Saudade do tempo

“Livra-me, ó meu Deus, das mãos dos ímpios, das garras dos perversos e cruéis. Pois tu és a minha esperança, ó Soberano Senhor, em ti está a minha confiança desde a juventude. Desde o ventre materno dependo de ti; tu me sustentaste desde as entranhas de minha mãe. Eu sempre te louvarei!” Salmo 71: 4-6

Se você já nos acompanha por aqui há algum tempo talvez vá se lembrar da primeira vez que escrevi esse devocional. À época, havia combinado com outros amigos que produziríamos uma série de pequenos vídeos comentando alguns dos Salmos encontrados na Bíblia. Cada um ficou responsável por fazer uma abordagem do Salmo 23, valorizando os aspectos que considerava mais importantes, e outros dois que tivessem como alvos outros Salmos. Optei por seguir a proposta que me permitiu comentar, como veremos, dois trechos do Salmo 71 – Súplicas de um ancião.

O texto mostra alguém, já com seus cabelos brancos, falando de maneira muito íntima com Deus. Fala como se estivesse sentado ao lado de seu interlocutor, num banco de madeira, instalado na praça perto de sua casa, ou no sofá de sua residência, enquanto tomam um suco para aplacar o calor do sol de verão.

Cada vez que leio o texto, sou levado a pensar na idade que tenho, nos amigos que fiz e as experiências vividas com minha família. Cada vez que se aproxima o dia 15 de dezembro de todo ano, o coração vai apertando, não porque tenha medo de ser velho, pelo contrário, tenho agradecido a Deus por poder envelhecer sabendo que tive uma vida muito boa. O coração se aperta de saudade de um montão de coisas que deixei para trás. Algumas abandonei conscientemente. Já não me faziam bem. Mas hoje percebo que outras foram sendo deixadas por descuido, por desatenção. Foram substituídas por novidades que nunca tiveram o poder de substituir, na mesma proporção, a capacidade de me fazer sorrir, festejar e agradecer.

O certo é que o tempo foi passando, e como cantou Cazuza certa vez, “o tempo não para”, e conforme passa aceleradamente deixa suas marcas, que não precisam ser necessariamente ruins, e ainda que estejam no corpo e na lembrança, essas marcas trazem também um registro da nossa história. O tempo passa e deixa saudade.

Por essa razão, gostaria hoje de chamar sua atenção para um grupo especial de pessoas. Já foram definidos como membros da Terceira Idade, Melhor Idade, são o grupo da prioridade, e recebem, inclusive, um tratamento especial no comércio e em outros lugares organizados para lhes prestarem um atendimento exclusivo e diferenciado, mas nesse momento (fev21), com todo esse pesadelo do Convid-19, foram colocados no grupo de risco e por isso precisam ficar em casa, no chamado “isolamento social”.

Eu gostaria que você se lembrasse que esses homens e mulheres que hoje estão de cabelinhos brancos, já de idade avançada, viveram uma porção de experiências e têm uma porção de histórias para contar. Talvez você já tenha notado que eles repetem algumas delas de vez em quando, e não é porque não se lembram que já contaram, mas porque aquela história, aquele momento novamente anunciado e relatado, aquela lembrança, tem um valor que nunca seremos capazes de medir. Remetem a memórias e emoções que não se pode definir com palavras, por isso precisam “vivê-las” novamente enquanto contam.  Acho que esse é, inclusive, um sintoma de quem sofre de saudade do tempo. Você certamente faz parte da história, ou das melhores histórias, que alguém tem para contar. Imagine-se nas melhores lembranças de quem pede a Deus por conforto e consolo do céu, justamente por sentir que está morrendo de saudade.

Em tempos de redes sociais, aparelhos e máquinas de última geração, Tvs com imagens cada vez mais nítidas em telas brilhantes, dê a si mesmo o direito de aproveitar a oportunidade de se ver refletido no brilho dos olhos, marejados por lágrimas de felicidade e saudade, de quem não entende quase nada dessa revolução tecnológica, mas que tem a habilidade de transmitir amor e carinho, mesmo quando não dizem absolutamente nada.

Então, que tal, hoje mesmo, pegar o seu celular, seu telefone, e falar com esse, ou essa, que tanto te ama e eu tenho certeza lhe é muito caro. Faça uma vídeo chamada, uma Live, e fale de amor, de saudade, de afeto. Fale do tempo. Fale da alegria de poder passar um tempo com ele, ou ela. Fale das melhores lembranças e disponha-se a ouvir as histórias, ainda que sejam as mesmas!  Por vezes é muito importante gastar um tempo para falar do tempo, até para não morrer de saudade do tempo! Estou certo de que você não vai se arrepender…

A sugestão de música para ilustrar nosso Devocional também é minha:

Marcilio Egidio

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Marcilio Egidio

Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.