ao certo, e no caso de Israel, havia muito mais em jogo.
Hoje essas ofertas de “alianças”, propostas por supostos amigos, com seus discursos bem elaborados, oferecendo um futuro seguro de sucesso e grandes realizações, estão por toda parte. Elas vão desde a previsão do tempo aos indicadores financeiros. Das propagandas de comida às ofertas de marcas famosas e específicas de roupas e serviços. Dos últimos lançamentos de produtos emagrecedores às atualizações de equipamentos eletrônicos. Oferecem prestígio, segurança, tranquilidade, fama, dinheiro, visibilidade.
Passaram a nos fazer acreditar que é impossível ser feliz sem uma porção dessas coisas, e o que é pior, nos distanciaram, com a nossa aprovação, de pessoas que deveriam ser muito especiais para todos nós. Passamos a valorizar mais as coisas do que as pessoas – estamos perdidos num deserto de insensibilidade, tentando humanizar os objetos e desumanizar as pessoas. Estão nos fazendo acreditar que é possível ser plenamente feliz sem Deus – sem a companhia do Criador.
Por essa razão, minha oração de hoje será: Pai Eterno, muito obrigado por me proteger de perigos que eu nem mesmo tomei conhecimento. Obrigado por manter Tua mão estendida sobre a minha casa. Obrigado por cuidar da minha família. Perdoa-me por todas as vezes em que tomei decisões equivocadas e aceitei as propostas de “alianças” que só me trouxeram prejuízos. Mantenha-me, Senhor, por favor, entre o Remanescente do Teu povo, porque só em Ti pretendo depositar a minha fiel confiança. Amém!
Marcílio Egídio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.