maravilhado
“Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite.” Salmo 19:1-2
Em seu livro Lendo os Salmos, C. S. Lewis, falando sobre o salmo 19, escreveu: Eu o considero o maior de todos os poemas do Saltério e um dos melhores poemas líricos do mundo”. Considerando que Clive Staples Lewis (1898-1963) foi um escritor, professor e crítico literário britânico que ficou conhecido por seu trabalho sobre literatura medieval, por suas palestras e escritos cristãos, bem como pela série de sete livros de ficção e fantasia intitulada “As Crônicas de Nárnia”, sua predileção pelo salmo 19 certamente nos provoca, no mínimo, curiosidade. Fato é que este salmo é realmente muito especial, e por essa razão, daremos a ele um pouco mais de atenção, fazendo de suas linhas e versos, nosso objeto de reflexão desta semana.
É importante notar que há uma clara divisão na apresentação deste salmo. Os primeiros versos (v. 1-6) tratam de apresentar a glória de Deus revelada através de Suas obras; Deus se apresenta à toda humanidade como o Grande Criador. Nos versos seguintes (v. 7-11) o salmista fala da glória de Deus demonstrada na lei e como Deus se apresenta a Seu povo como Soberano Legislador. A última parte (v. 12-14), estabelece uma relação entre tudo o que foi anunciado e a decisão do ser humano em andar nos caminhos do Senhor, mantendo-se alinhado ao plano estabelecido por Deus. Se na primeira parte o salmista reconhece o poder criador do Eterno, e na segunda a autoridade de suas leis e estatutos, na última parte do poema o encontramos orando a Deus, para manter-se sob os paternais cuidados do Criador.
É provável que o filósofo Immanuel Kant estivesse pensando no Salmo 19 quando escreveu: “Há duas coisas que enchem a minha alma de santa reverência e maravilha sempre crescente: o espetáculo do céu estrelado que praticamente nos aniquila como seres físicos, e a lei moral que nos eleva a uma dignidade infinita como agentes inteligentes”. Ainda considerando este grande espetáculo natural, Ellen White escreveu: “A natureza e a Revelação, ambas dão testemunho do amor de Deus. Nosso Pai celeste é a fonte de vida, de sabedoria e de felicidade. Contemplai as belas e maravilhosas obras da natureza. Considerai a sua admirável adaptação às necessidades e à felicidade, não só do homem, mas de todas as criaturas viventes. O sol e a chuva, que alegram e refrigeram a terra; as colinas, e mares e planícies – tudo nos fala do amor de quem tudo criou”.
Se pudéssemos investir todo o tempo explorando cada detalhe de tudo que está a nossa volta, uma vida inteira não seria suficiente para esgotarmos nossa curiosidade. Cada nova descoberta nos levaria a querer saber mais a respeito do nosso objeto de estudo, e uma busca sincera e consciente, certamente nos aproximaria ainda mais do Criador. Nosso problema, no entanto, é que temos considerado comuns os encantadores espetáculos planejados por Deus para declarar-Se a nós. Em outros momentos, assumimos tantos compromissos que neutralizamos as possibilidades de acompanhar tais declarações diárias de amor.
Ouvi, certa vez, a história de uma jovem de dezesseis anos, que vivera todo esse tempo, quase impossibilitada de ver. Após ser submetida a uma delicada intervenção cirúrgica, recuperou, finalmente a sua visão. Certa noite, alguns dias depois de deixar o hospital, indo ao alpendre de sua casa, voltou de lá muito admirada, quase em êxtase. Queria que todos os seus familiares fossem ver as maravilhas que estavam no céu. Saíram todos apressados imaginando que veriam, alguma coisa sensacional, ou um espetáculo diferente. Lá chegando, aquela mocinha extasiada, apontava as estrelas e interrogava: “Que são aquelas joias prateadas, lá no firmamento?” E os familiares, até certo ponto decepcionados, responderam: “São só estrelas! Estão lá todas as noites. Pensamos que fosse alguma novidade.”
Para os que sempre puderam ver, as estrelas não passam de coisas comuns, mas para aqueles que viveram longos anos nas trevas da cegueira, elas são joias lindíssimas, adornando a vastidão dos céus – e isso tudo avaliando apenas as estrelas!
Davi não apenas reconhecia o valor disso tudo, como ao compor o salmo tinha a clara intenção de torná-lo conhecido de todos os que tivessem contato com este belo poema, e por isso cuidou de lembrar: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite. Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo. Nos céus ele armou uma tenda para o sol, que é como um noivo que sai de seu aposento, e se lança em sua carreira com a alegria de um herói. Sai de uma extremidade dos céus e faz o seu trajeto até a outra; nada escapa ao seu calor.” (Sl 19:1-6).
Marcilio Egidio
Esposo, pai e pastor – nessa ordem. Eterno aprendiz da arte de servir. Alguém que decidiu colecionar os melhores amigos que a vida pode oferecer.