Não é muito difícil encontrarmos pessoas que, vez por outra, faz algum tipo de gracejo com a relação nora e sogra, ou sogra e genro. No entanto, o que vemos na história de Rute e Noemi é algo tremendamente diferente. Noemi, que saíra de sua terra natal por causa da forte seca que trouxe fome ao seu país, viveu dez anos em terras moabitas, onde viu seus filhos se casarem com duas jovens da terra, mas também teve o dissabor de perdê-los, bem como seu esposo.
Uma década depois, soube que a fartura estava de volta à terra de Judá, e decidiu que era hora de voltar para recomeçar sua vida, como fosse possível, junto ao seu povo e sua família. Tentou convencer suas noras de permanecerem em Moabe, mas Rute tinha outros planos. Sua decisão, e a maneira como responde resolutamente sua sogra, demonstram uma devoção que revela os belos traços de caráter tanto dela quanto de Noemi. Decidiu romper com todos os laços familiares e éticos para acompanhar a estimada sogra. Imagino que ao contemplar pela última vez os campos férteis de sua pátria, como argumento final de sua decisão profunda demonstração de afeto, Rute exclamou: “O teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus’ (Rt 1:16). Então, pôs-se rumo a uma terra estranha, unindo-se com o verdadeiro povo de Deus e tornando-se Sua fiel adoradora.
“Não insista comigo para deixá-la e voltar. Aonde você for, irei; onde você viver, lá viverei” (Rt 1:16). Estas palavras brotam de lábios totalmente decididos e comprometidos com a pessoa a quem as palavras se dirigem. A resposta se torna, de certa forma, a expressão mais poderosa de todo o relato. Ao que vemos, não é apenas por ter algum tipo de carinho, respeito ou afeto por Noemi que Rute se mostra tão decidida. A jovem certamente havia encontrado, nos laços familiares daquela gente vinda de Israel, algo muito especial. A maneira como se comportavam era muito diferente, e Rute queria o pacote completo. Como, infelizmente, perdera seu marido, tornando-se viúva muito cedo, permaneceria ligada à sua sogra, fosse ela para onde decidisse ir, a fim de conhecer melhor o Deus de Israel.
Para que não haja dúvidas de sua intenção, e para que Noemi compreenda quão consciente ela está das implicações de sua decisão, Rute declara, categoricamente: “Onde você morrer, ali morrerei e serei sepultada. Que o Senhor me castigue severamente se eu permitir que qualquer coisa, a não ser a morte, nos separe!” (Rt 1:17). Usando o nome sagrado do Deus de Noemi, e senhor de seu povo, Rute invoca o castigo do Eterno caso algo, além da morte, provocasse a separação entre as duas. Decidira estar ligada à sua sogra por toda a vida, não importava o que pudesse acontecer, ou o quanto isso lhe custaria em termos de perdas pessoais, saudade de sua família e povo, ou a mudança de costumes e cultura.
Rute estava disposta a suportar toda e qualquer prova, para demonstrar que, em seu coração, graças ao bom testemunho de sua sogra, e da família dela, já se considerava mais judia do que moabita. Sabia que sua felicidade, agora, dependia da possibilidade de poder acompanhar Noemi, e conhecer melhor o Deus de Israel. Rute é também uma prova de que conhecer o Eterno pode proporcionar uma qualidade ainda maior nos laços familiares, raciais e culturais. A história dessa jovem viúva e sua sogra, me mostra que quando decido aceitar a Cristo, como meu salvador, Ele me ajuda a compreender que não há distinção de classe social, cor de pele, origem étnica ou conhecimento específico, no coração de Deus. Somos declarados Seus filhos, e como irmãos que somos, precisamos, a todo custo, estreitar nossos laços de irmandade e unir os corações na expectativa de alargar as fronteiras do Reino.
A dedicação de Rute à sua sogra fez com que ela se tornasse uma das progenitoras de Davi; grande rei de Israel; de Salomão, o homem mais sábio que já existiu; de Zorobabel, que, à exemplo de Moisés, liderou o êxodo dos judeus de Babilônia à Palestina. Rute, como Raabe, tem seu nome escrito e lembrado na genealogia de Cristo. Definitivamente, é uma história repleta de magníficos exemplos de fé, piedade, humildade, diligência e amabilidade, reveladas em eventos comuns da vida. A história de Rute pode ser, de certa forma, a minha história. Pode ser a sua história. Tudo depende, claro, do quanto estou disposto a “investir” nessa minha relação com Deus; depende do compromisso que estou disposto a assumir com Ele e a realidade plena do Reino. Depende do quanto estou disposto a me deixar ser orientado pelo Espírito.
Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.