Braço Estendido
“Não tenha medo, pois estou com você; não desanime, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; com minha vitoriosa mão direita o sustentarei.” Isaías 41:10
Imagino que você ainda se lembre de momentos da sua infância em que esteve aos cuidados de um adulto, e justamente por essa razão, não se envolveu em apuros, ou se livrou de algum em que já estava envolvido. Dependendo de quão intensa foi essa infância, e o contexto familiar em que fomos criados, teríamos muitas histórias para contar. Talvez algumas destas histórias tenham deixado as suas marcas em nossa vida até hoje.
Eu, por exemplo, tenho medo de altura. Acho até que não poderia chamar de medo. O que tenho é um verdadeiro pavor. Qualquer altura superior ao dobro da minha já me faz pensar que minha vida está totalmente em risco. Hoje já estou bem melhor. Andei enfrentando meu próprio medo a fim de aproveitar um pouco mais da vida. Quando viajei, pela primeira vez, de avião, por exemplo, já estava perto de completar quarenta anos de idade – acredite; e só o fiz por conta do constrangimento que imaginei que causaria a quem me pediu para estar em meu novo posto de trabalho, para uma entrevista com o chefe, poucas horas depois do primeiro contato. Não sei ao certo o motivo, ou evento, causador deste medo enorme de altura, mas sei de uma história que minha família conta, e imagino que esteja ligada ao fato.
Estávamos, há muito tempo, desfrutando de um passeio em família, no Zoológico da cidade, quando meus pais decidiram me mostrar o lugar onde ficava o urso. Eu, criança pequena, estava no colo do meu pai, animado para ver cada detalhe das atrações do zoológico, e naquele momento, especificamente, o fosso do urso. Embora estivesse ali, naquele fosso preparado para torná-lo o centro das atenções, imagino que o urso não estivesse muito disposto a dar nenhum espetáculo àquela hora do dia. Devia estar tentando se esconder do sol, ou descansando um pouco, quando finalmente o avistei. Animado como fiquei, por ver o urso, simplesmente saltei em sua direção e fui pego já quase pelo calcanhar, por meu pai. Minha mãe, até hoje, não consegue contar essa história sem deixar um registro do susto que aquela cena provocou em todos que acompanharam.
Imagine, seguro pelo calcanhar enquanto saltava para ver o urso! Mas eu estava no colo do meu pai, e embora tivesse se distraído um pouco, recuperou-se a tempo de me segurar. Hoje creio que ele foi uma extensão do braço de Deus para salvar a minha vida.
Quase vinte anos depois eu estava segurando o meu filho no colo. Incrível! Levou um tempo para tomar consciência de que a partir daquele momento ele seria responsabilidade minha em muitos, ou quase todos os aspectos. Comecei a pensar na lista de coisas que deveria ensinar, nos exemplos que utilizaria para tornar o aprendizado mais efetivo, no compromisso que assumiria com sua educação e formação moral e na importância de andar com ele nos caminhos do Eterno. No início, confesso, fui tentado a pensar que o ato de ensinar seria uma via de mão única, e se tinha alguém para aprender em nossa relação pai e filho, era ele.
Certa vez, quando ele tinha entre quatro e cinco anos, eu estava com ele no carro quando vi o marcador de combustível avisar que estava na reserva, e seria muito importante parar no posto de combustível para abastecer. Confesso que passei por pelo menos quatro postos, mas por concluir que o preço estava alto demais para ser considerado justo, acabei indo para casa sem abastecer. Parei em frente ao portão, desliguei o carro para abri-lo. Voltei para o veículo e tentei ligá-lo. Nada! Não dava a partida. Tentei outra vez e mais outra, e o resultado foi o mesmo. Comecei a me irritar comigo mesmo por ter sido tão displicente. Fui ficando nervoso. De repente meu filho, que estava sentado no banco de trás, estende a mão tentando tocar o meu ombro, e sugere: “Pai, ora que Jesus conserta!”.
Sabe aquela sensação de ver o mundo parando para assistir a sua reação diante de uma cena como esta? Eu não sabia onde me esconder, tamanho foi o constrangimento. Meu filho estava coberto de razão. Embora eu tivesse sido irresponsável ao ponto de não abastecer o carro, ele não podia ficar do lado de fora, atravessado na rua, atrapalhando o trânsito local e tudo mais. Como quem salta do colo do pai em direção ao urso que descansa tranquilamente no fosso, naquela hora eu precisava de um socorro imediato, e meu pai não estava ali para segurar o meu calcanhar. Mas meu filho estava!
Pedi a ele que orasse. Estava tão envergonhado que me neguei a falar com Deus. A lição daquele dia precisava ser completa e meu filho fez uma das orações mais simples que já ouvi na minha vida: “Papai do céu, conserta nosso carro! Só pra gente guardar…Amém!
Por favor, acredite no que vou dizer agora. Virei a chave no contato e o carro ligou. Entrei com ele na garagem e desliguei. Foi então que decidi fazer um último teste. Olhei para cima, como quem quer ver o Céu, pedi perdão a Deus pelo que iria fazer. Tentei ligar o carro e nada! Só funcionou outra vez depois que fui buscar o combustível. Naquela tarde, o braço extendido do meu filho foi uma extensão do braço de Deus para salvar a minha alma!
Então, me permita alterar o verso de hoje, na expectativa de te fazer ler como eu prefiro lê-lo: “Não tenho medo, pois Ele está comigo; não desanimo, pois Ele é o meu Deus. Ele me fortalece e me ajuda; com Sua vitoriosa mão direita me sustenta”. As vezes me segura pelo calcanhar, em outras tenta tocar meu ombro. Por vezes com ações espetaculares e grandiosas, em outras através das mais simples orações. Algumas vezes usou pessoas importantes, com discursos elaborados, mas a maioria das vezes me ofereceu o Seu abraço através dos braços da minha família e dos meus amigos. Por vezes pude ouvi-lo falar comigo como que pessoalmente, mas geralmente Ele tem usado você que está lendo este devocional, para me ensinar as grandes lições que ainda tenho para aprender.
Sendo assim, hoje vou te pedir um grande favor: Separe um tempinho e ore por mim. Ore pela minha família, por favor! Ore por seus amigos. Ore pela sua família. C. S. Lewis escreveu, certa vez, que “Orar por alguém é dizer ‘eu te amo’ escondido, é amar sem ser visto, sem platéias ou aplausos, orar é fortalecer o outro, é abraçá-lo invisivelmente.” Desde já, e mais uma vez, muito obrigado por sua oração.
A sugestão de música para ilustrar nosso Devocional de hoje vem de Brasília, DF, e quem nos enviou foi:
- Reivellyn Almeida - DF
Marcílio Egídio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.