Onde você está?
Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: “Onde está você? “
Gênesis 3:8,9
Estamos começando um novo mês. A sensação que tenho é quase a mesma do ano passado – o tempo está passando rápido demais, diante de nossos olhos. Acabo de me lembrar que em fevereiro do ano passado as autoridades decretaram a antecipação de alguns feriados, exatamente como fizeram no ano anterior, na tentativa de diminuir a circulação de pessoas pelas ruas da cidade, mesmo assim, as notícias de todos os dias davam conta de recordes no número de mortes no Estado de São Paulo. A cada dia que passava, milhares de famílias choravam a perda de seus entes queridos. Em condições normais, talvez estivéssemos comemorando a possibilidade de poder ficar em casa, na companhia dos familiares, descansando um pouco da correria do dia a dia, mas o que víamos, por aqueles dias, era uma discussão enorme pelo direito de sair para trabalhar e estudar, apesar dos riscos que estávamos correndo, a partir dessa decisão.
Diante desse quadro, e justamente por ser este o assunto que permeia todas as conversas, toda vez que estou conversando com alguém percebo que dúvidas é o que não falta. Não há segurança e certeza em lugar algum. Ainda que as autoridades se esforcem na tentativa de transmitir tranquilidade na tomada das decisões, há uma série de perguntas que continuam sem respostas, até porque, limitados ao tempo e ao espaço, como somos, não temos, do futuro, nada além de expectativa e esperança. Pensando nisso, tratei de listar algumas perguntas que considerei importante para a minha vida e o futuro da minha família, e gostaria de compartilhá-las com você.
Segundo o relato bíblico, e eu particularmente creio que tenha sido exatamente assim, ou o mais próximo possível do que foi registrado, Adão e Eva viviam num ambiente totalmente favorável à felicidade. Aquele ambiente perfeito só não pôde compensar a falta que Adão sentiu de uma companheira, durante o tempo em que esteve sozinho, a cuidar do Jardim. Com a criação da mulher, tudo passou a ser exatamente como o Criador planejara. Um único detalhe, no entanto, deveria ser objeto de seu cuidado e atenção – o casal não deveria, sob pena de mudarem completamente a realidade desfrutada por eles, comer do fruto da chamada Árvore do Conhecimento. Para garantir o acesso a toda informação possível e necessária, o Criador em pessoa, fazia questão de estar sempre com o casal, atestando a qualidade das instruções e dando provas de Seu cuidado e amor por eles.
Certo dia, porém, ao distanciar-se um do outro, Eva acabou se aproximando da referida árvore e, encantada com o discurso de uma serpente que falava com ela, decidiu tomar o fruto e comer. Curiosidade, desejo de ser igual a Deus, medo de perder a companheira amada, excessiva confiança na misericórdia de Deus…, as possibilidades que levaram Adão a também comer do fruto, do ponto de vista humano, podem ser muitas, fato é, no entanto, que ao desobedecer, sentiram de imediato a mudança em seu modo de pensar, e com a perda da inocência, chegou, também, o medo de serem encontrados por Deus. As visitas periódicas do Eterno, sempre perto do final do dia, agora já não ofereceriam o mesmo deleite de todas as outras vezes. Ouvir a voz de do Criador, naquele fatídico dia soou como uma espécie de alarme, avisando da chegada de alguém que eles não queriam encontrar. Sentiam, agora, que teriam dificuldades em olhar o Eterno nos olhos, não por conta de uma postura humilde ou modesta, mas pelo sentimento de culpa que os assombrava. “Então o Senhor Deus chamou o homem e perguntou: Onde você está?” (Gn 3:9).
O Criador não estava ali pelas mesmas razões que o trouxera em todas as outras visitas. Desta vez faria perguntas importantes, e o casal já imaginava que aquela não seria uma conversa tão simples. Cobrindo-se com folhas de figueira, apresentaram-se Àquele que os chamava para fora de seus esconderijos. Quando penso nesse momento da história, e estabeleço uma imagem mental desse quadro, percebo que a mesma pergunta reverbera ainda hoje em meus ouvidos. Vez por outra tenho a sensação de ouvir o Eterno, passeando pelas alamedas da minha história, andando pelos lugares por onde tenho me escondido e, por saber da minha resistência em querer encontrá-Lo, tem repetido a mesma pergunta que fez a Adão: “Marcilio, meu filho, onde é que você está? Onde foi que você se escondeu dessa vez? Por que não aparece aqui para conversarmos um pouco?”
Adão, que sempre havia recebido com alegria a visita divina, agora estava escondido. Deliberadamente tentava adiar o encontro. Esforçava-se para realizar o impossível, afinal, não havia como se esconder de Deus. O Criador o chamou não porque não soubesse onde ele estava, mas porque tinha a clara intenção de levá-lo à confissão. Ainda hoje sou tentado a me esconder atrás de uma porção de coisas, pessoas e desculpas, que não podem, nem de longe, me ocultar da presença de Deus; por vezes, enquanto busco alternativas para adiar o nosso encontro, ouço Sua voz de amor, me chamando para uma conversa franca, na expectativa de me ajudar a realinhar os planos e recalcular a rota.
Havia, até um tempo atrás, uma propaganda na TV que era no mínimo curiosa. Entre outras coisas que eram ditas, o “comercial” encerrava sua apresentação com um slogan que ficava martelando na minha cabeça: “Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas!” Se for realmente assim, perfeito! Até porque quem sempre toma a iniciativa de fazer o melhor por mim, e minha família, é um especialista em formular as melhores perguntas. Mas se for o contrário também não há problema algum, porque Ele mesmo me permite ser orientado pelo Santo Espírito, e este Consolador me oferece os recursos para elaborar as melhores respostas. Neste caso, o capítulo final da minha história só depende mim, e o primeiro passo, talvez até o mais difícil, é tomar coragem, sair do esconderijo e correr para os braços do Pai – sem medos, sem desculpas, sem disfarces!
Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.