Invertendo a Lógica

Cheio de compaixão, Jesus estendeu a mão e tocou nele. “Eu quero”, respondeu. “Seja curado e fique limpo!”. No mesmo instante, a lepra desapareceu e o homem foi curado.  Marcos 1:41 e 42

Como vimos, na versão Revista e Atualizada, o verso 41 relata que “Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão”, para tocar no leproso. E aquele não foi um toque qualquer. Havia compaixão em Seu olhar e Ele certamente deixou isso bem claro também na decisão de tocar o leproso. Gosto de pensar na possibilidade de Jesus estar oferecendo, não só àquela multidão mas a toda humanidade, a oportunidade de aprender uma grande lição. Precisavam ser lembrados que, aos olhos do Pai, todos os filhos de Deus têm o seu valor, valor esse que excede ao nosso entendimento. Jesus além de curar o leproso tinha a intenção de oferecer-lhe dignidade.

Há um outro detalhe que me chama a atenção e me ajuda a entender a cena assim como tenho proposto. Se Jesus tinha a intenção de curar o leproso, e como parte do processo todo, oferecer-lhe um abraço, por exemplo, poderia muito bem ter seguido exatamente esta ordem. Isso teria causado muito menos espanto e surpresa na multidão.

Bastava ter dito para que ficasse limpo da lepra, e ao dar mostra de que Sua ordem tinha sido atendida, apresentando, para isso o homem já curado, abrir os braços e recebê-lo com um forte abraço. A atitude de Jesus certamente foi questionada por alguns que estavam ali diante daquele quadro, afinal não se devia tocar num leproso, sob o risco de tornar-se impuro e contaminado. Mas a ordem foi invertida. A sequência das ações fugiu totalmente à lógica estabelecida. Ou Ele se atrapalhou um pouco, desconcentrado pela surpresa proposta com a chegado e o pedido do leproso, ou Sua decisão tinha algo muito maior e mais importante para informar. Prefiro a segunda opção.

Gosto de me definir como um colecionador de grandes amigos. Isso não me faz especial, pelo contrário, me faz pensar diariamente na necessidade de retribuir ao menos uma parte daquilo que tenho recebido de todos e cada um desses meus amigos. Há aqueles que estão sempre mais próximos, porque as circunstâncias assim permitem, há aqueles com os quais falo de vez em quando, porque estão longe demais para nos vermos todos os dias. Tenho amigos que foram agregados à minha vida de forma simples, feliz e agradável, mas hoje tenho amigos que são como parte da minha família, mas os primeiros encontros não foram nada fáceis. As vezes nos sentamos para relembrar essas histórias e rimos muito de tudo aquilo que já vivemos.

Imagino que você leitor saiba que hoje sou um pastor. Ainda que não fosse, e pela minha história e ligação a uma comunidade religiosa, acredito numa promessa muito especial que está na bíblia. Aguardo ansiosamente por dias melhores, longe de todo esse sofrimento que temos enfrentado. Tenho consciência de que muita gente acha essa história louca demais para ser verdade e simplesmente não querem, como costumam dizer, perder tempo com isso. Tenho amigos, inclusive que pensam assim. Eles também têm o meu respeito. Embora essa decisão me entristeça, é um direito deles pensar assim. O que faço é orar insistentemente por cada um, na esperança de que mudem sua forma de pensar.

Também tenho amigos, e familiares, que reconhecem a necessidade de mudar o quanto antes. Não só respeitam minha maneira de viver como também demonstram desejo de me acompanhar em minha caminhada de fé. Por vezes temos longas e boas conversas sobre o assunto. Ao final, quase sempre, a sensação que tenho é de que estão esperando por um momento especial para decidir. Vejo em cada um deles um esforço sincero para melhorar algumas áreas da vida, na expectativa de se tornarem “dignos” de serem recebidos na casa do Pai. Percebo que a luta interior é grande, até porque não é diferente comigo – também tenho as minhas lutas.

Quando vejo que Jesus inverteu a ordem da lógica estabelecida, tocando antes de curar, percebo que tinha intenções bem específicas – queria que eu soubesse que não preciso ser bom o suficiente para buscá-Lo; não preciso ser perfeito para iniciar um relacionamento mais íntimo com Ele. Tinha a intenção de mostrar que, quando se trata do Céu, o abraço precede à cura e o receber de volta vem muito antes da transformação total. Gosto de pensar que há grande alegria no coração de Deus, quando um de Seus filhos reúne toda coragem de que dispõe, decide enfrentar as adversidades impostas pela multidão, e prostrado busca o perdão.

A canção de hoje é sugestão de um desses amigos que se tornaram bem mais próximos. Hoje é parte da família, literalmente. Nossa relação no início foi um tanto desafiadora. Por um período da nossa vida decidimos não frequentar o mesmo ambiente, embora ele namorasse a minha prima e eu a irmã dele. Foram tempos difíceis, confesso, até que finalmente resolvemos conversar francamente. Sou grato a Deus por ter me ajudado a receber o perdão do Edicarlos. Tenho consciência de que sou uma pessoa difícil, mas hoje ele me dá a honra de sua companhia e amizade. Quem sabe em algum momento você poderá ouví-lo cantando essa canção – é uma de suas preferidas. Hoje, diferente daqueles tempos de confusão, nos ocupamos em orar um pelo outro. Queremos o melhor para nossa casa, para nossa família. Queremos receber juntos, a benção de viver a eternidade ao lado do Mestre.  Isso não exclui totalmente os desafios, mas fortalece o coração em cada batalha que temos de enfrentar.

Quando penso que o abraço precede a cura, e o perdão vem muito antes da transformação total, ainda que as circustâncias minem as minhas forças, e eu seja tentado a pensar que não sou digno, me junto a outros tantos que estão nessa mesma jornada e simplesmente vou…!

A sugestão de música para ilustrar nosso Devocional de hoje vem de Guarulhos, SP, e quem nos enviou foi:

Edicarlos Antônio

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Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.