Quem de nós teria recusado o convite do rei, se ele nos fosse feito hoje, nas circunstâncias sob as quais vivemos? Quem de nós teria evitado a oportunidade de “aparecer” diante de tanta gente importante, e de se tornar o centro das atenções por alguns instantes? E pergunto não por querer fazer qualquer tipo de julgamento, senão por perceber em mim mesmo um desejo cada vez maior, que pode até se tornar incontrolável, de querer ser visto, seguido, curtido e compartilhado. Esse comportamento nos aproxima cada vez mais da realidade observada por Zygmunt Bauman, na qual a lógica da mercadoria se expande para a formação da identidade e da personalidade, e as pessoas passam a desenvolver suas habilidades, os gostos, o estilo de vida, a maneira de se vestir, de falar, de se portar em público, pensando como uma mercadoria que precisa ser vendida. Ainda que não receba um convite do rei para me apresentar, sob a força da lei, diante de uma multidão de gente que passará a me enxergar como uma “mercadoria”, exposta na vitrine de uma grande loja, corro o risco de fazer das minhas redes sociais uma versão um pouco mais reduzida do grande shopping center da vida, e ali, como sugere Bauman, revelar minha “nudez”, as vezes física, mas geralmente social, familiar e até emocional, à gente pouca interessada na minha real felicidade.