A história registrada nos livros dos Reis e Crônicas, é um relato de constante alternância na disposição de Israel, e mais tarde Israel e Judá, de andar nos caminhos do Senhor e estar completamente fora do rumo. De Manassés, por exemplo, se diz que levou o povo de Judá a errar, diante do Senhor, de tal modo, “que fizeram pior do que as nações que o Senhor havia destruído de diante dos filhos de Israel” (II Rs 21:9). Este rei chegou ao ponto de provocar a ira do Eterno, estabelecendo lugares de culto pagão até mesmo dentro do Templo, em Jerusalém. Não apenas por causa de sua tremenda desobediência, mas porque todo o povo decidira seguir o exemplo deste rei idólatra, uma profecia de total destruição foi pronunciada contra Judá. O momento de humilhação pelo qual passou Manassés, e seu pedido de perdão, não foram suficientes para fazer o povo voltar-se totalmente ao Senhor, até porque seu filho Amom foi tão mal quanto ele.
Num ato de conspiração, os servos de Amom tiram-no do trono, e Josias, seu filho, se torna rei em seu lugar, aos oito anos de idade. Josias, apesar de ser ainda muito jovem, decidiu servir o Senhor com todas as forças do seu coração. Então, ao contrário do que fizera seus antecessores, tirou vantagem da força do trono e buscou realinhar o curso da adoração ao Deus de Israel, que havia sido totalmente esquecido em Jerusalém. Em seu décimo oitavo ano de reinado, quando já estava com vinte e seis anos de idade, dá continuidade ao seu plano de restauração do Templo e propõe uma completa reforma na casa de Deus. Durante os trabalhos de limpeza e reconstrução, o Livro da Lei foi encontrado e enviado ao rei, para que tomasse conhecimento de sua existência.
E agora, enquanto o escriba Safã lia para ele no livro da lei, o rei ficou profundamente tocado com as mensagens do Senhor. Compreendeu claramente que o caminho da desobediência traria terrível calamidade sobre a nação. Por outro lado, viu nesse volume um tesouro de conhecimento, um poderoso aliado na obra de reforma que tanto desejava ver executada na terra. Resolveu andar na luz dos seus conselhos, e também fazer tudo que estivesse em seu poder para familiarizar seu povo com seus ensinos, e levá-los, se possível, a cultivar reverência e amor pela lei do Céu.
Seria, porém, possível levar a efeito a necessitada reforma? De tudo que ele pôde aprender da leitura do volume na sua presença, Israel quase havia alcançado os limites da divina paciência; logo Deus Se levantaria para punir os que haviam desonrado Seu nome. Já a ira do Senhor estava inflamada contra o povo. Oprimido pela tristeza e desânimo, Josias rasgou seus vestidos, e se prostrou perante Deus em agonia de espírito, suplicando perdão para os pecados de uma nação impenitente.
Por esse tempo vivia em Jerusalém, próximo do templo, a profetisa Hulda. Ainda que Jeremias, Habacuque e Sofonias tenham desenvolvido ministérios proféticos durante o reinado de Josias, o coração do rei, carregado de ansiosos pressentimentos, voltou-se para ela, determinado a interrogar o Senhor por intermédio desta mensageira escolhida, para saber, se haveria alguma possibilidade, por qualquer meio que estivesse ao seu alcance, de evitar a iminente destruição de Jerusalém e o anunciado castigo de Judá.
A gravidade da situação, e o respeito que ele tinha pela profetisa, são demonstrados na escolha dos mensageiros que foram enviados. Não apenas o sacerdote Hilquias, mas outros homens que estavam entre os primeiros de maior importância no reino. “Vão”, ordenou o rei, “consultem o Senhor por mim, pelo povo e por todo o Judá. Perguntem a respeito das palavras escritas neste livro que foi encontrado. A grande ira do Senhor arde contra nós, pois nossos antepassados não obedeceram às palavras deste livro. Eles não fizeram tudo que ele diz que devemos fazer” (II Rs 22:13).
Hulda, uma das quatro profetisas citadas nominalmente no Antigo Testamento, não se deixa envaidecer com a chegada dos mensageiros do rei, muito menos se abstém de falar a verdade revelada por Deus. Como uma mãe que procura orientar o filho sobre as consequências de seus atos de desobediência, manda dizer ao rei exatamente o que está para acontecer – e as notícias não são as melhores. A nação foi condenada por causa da iniquidade do povo. Seguiram o caminho que os levou na direção contrária àquela planejada pelo Eterno e endureceram o coração. Tornaram-se idólatras e rebeldes, agora não havia mais o que fazer para evitar o mal que eles mesmos atraíram para si. Mas o rei, por seu diligente esforço, seria poupado de ver o cumprimento desta profecia.
Ainda que apenas dois únicos versos na Bíblia, com a mesma informação, mencionem o nome desta mulher, fica registrado o valor de Hulda na história de Israel. Mesmo que tenha sido contemporânea de outros profetas, como Jeremias, Habacuque e Sofonias, foi escolhida pelo rei para orientá-lo naquele momento tão crítico da história de Judá, e o que é melhor, estava preparada para responder à altura de sua responsabilidade. Com a firmeza e a autoridade de uma mãe que busca em Deus a orientação segura para a educação de seus filhos, Hulda não abre mão de cumprir seu papel de falar a verdade, ainda que ela pudesse causar algum tipo de frustração ao rei. Estou certo de que o Senhor continua contando com uma multidão de Huldas, espalhadas por este planeta, cuja missão é alertar Seu povo dos perigos ligados a uma vida de rebeldia e desobediência às leis de Deus. Ainda que ilustres anônimas, essas mulheres cumprem seu papel com responsabilidade tal, que têm contribuído com a mudança na vida, e o ajuste na rota, de muitos filhos de Deus que seguem na direção contrária da salvação. O desejo do meu coração é que você leitora, seja uma delas!

Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.