Amado e Escolhido
“Eu o chamei de volta dos confins da terra e disse: ‘Você é meu servo’. Pois eu o escolhi e não o lançarei fora.” Isaías 41:09
Enquanto lia os versos de hoje, fui levado à lembrar de duas imagens da minha juventude. Uma história e um hino, que combinados, podem muito bem, na minha opinião, ilustrar o texto.
Como disse, entre tantas outras histórias, ouvi uma que de tão singular eu nunca mais esqueci. Contava de um garoto que se mudara com sua família para uma nova cidade. E as mudanças a gente sabe como são. Não mudamos apenas de casa, quando vamos para um lugar distante de onde morávamos, mudamos de vida, praticamente, e quando somos pequenos, a sensação é que temos de deixar a companhia dos vizinhos, dos amigos que fizeram parte da nossa história. Deixamos a segurança de saber quem são quase todas as pessoas que moram perto da nossa casa. Mudamos de ambiente e perdemos algumas referências. Mudamos de escola, e o que já não parecia ser tão fácil, agora fica mais difícil. Com o garoto da história não foi diferente.
Enquanto se deslocava para sua nova casa, e acompanhava a paisagem, sem sentir-se atraído por sua beleza, fazia mentalmente um lista enorme de preocupações que lhe causavam uma grande ansiedade. Vizinhos, amigos, passeios, escola, aula, professores, o futebol no final da tarde, o horário de chegada dos pais quando viessem do trabalho… Eram tantas as preocupações que imaginava ser incapaz de sobreviver à nova realidade que estava à sua frente.
No primeiro dia em sua nova escola, foi levado pelo pai até o portão de entrada do colégio. O pai foi lhe mostrando o caminho, sinalizando alguns marcadores para servirem de referência quando estivesse voltando para casa ao final da aula. Antes de se despedir do pai, naquele primeiro dia, o garoto, ainda angustiado perguntou como faria para voltar, e encontrar sozinho a sua casa. Foi quando o pai colocou o menino de costas para o portão e pediu-lhe que olhasse para frente, e um pouco para cima.
_ O que você vê lá no alto, filho? – perguntou o pai do garoto.
_ Vejo uma cruz, pai! – respondeu com segurança.
_ Pois bem! Lembre-se sempre que, logo abaixo daquela cruz tem uma igreja e a nossa casa fica pertinho, quase ao lado da igreja. Quando terminar a aula, coloque-se aqui, de costas para o portão, levante a cabeça e você verá a cruz. Então é só segui-la!
Tudo correu muito bem nos primeiros dias de aula, mas antes da semana terminar, algo diferente aconteceu na escola e o portão por onde o menino saía todo dia não pode ser aberto. A única saída disponível estava do outro lado do colégio, e dava para a direção exatamente oposta àquela que ele se acostumara. Ao colocar-se de costas para o portão e levantar a cabeça não viu a cruz. Perdera sua melhor referência e agora se sentia totalmente perdido! Aflito como estava, passou a considerar, inclusive, a possibilidade de alguém haver tirado a cruz da igreja, enquanto ele assistia as aulas daquele dia. Demorou um tempo para buscar ajuda de alguém que já lhe fosse conhecido. Descobriu, então, que a cruz estava no mesmo lugar de sempre, era ele quem estava olhando na direção errada.
A segunda imagem, vem de uma canção infantil, cujo refrão dizia:
Qual o tamanho do braço de Jesus?
Eu intrigado perguntei à minha mãe.
Ela disse: É normal.
Mas eu ainda acho que ele é fenomenal!
Não sei se com você acontece o mesmo, mas em minha relação com Deus, por vezes tenho me sustentado na segurança de poder levantar a cabeça e ter o privilégio de olhar em Seus olhos. Minha comunhão com Ele é tão Íntima e pessoal, que tenho a sensação de poder ouvir a Sua voz me falando, me conduzindo e me orientando. Meu maior problema, no entanto, é que vou me tornando seguro demais, auto-suficiente demais, e orgulhoso de mim mesmo, vou me virando na direção oposta, deixando para trás minha melhor referência. Diferente do garoto, que acidentalmente saiu do lado oposto do colégio, corro o risco de decidir colocar-me de costas para Deus, e por não poder vê-Lo mais, chegar a dizer aos que estão mais próximos que Ele me abandonou. Frustrado, magoado, posso decidir caminhar, viver, na direção contrária àquela planejada por Ele. Num ato de revolta, posso até decidir deliberadamente afastar-me por completo.
Mas a melhor notícia de todas é que Ele decidiu me amar. Não há nada que eu faça que o impeça de me amar. Ele é a fonte do amor, e por essa razão, me acompanha o tempo todo; me acompanha de perto. Está sempre à distância de um abraço. É por isso que só me basta virar para a direção certa, dar uma meia volta, fazer uma conversão, abrir os braços e receber o abraço de Jesus. Minha melhor referência estará sempre no mesmo lugar, de braços abertos, declarando Seu amor por mim. Quando levanto a cabeça e não O vejo, não é porque tenha ido embora e me deixado, mas porque decidi olhar na direção errada, porque decidi seguir pelo caminho oposto.
Sendo assim, “obrigado, meu Deus, por declarar o Teu amor por mim através de Jesus Cristo. Obrigado por me lembrar que Ele tem um “braço sensacional” capaz de me oferecer o melhor de todos os abraços. Obrigado por me receber de volta, sempre que tomei decisões equivocadas. Obrigado por me escolher e não desistir de mim, Senhor. Obrigado por permaneceres à distância de um abraço. Ajuda-me, Deus, a tornar-me um servo cada vez melhor, mais fiel, mais dedicado e mais comprometido em alargar as fronteiras do Reino! Amém.
A sugestão de música para ilustrar nosso Devocional de hoje vem de Brasília, DF, e quem nos enviou foi:
- Matheus Campos - DF
Marcílio Egídio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Um colecionador de bons amigos.